Focos de tensão: México, Nafta e os cartéis mexicanos

Focos de tensão: México, Nafta e os cartéis mexicanos


A América Central é marcada pela presença mais intensa dos Estados Unidos, que possuem grande influência política e econômica em muitos países. Confira neste artigo, que o Estratégia Militares preparou para você, mais informações do maior país da América Central.

O México possui hoje uma relação de dependência dos Estados Unidos. Em um primeiro momento, isso possibilitou o crescimento da economia mexicana. Contudo, essa riqueza não foi distribuída para a população, gerando rebeliões como a ocorrida no estado de Chiapas e, posteriormente, no estado de Oaxaca, ambos no sul do país, a região mais pobre do México. 

Além disso, o país ainda enfrenta o grave problema do aumento das atividades do narcotráfico, principalmente na fronteira com os Estados Unidos.

Nafta, cartéis e rebeliões populares

Durante 54 anos, o México foi governado pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI). Logo no início desse governo, o país passou por um período de prosperidade, financiada pela exploração de petróleo. Contudo, no início da década de 1980, essa prosperidade diminuiu.

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As medidas adotadas pelo governo para conter a crise seguiram a linha neoliberal, privatizando estatais, promovendo a abertura comercial, a contenção dos gastos públicos, entre outras. Em 1994, com a adesão ao Nafta, o México viu a recuperação de sua economia, sem que, contudo, toda população fosse beneficiada.

O resultado foi o aumento da desigualdade social e a eclosão de revoltas nas regiões mais pobres, além da crescente expansão do narcotráfico.

Helicóptero mexicano

O estado de Chiapas

Entre os estados mexicanos, o de Chiapas é o mais pobre e um dos que apresentam os maiores índices de desigualdade social. Essa foi uma das características presentes  nessa região de economia predominantemente agrícola durante todo o século XX, localizada no sul do país.

A precariedade das condições de vida e a adoção do modelo econômico neoliberal no México foram os motivos que justificaram a revolta promovida pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), na década de 1990.

 Exército Zapatista de Libertação Nacional

O EZLN é uma organização armada mexicana de cunho político-militar. Ela tem, no componente étnico, um forte elemento de coesão e é composto de índios cuja ascendência é do povo maia, e de camponeses.

O grupo neozapatista ocupou parte de quatro municípios do estado de Chiapas, reivindicando:

  • Acesso à terra;
  • Maior autonomia política; e 
  • Processos eleitorais com menor interferência externa, o que lhe confere o seu caráter de territorialidade, sem possuir, a princípio, intenções separatistas.


Os municípios ocupados foram San Cristóbal de las Casas, Ocosingo, Altamirano e Las Margaritas – praticamente as únicas entradas para a Selva de Lacandona, zona de operação do exército rebelde. O movimento neozapatista inspirou-se na luta de Emiliano Zapata contra o regime autocrático de Porfirio Díaz, no início do século XX, que desencadeou a Revolução Mexicana, em 1910.

Porém, no tocante à distribuição das terras às massas populares, compostas de índios e de camponeses, o movimento não tinha como procedimento padrão a ocupação de grandes latifúndios, como a promovida por Emiliano Zapata e Pancho Villa no início do século passado.

O estado de Chiapas apresentou grande concentração fundiária ao longo de sua história, principalmente por não ter sido amplamente contemplado pelas reformas agrárias do governo de Lázaro Cárdenas, entre 1934 e 1940.

Objetivos do movimento

O movimento luta por melhores condições de vida e defende uma gestão democrática do território, a participação direta da população e a partilha da terra e da colheita.

As tensões se agravaram pela repressão às mobilizações sociais promovidas pelas elites mexicanas e pelo descaso com as camadas mais pobres da sociedade, que sofriam com a subnutrição, a baixa escolaridade, a concentração de renda e as dificuldades de acesso à saúde e ao emprego.

A revolta precipitou-se com a adoção do neoliberalismo na economia mexicana, que se concretizou com a entrada do país no Nafta. No dia 1º de janeiro de 1994, quando entrou em vigor o Tratado de Livre Comércio – assinado entre EUA, Canadá e México –, os neozapatistas tiveram mais visibilidade para o grande público. Eles fizeram uma manifestação com capuzes pretos e armas contra o bloco econômico.

Em Chiapas, esse acordo significou a entrada de capital no campo, ocasionando a expansão da pecuária e a desnutrição de lavouras e bosques, aumentando o desemprego e acentuando, a partir da década de 1990, problemas ambientais.

Uma das características marcantes da insurgência promovida pelo EZLN foi a incorporação de tecnologias modernas, como telefone via satélite e Internet, de forma a se obter maior visibilidade local e internacional e a agregar simpatizantes à sua causa, sendo um dos pioneiros em mobilizações por esses meios de comunicação. Mesmo assim, esse grupo é considerado parte do largo movimento antiglobalização.
As negociações com o governo levaram ao reconhecimento das reivindicações do grupo, criando uma solução pacífica para o levante.

Cartéis mexicanos e narcotráfico

Sete grandes cartéis controlam o narcotráfico do México até os Estados Unidos. Essas organizações lutam entre si e todas são combatidas por cerca de 50 mil agentes do Exército mexicano em um conflito que já fez mais de 28 mil mortos desde dezembro de 2006.

Desde então, o presidente mexicano, Felipe Calderón, colocou os militares nas ruas para enfrentar os cartéis, o que intensificou ainda mais a violência.

As autoridades mexicanas consideraram que o aumento da violência é resultado do sucesso da política de repressão contra o narcotráfico. A oposição política sugeriu que a escalada de violência é, na verdade, resultado do vigor dos cartéis, que se tornaram tão poderosos que chegaram a controlar certas partes do território do país, constituindo um verdadeiro poder paralelo.

Os cartéis mexicanos são responsáveis por cerca de 90% da cocaína que entra nos EUA. Segundo informações do controle de narcóticos do Departamento de Estado norte-americano, o tráfico movimenta mais de US$ 40 bilhões anualmente.

Além disso, com o aumento da repressão governamental, a ação dos narcotraficantes se expande para o sul, atingindo países vizinhos da América Central e da América do Sul, que foi, durante muitos anos, a mais importante e utilizada rota de trânsito das drogas traficadas dos Andes para o México e para os Estados Unidos.

Atualmente, os cartéis mexicanos estão comprando terras, armazenando estoques de armas e drogas e contratando membros de redes criminosas locais da América Central para ajudá-los no tráfico.

As cidades fronteiriças do norte do México correspondem ao principal cenário dessa onda de violência. Ciudad Juarez, que fica do outro lado da fronteira de El Paso, pertence ao estado do Texas (EUA), foi considerada a cidade mais violenta do mundo pelo Centro Cidadão de Segurança Pública da Cidade do México.

Polícia na fronteira do México com os EUA

No ano de 2009, foram registrados 2.293 assassinatos em Ciudad Juarez e, considerando sua população de cerca de 1,4 milhão de moradores, a taxa de homicídios chega a 130 para cada 100 mil habitantes dessa cidade. Esse número de mortes é 23 vezes maior que a taxa definida pela ONU como epidêmica. Em 2023, a cidade de Colima, no México, foi considerada a mais violenta do mundo.

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Referências

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