Focos de tensão: o genocídio de Ruanda e o apartheid na África do Sul

Focos de tensão: o genocídio de Ruanda e o apartheid na África do Sul

Ruanda foi palco do maior genocídio da década de 1990, e um dos maiores e mais rápidos do mundo. Na África do Sul, o apartheid provocou diversas rupturas na sociedade. Confira nesse artigo, que o Estratégia Militares preparou para você, mais informações desses países.

A região dos Grandes Lagos, localizada na parte central do continente, era habitada há séculos por pigmeus e hutus, povo Bantu da Bacia do Rio Congo. No século XV, o povo tutsi, invadiu o local e impôs seu domínio sobre os hutus, apesar destes serem mais numerosos.

História dos tutsis e hutus em Ruanda

Em 1899, a Alemanha declarou Ruanda um território sob sua proteção. Mas, com a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial, os belgas ocuparam o país e, em um primeiro momento, transformaram os tutsis na elite do território, dando-lhes poder político, econômico e militar.

Contudo, na década de 1950, os belgas destituíram os tutsis da elite de Ruanda e  favoreceram a formação de uma elite hutu. Dessa forma, alimentaram a rivalidade entre as duas etnias a fim de destruir o sentimento de pertencimento ao território ruandês e de nação, para que pudessem dominá-los facilmente.

Em 1962, Ruanda tornou-se independente sob a liderança dos hutus. No entanto, a independência trouxe consigo muitos anos de instabilidade. O governo, nesse período, tomou várias medidas de repressão contra os tutsis, que se exilaram em países vizinhos.

A partir de 1990, uma série de problemas climáticos e econômicos geraram conflitos internos, conduzindo o país a uma guerra civil. Os tutsis, exilados, formaram a Frente Patriótica Ruandesa (FPR) e lançaram ataques contra o governo hutu, a fim de conquistarem o direito de retornar ao país, mas os ataques não alcançaram o objetivo inicial. 

A FPR e o governo tentaram acordos sem sucesso, e os tutsis passaram a ser perseguidos. O conflito se espalhou por Burundi e pela República Democrática do Congo, que também possuem uma grande quantidade de tutsis e hutus em seus territórios.

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Atentado contra o Presidente de Ruanda

Em 6 de abril de 1994, o então presidente ruandês, Juvenal Habyarimana, e o presidente de Burundi, Cyprien Ntaryamira, país vizinho a Ruanda, foram assassinados em um atentado terrorista. O avião em que viajavam foi atingido por um míssil, quando aterrissava em Kigali, capital de Ruanda, retornando da Bélgica, onde foram pedir ajuda humanitária.

Esse episódio foi o estopim para desencadear uma era de muita violência no território ruandês. Os hutus, enfurecidos e incitados via rádio – a Rádio Télévision Libre des Mille Collines, dirigida pelas facções hutus mais extremas -, iniciaram os atentados violentos. O rádio foi um meio importante para fomentar o assassinato dos tutsis.

Genocídio dos Tutsis

Em 100 dias de conflito, cerca de um milhão de pessoas da etnia tutsi foram assassinadas a golpes de facão. Esse foi o maior genocídio da década de 1990 no mundo. 

Sob o comando do tutsi Paul Kagame, a FPR ocupou várias partes do país e, em 4 de julho, as tropas ingressaram na capital, Kigali, enquanto as forças militares de manutenção da paz francesas ocupavam o sudoeste do país, durante a Opération Turquoise.

Resultados do conflito em Ruanda

O conflito em Ruanda foi retratado no filme “Hotel Ruanda”, que conta um trecho da história do hutu Paul Rusesabagina, o qual era gerente do Hotel Mille Collines e abrigou mais de mil tutsis. O Conselho de Segurança da ONU, por meio da Resolução 955, em 08 de novembro de 1994, criou o Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR), com o objetivo de julgar os assassinos.

Esse conflito gerou cerca de um milhão de mortes e 2,3 milhões de refugiados. Ainda se trabalha para julgar os culpados pelos massacres de Ruanda. Até 2001, três mil pessoas já haviam sido julgadas, com 500 delas condenadas a penas máximas.  

Reeleições após o genocídio em Ruanda            

Nas eleições de 2003, Paul Kagame obteve 95% dos votos para a presidência,derrotando três adversários hutus. Após o pleito, cerca de dois milhões de hutus refugiaram-se na República Democrática do Congo, com medo de retaliação por parte dos tutsis. Muitos regressaram posteriormente, mas ainda conservam-se ali milícias, envolvidas na guerra civil daquele país.

Ao assumir a presidência, Kagame, o primeiro tutsi a governar Ruanda, fez questão de se definir como ruandense e não como tutsi.

