Luís Vaz de Camões é um dos maiores poetas da língua portuguesa de todos os tempos. Para saber mais, confira esse artigo, que o Estratégia Militares preparou para você!
Considerado como o “Homem do Renascimento”, Camões encontrou no pensamento idealista de Platão um modelo de expressão de sua própria poesia.
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Camões e o Platonismo
Eis uma formulação muito sintética do Platonismo:
As pessoas concretas movem-se no mundo sensível, que é apenas uma cópia imperfeita do que o filósofo chama de mundo de ideias, que existe plenamente na esfera inteligível, ideal.
Por exemplo, qualquer indivíduo humano participa da ideia de homem, que está na esfera inteligível. Para o Platonismo, as experiências deste mundo terrestre são enganosas, cópias imperfeitas. Somente no trato das ideias é que se pode atingir a verdade.
Portanto, sábio é o que submete o sensível ao inteligível. A beleza do mundo nos encanta porque sentimos saudade da beleza perfeita, que reside no mundo das ideias.
Veja as duas primeiras estrofes de um dos mais belos sonetos camonianos:
Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida, descontente, Repousa lá no Céu eternamente E viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento etéreo, onde subiste, Memória desta vida se consente, Não te esqueças daqueles amor ardente Que já nos olhos meus tão puro viste. [...] CAMÕES, Luís Vaz de. Redondilhas e sonetos de Camões. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1966. p. 112.
As duas estrofes citadas são compostas de versos decassílabos, com um esquema de rimas “ABBA”. As rimas do tipo A são alternadas e as de tipo B, emparelhadas.
Lendo esses oito versos à luz do Platonismo, pode-se reconhecer em “lá no céu” a matriz da verdade, da pureza e da perfeição e em “cá na terra”, uma espécie de exílio cheio de angústia.
O sujeito poético aspira poder chegar onde está a amada. Observa-se, ainda, nos versos citados, a tensão entre carnalidade (“amor ardente”) e espiritualidade (“tão puro”), muito presente nos textos do Classicismo.
Mas o melhor exemplo de aclimatação dos símbolos platônicos ao mundo cristão está nas redondilhas de “Babel e Sião”, em que a Babilônia representa o “mal presente” e Sião, o “bem passado”.
No Platonismo, acredita-se que a pessoa, ao nascer, traz para a Terra uma lembrança da pátria perfeita inteligível, de onde veio. Veja a seguinte estrofe:
[...] Mas ó tu, terra de Glória, Se eu nunca vi tua essência, Como me lembras na memória, Senão na reminiscência. [...] CAMÕES, Luís Vaz de. Redondilhas e sonetos de Camões. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1966. p.12.
A “terra de Glória” de Camões corresponde à “esfera inteligível” de Platão. A alma veio de lá e tem saudade dessa “santa cidade”. A composição “Babel e Sião” inspira-se no Salmo 137 de Davi, no qual se lê que os judeus, desterrados na Babilônia, choram o tempo da vida feliz em Sião, Jerusalém, terra deles. Camões também canta o bem passado e lamenta o mal presente.
Um dos temas mais comentados da lírica camoniana é o do “desconcerto do mundo”. As coisas não são ordenadas, corretas e justas, mas contraditórias, incoerentes e injustas. Há um poema de dez versos (uma décima), composto de redondilhas maiores, que trata desse tema, a partir do título.
Ao desconcerto do mundo Os bons vi sempre passar No mundo graves tormentos; E para mais me espantar, Os maus vi sempre nadar Em mar de contentamentos. Cuidando alcançar assim O bem tão mal ordenado, Fui mau, mas fui castigado. Assim, que, só para mim Anda mundo concertado. CAMÕES, Luís Vaz de. Redondilhas e sonetos de Camões. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1966. p.86.
A voz poética percebe e denuncia as injustiças do mundo. Se o mundo “anda concentrado” só para ele, é ele que está desconcertado em relação ao mundo. A saída que o poeta encontrou nos versos citados é o humor, a libertação pelo sorriso dolorido.
Petrarca e a mimese
Em 1304, nasce na Itália, Petrarca. Toda a poesia amorosa moderna tem sua origem nesse poeta italiano. Os poetas portugueses Sá de Miranda e Camões beberam diretamente na fonte petrarquista.
Veja a seguir as estrofes de Petrarca e de Camões. Trata-se de um exemplo de mimese, o princípio clássico da imitação, embora com um sentido de aprimoramento e não de cópia servil.
A alma minha gentil que agora parte Tão cedo deste mundo à outra vida, Terá certo no céu grata acolhida, Indo habitar sua mais beata parte. PETRARCA. Poemas de amor. Apresentação de Alexei Bueno. rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1998. p. 27. Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida, descontente, Repousa lá no Céu eternamente E viva eu cá na terra sempre triste. CAMÕES, Luís Vaz de. Redondilhas e sonetos de Camões. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1966. p.112. Curtiu o artigo? Então continue navegando pelo Portal Estratégia Militares! Aproveite e clique no banner abaixo para estudar com o Estratégia Militares. Vem ser coruja!
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