Focos de tensão na África: saiba mais sobre o Sudão e o Sudão do Sul

Focos de tensão na África: saiba mais sobre o Sudão e o Sudão do Sul

A grande quantidade de riquezas, a diversidade étnico-religiosa e a colonização europeia compõem as raízes dos conflitos no continente. Confira nesse artigo que o Estratégia Militares preparou para você muitas informações sobre o Sudão e o Sudão do Sul.

Atualmente, o crescente interesse da China e dos Estados Unidos nos recursos naturais da África – especialmente o petróleo e o gás natural – somado às divergências religiosas, culturais e étnicas presentes na maioria dos países, são motivos que colaboram para a manutenção de um permanente estado de tensão.

 Separatismo no Sudão

O Sudão localiza-se ao sul do Egito e é cenário de uma das mais impressionantes crises humanitárias da atualidade. O país é constituído por 19 grupos étnicos principais e 597 subgrupos que falam mais de 100 dialetos. Além disso, imigrantes da Etiópia, do Chade, da Eritreia e de Uganda completam a variedade cultural. 

A elite econômica da região norte do Sudão sempre dominou o governo, deixando marginalizados os povos de todas as outras regiões.

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Conflitos internos entre árabes e africanos

O Sudão tem uma história de conflitos entre o sul e o norte do país que resultaram na Primeira (1956-1972) e na Segunda (1983-2002) Guerras Civis Sudanesas.

A primeira Guerra Civil Sudanesa (1962-1972) ocorreu em função da tentativa do ditador Ibrahim Abboud de forçar a islamização do sul. Como forma de pôr fim ao conflito, foi assinado um acordo de paz dando autonomia à região.

O segundo conflito sudanês, que ocorreu de 1983 a 2002, eclodiu quando o governo da Frente Nacional Islâmica, do norte do país, enfrentou o Movimento de Libertação do Povo do Sudão e outros grupos rebeldes do sul. Tal conflito foi um dos mais sangrentos do país e levou à morte cerca de dois milhões de pessoas.

Aproximadamente 400 mil refugiados e quatro milhões de sudaneses perderam suas casas, formando a maior população de refugiados internos do mundo.

Em 2004, depois de vinte anos de conflitos, o norte e o sul do país assinaram um acordo de paz que garantiu mais autonomia à região sul.

Darfur

Darfur é palco de conflitos cuja origem encontra-se atreladas a motivos étnicos e a disputas por terra, por recursos hídricos, por petróleo e por poder. A região envolve uma pequena parcela de árabes nômades criadores de animais e uma maioria de agricultores de tribos negras, como os Furos Massalote e o Zaghawa. Isso indica que a tensão não é resultado apenas do choque étnico entre árabes e tribos africanas.

Início do conflito em Darfur

O conflito em Darfur teve início em fevereiro de 2003, quando grupos armados surgidos nas tribos negras da região deram início a um movimento separatista. Eles acusavam o governo central do Sudão de ser negligente, opressor e discriminador da maioria negra em favor da minoria árabe.

O conflito permaneceu por meses longe dos olhos e dos interesses das organizações internacionais. Diferentemente da Segunda Guerra Civil Sudanesa, entre 1983 e 2002, que opôs o norte muçulmano ao sul cristão e animista, em Darfur, não se trata de um conflito religioso, pois a maioria da população é muçulmana, inclusive os Janjaweed – milícia árabe tribal.

Trata-se, sobretudo, de um conflito etnocultural que se iniciou por motivos políticos e ganhou contornos raciais ao longo dos últimos anos.

O governo sudanês reagiu com violência à ação dos separatistas, ligados à maioria agrícola, e apoiou-se nos Janjaweed, que iniciaram uma ação de limpeza étnica. Eles mataram milhares de agricultores, realizaram ataques indiscriminados, aplicaram torturas, forçaram-nos a migrar, cometeram estupros, pilharam e destruíram aldeias inteiras.

Na ocasião, centenas de vilas e pequenos povoados na região de Darfur foram absolutamente destruídos e queimados. Com isso, passou a haver uma forte pressão internacional sobre o governo sudanês para desarmar os Janjaweed. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), até 2015, o conflito provocou mais de 300 mil mortos e cerca de 2,6 milhões de refugiados.

Influência chinesa e o fator petróleo

Um importante personagem do conflito em Darfur é a China, principal parceiro comercial do Sudão e seu maior investidor estrangeiro. Nos últimos anos, o Conselho de Segurança da ONU enviou uma força de paz para atuar com a União Africana, mas essa tropa não possui autoridade para desarmar as milícias.