Ruanda nos dias atuais

A base econômica de Ruanda ainda é frágil, mas o país tem se desenvolvido como o centro de tecnologia da informação do continente africano. A agropecuária responde por 33,6% do Produto Interno Bruto, de 13,4 bilhões de dólares. Cerca de 90% da população desenvolve atividades agrícolas em pequenas propriedades, produzindo e exportando chá e café.

O país possui poucos recursos naturais e o setor industrial é insignificante, o que dificulta seu desenvolvimento. O turismo produz uma pequena fonte de renda, graças ao Parque Nacional dos Vulcões e aos gorilas-da-montanha, que vivem nos vulcões extintos do Parque Virunga, que engloba Ruanda, Uganda e Congo.

Bandeira de Ruanda

Apesar das dificuldades enfrentadas e dos conflitos não totalmente resolvidos, Ruanda tem apresentado uma taxa de crescimento média superior a 5%, baseada, principalmente, pela abertura econômica promovida pelo país.

O apartheid na África do Sul

Quando a África do Sul foi anunciada como sede da Copa do Mundo de Futebol, em 15 de maio de 2004, toda a nação festejou. Devido ao regime de segregação racial – o apartheid, vigente entre 1948 e 1994 –, o país sofreu várias sanções da ONU e ficou impedido de participar de competições esportivas pelo mundo.

Após 32 anos excluída da participação dos jogos olímpicos em razão do racismo, a África do Sul retornou às competições em 1992, nas Olimpíadas de Barcelona.

Até 1994, a maioria negra do país ainda não possuía direitos políticos, em razão da política do apartheid. Esses direitos começaram a ser retomados em 1990, com a libertação, mediante pressões internacionais, do ativista político e ex-presidente sul-africano Nelson Mandela.

África do Sul atualmente

Atualmente, as leis do país garantem igualdade política a todos. O país elege seus presidentes democraticamente desde 1994 e a maioria das autoridades do país é negra. Apesar das vitórias políticas, a África do Sul ainda é um país marcado por enorme desigualdade social, com altos índices de pobreza e com a maior parte da riqueza concentrada nas mãos de uma minoria branca.

A África do Sul é uma nação de aproximadamente 61 milhões de pessoas de diversas origens, culturas, línguas e religiões. Há enorme predominância da população negra sobre os brancos que, apesar disso, ocupavam uma área de cerca de 87% do território do país.

O que foi o apartheid?

A política do apartheid (“separação”, em africânder) foi instituída em 1948, com a ascensão do Partido Nacional, de cunho racista, ao poder. O novo governo decretou uma série de proibições aos negros como o acesso à propriedade da terra, à participação política e o casamento entre raçãs diferentes.

A maioria negra foi segregada em áreas conhecidas como bantustões ou townships. Os bantustões podem ser caracterizados como espaços em que a maioria dos serviços básicos de sobrevivência são inexistentes, tais como saneamento básico. Essas localidades eram marcadas pela pobreza e pela grande concentração populacional.

Apesar de ter sido institucionalizado em 1948, o apartheid já vigorava na África do Sul desde 1910. Núcleos de oposição à política segregacionista foram formados, entre eles o Congresso Nacional Africano (CNA), que tinha em suas fileiras Nelson Mandela. O CNA adotava medidas como a desobediência civil em suas manifestações contra o regime. Por suas ações, Mandela foi condenado à prisão perpétua em 1962.

Acuado pelas pressões externas, o país foi excluído de vários órgãos internacionais, como a ONU, por exemplo, o que comprometeu o desenvolvimento da economia. Assim, o apartheid começou a ser desmantelado na década de 1990. 

Isso culminou na sua extinção em 1994, quando ocorreram as primeiras eleições multirraciais desde a instauração do regime. Nessas eleições, Nelson Mandela, que foi libertado em 1990, foi eleito presidente da África do Sul.

Desde 1994, a África do Sul já foi readmitida em muitas organizações internacionais, das quais tinha sido banida devido à sua política segregacionista. Diversos organismos internacionais, como o Banco Mundial e a União Europeia, têm apoiado o país em projetos estruturais, políticos e sociais.  

O objetivo é a sua reestruturação e sua reinserção na comunidade mundial, já que o país herdou uma economia precária devido aos longos anos do conflito interno e às sanções externas.

O crescimento econômico não resolveu os problemas estruturais nem reverteu a concentração de renda. O país, onde a expectativa de vida é de 58 anos, ainda vive outros problemas sociais e políticos, como a criminalidade e a corrupção.

A ONU realizou uma pesquisa, no início do século XXI, na qual a África do Sul foi classificada em segundo lugar entre todos os países do mundo em assassinatos e, em primeiro, em assaltos e estupros. Tal violência permanece até os dias atuais.

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