O gênero narrativo é um relato de um enredo imaginário ou não, situado num lugar e tempo determinados, envolvendo mais de um personagem. Para saber mais sobre esse gênero, confira o artigo que o Estratégia Militares preparou para você!
Nas composições desse gênero o enredo é transmitido ao leitor por um narrador que adota um determinado ponto de vista, também chamado foco narrativo.
Ele apresenta algumas possibilidades. O narrador pode ser um dos personagens que compõem a cena (narrador-personagem) ou um observador externo às ações (narrador-observador).
A voz narrativa pode ainda demonstrar um pleno e total conhecimento dos episódios que são narrados, incluindo os sentimentos íntimos e pensamentos dos personagens. Quando isso ocorre, a voz narrativa é denominada narrador-onisciente.
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Fábula e o gênero narrativo
Narrativa de caráter didático e pedagógico, cujos personagens são animais que possuem características de seres humanos, tais como a capacidade de falar, de refletir e de criticar, entre outros.
Na fábula, o enredo busca transmitir um ensinamento, que normalmente torna-se evidente no fim das histórias, trecho em que o autor se preocupa em deixar uma lição de moral.
No Brasil, um grande escritor que se destacou na produção de fábulas foi Monteiro Lobato. Outro importante escritor que se dedicou a essas narrativas foi o carioca Millôr Fernandes, autor da fábula a seguir:
A RAPOSA E AS UVAS De repente a raposa, esfomeada e gulosa, fome de quatro dias e gula de todos os tempos, saiu do areal do deserto e caiu na sombra deliciosa do parreiral que descia por um precipício a perder de vista. Olhou e viu, além de tudo, à altura de um salto, cachos de uva maravilhosos, uvas grandes, tentadoras. Armou o salto, retesou o corpo, saltou, o focinho passou a um palmo das uvas. Caiu, tentou de novo, não conseguiu. Descansou, encolheu mais o corpo, deu tudo o que tinha, não conseguiu nem roçar as uvas gordas e redondas. Desistiu, dizendo entre dentes, com raiva: ―Ah, também não tem importância. Estão muito verdes‖. E foi descendo, com cuidado, quando viu à sua frente uma pedra enorme. Com esforço empurrou a pedra até o local em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra, perigosamente, pois o terreno era irregular, e havia o risco de despencar, esticou a pata e… conseguiu! Com avidez, colocou na boca quase o cacho inteiro. E cuspiu. Realmente as uvas estavam muito verdes! Moral: a frustração é uma forma de julgamento como qualquer outra.
Romance
O Romance é a forma narrativa em que há um desenvolvimento detalhado da ação e dos personagens, proporcionando ao leitor uma visão mais ampla das cenas representadas.
Diferentemente da novela e do conto, que contém apenas um núcleo narrativo, os romances possuem em suas estruturas vários agrupamentos ou núcleos, sendo eles:
- o enredo principal: no qual são narrados os episódios em que estão inseridos os protagonistas, e
- as cenas secundárias: envolvendo os demais personagens.
Conto
É a forma narrativa tradicionalmente breve, concisa. Por isso, o enredo possui apenas um núcleo narrativo e foca apenas no que é essencial, deixando de lado muitos detalhes acerca dos episódios retratados.
Além disso, apresenta um número reduzido de personagens, diferenciando-se, nesse aspecto, dos romances.
Na literatura brasileira, muitos autores consagraram-se como grandes contistas, tais como Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Murilo Rubião.
Nas últimas décadas, merecem destaque os contos do escritor mineiro Luiz Vilela, autor do texto a seguir, o qual exemplifica a brevidade estilística dessa narrativa:
NINGUÉM A rua estava fria. Era sábado ao anoitecer mas eu estava chegando e não saindo. Passei no bar e comprei um maço de cigarros. Vinte cigarros. Eram os vinte amigos que iam passar a noite comigo. A porta se fechou como uma despedida para a rua, mas a porta sempre se fechava assim. Ela se fechou com um som abafado e rouco. Mas era sempre assim que ela se fechava. Um som que parecia oadeus de um condenado. Mas a porta simplesmente se fechara e ela sempre se fechara assim. Todos os dias ela se fechava assim. Acender o fogo,esquentar o arroz, fritar um ovo. A gordura estala e espirra ferindo minhas mãos. A comida estava boa. Estava realmente boa, embora tenha ficado quase a metade no prato. Havia uma casquinha de ovo e pensei em pedir-me desculpas por isso. Sorri com esse pensamento. Acho que sorri. Devo ter sorrido. Era só uma casquinha. Busquei no silêncio da copa algum inseto mas eles já haviam todos adormecido para a manhã de domingo. Então eu falei em voz alta.Precisava ouvir alguma coisa e falei em voz alta. Foi só uma frase banal. Se houvesse alguém perto diria que eu estava ficando doido. Eu sorriria. Mas não havia ninguém. Eu podia dizer o que quisesse. Não havia ninguém para me ouvir. Eu podia rolar no chão, ficar nu, arrancar os cabelos, gemer, chorar, soluçar, perder a fala, não havia ninguém para me ver. Ninguém para me ouvir. Não havia ninguém. Eu podia até morrer. De manhã o padeiro me perguntou se estava tudo bom. Eu sorri e disse que estava. Na rua o vizinho me perguntou se estava tudo certo. Eu disse que sim e sorri. Também meu patrão me perguntou e eu sorrindo disse que sim. Veio a tarde e meu primo me perguntou se estava tudo em paz e eu sorri dizendo que estava. Depois uma conhecida me perguntou se estava tudo azul e eu sorri e disse que sim, estava, tudo azul.
Crônica
É o gênero híbrido que transita entre a literatura e a informação, entre a notícia e o artigo de opinião.
Difundida em jornais, a crônica obteve por muito tempo, por parte da crítica literária, o estatuto de gênero “menor”, uma vez que o veículo comunicativo por meio do qual era divulgada permitia certa “descartabilidade” do texto após a leitura.
No entanto, em fins do século XX, o gênero passou a ser publicado, em coletâneas, no formato livro e adquiriu mais prestígio por parte dos estudiosos da literatura.
Regida por um princípio multiforme e pela linguagem metacrítica, frequentemente utilizados na poesia, a crônica também permite a reflexão sobre sua própria elaboração, classificação e confluências.
No Brasil, muitos escritores se destacaram na escrita de crônicas, como Clarice Lispector, Carlos Heitor Cony, Fernando Sabino e, principalmente, Rubem Braga.
Novela
É uma narrativa de menor extensão do que o romance e possui, em sua estrutura, apenas um núcleo narrativo. Diferencia-se dos contos por apresentar um maior desenvolvimento de enredo e um maior número de personagens.
No Brasil, merecem destaque as novelas A hora da estrela, de Clarice Lispector, e Um copo de cólera, de Raduan Nassar. É importante que não se confunda novela com telenovela, que se enquadra do gênero dramático.
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Referências
- FERNANDES, Millôr. Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro: Nórdica, 1991. p. 118. Disponível em: https://livroerrante.blogspot.com/2021/04/fabulas-de-esopo-segundo-millor.html
- VILELA, Luiz. Tremor de terra. 8. ed. São Paulo: Publifolha, 2003. p. 121. Disponível em: https://coracao-em-retalhos.tumblr.com/post/54959475951/ningu%C3%A9m-luiz-vilela