Essa regalia, concedida ao governo de Cartum, foi conseguida graças às pressões da China, que fez do país seu principal projeto petrolífero no exterior, comprando cerca de 60% da produção de petróleo do Sudão.

A China usou, por muito tempo, sua posição diferenciada na ONU, exercendo seu poder de veto no Conselho de Segurança para evitar ações contra o governo sudanês, em nome da manutenção do comércio do petróleo, e também forneceu, por muito tempo, armas ao país, mesmo sabendo que muitas delas acabam nas mãos dos Janjaweeds.

Diante do conflito, a situação da população sudanesa tem piorado muito nos últimos anos, uma vez que seu governo não permite a entrada de agências internacionais, seja para monitoramento ou para ajuda humanitária, de forma que milhares de pessoas podem vir a morrer de fome ou de doenças decorrentes da má condição de vida

Sudão do Sul

O sul do Sudão se considera muito diferente do norte em relação à cultura, à religião e à etnia, e, por isso, almejava a separação, pois alega ter sofrido anos de discriminação.

O sul possui 20% do território, 25% da população, é recoberto por estepes, savanas e florestas tropicais. Ele é habitado por africanos negros não islamizados de diversas etnias e que professam o cristianismo e outras religiões africanas tradicionais, animistas em sua maioria. Já o norte é basicamente desértico, com população de negros islâmicos e arabizados, embora existam diversas outras etnias na região.

Separação territorial do Sudão

O Sudão, em outras palavras, representa um retrato fiel do território africano, já que não há país nesse continente que não seja multiétnico ou composto de várias etnias nômades que atravessam fronteiras nacionais.

Após décadas de conflito entre o norte e o sul, um plebiscito, realizado em janeiro de 2011, definiu pela divisão do país. A votação já estava prevista no acordo de paz que encerrou a guerra civil entre o norte e o sul do país, firmado em 2005.

O resultado final do referendo, aceito pelo presidente sudanês, Omar Al-Bashir, mostrou que a maioria dos eleitores votaram pela criação de um novo país no sul.

Observadores internacionais temiam pela não aceitação do resultado por parte de Omar Al-Bashir e desconfiavam de sua postura que, em alguns momentos, soava duvidosa em função ao seu passado de crimes na região. 

Sua cooperação foi interpretada por alguns estudiosos como uma barganha, pois Bashir almejava retirar o Sudão da lista estadunidense de países que patrocinam o terrorismo além de se livrar da ordem de captura do Tribunal Penal Internacional. Essa posição desfavorável fazia com que o Sudão fosse  alvo de uma série de embargos internacionais.

Porém, essas são apenas especulações que poderiam ajudar a compreender a mudança repentina no comportamento do ditador.

Desafios no Sudão

O acordo de paz firmado em 2005 também estabeleceu que os rendimentos com a exportação de hidrocarbonetos serão divididos de forma igualitária entre as porções setentrional e meridional do território sudanês.

Com a divisão em dois novos países, foi necessária uma renegociação desse ponto do acordo, já que os hidrocarbonetos e a logística de escoamento se encontram distribuídos de forma desigual no território. 

A maior parte das reservas de gás e de petróleo se encontram na porção sul e a infraestrutura de refino e de transporte na porção norte – inclusive o porto Sudão, tendo em vista que a exportação necessita de acesso ao Mar Vermelho.

Esse fato, sem dúvida, constitui um ponto de grande fragilidade, o que obrigou os dois novos países a estabelecerem uma cooperação econômica, pois uma guerra para definir essa questão não seria interessante para nenhuma das partes.

Fatores envolvidos na independência do Sudão do Sul

A definição das fronteiras constitui um ponto delicado. Na área fronteiriça está situado o distrito de Abyel, reivindicado pelas duas partes e potencial foco de conflito. Na época do referendo de separação dos territórios, não houve consenso na votação para decidir de quem seria o distrito e a questão continua em aberto.

Há também outras questões importantes a serem tratadas, como a divisão dos recursos hídricos do Nilo e a concessão de cidadania. Omar Al-bashir, por exemplo, ameaçou anular a cidadania de cerca de 1,5 milhão de sudaneses do Sul que se mudaram para o norte durante as guerras civis.

Se são muito diferentes quanto às condições naturais, culturais e humanas, as duas regiões são muito parecidas quanto à condição socioeconômica. Apesar de ser rico em petróleo, o Sudão do Sul é uma das regiões menos desenvolvidas do planeta. Tal qual a maioria dos países da África Subsaariana, os dois países são marcados por uma pobreza extrema.

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Referências

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