Reformas e Contrarreformas Religiosas

Reformas e Contrarreformas Religiosas

Vai participar dos concursos e quer saber um pouquinho mais de história? Vem com a gente! Confira esse artigo que o Estratégia Militares preparou para você sobre as Reformas e Contrarreformas Religiosas.

Origens das Reformas e Contrarreformas Religiosas

A Reforma Protestante se encontra no mesmo contexto do Renascimento Cultural: as transformações em curso na Europa. O humanismo e sua expressão quanto ao individualismo ultrapassaram as fronteiras das artes e da política para atingir as bases doutrinárias da Igreja Católica. 

A Reforma se caracteriza pela ruptura com a Igreja e a formação de outras crenças religiosas que, no seu conjunto, ficaram conhecidas como religiões protestantes. 

A Igreja Católica sofreu um alto grau de questionamentos por volta do século XV. As disputas de poder, os abusos, os desvirtuamentos da fé religiosa e a própria mudança de mentalidade da população medieval – mais adepta ao dinamismo da força econômica do comércio – provocaram movimentos por novas doutrinas religiosas. 

Nesse contexto, apareceram as Reformas Religiosas. Alguns historiadores afirmam que os reformistas estavam respondendo a todo esse processo e, assim, colocaram em xeque o poder papal, a hierarquia da Igreja Católica e seus dogmas (verdades), apontando suas limitações e a incapacidade de dar respostas para as crises que se arrastavam desde o século XIV.

Vejamos três blocos de problemas em que a Igreja estava envolvida:

  1. Problemas com a nova mentalidade mercantil – a Igreja condenava a usura (empréstimo de dinheiro a juros) e defendia o “preço justo” das mercadorias, ou seja, comercialização pelo preço do trabalho e não pela especulação do mercado. Com isso, a atividade bancária e o acúmulo de dinheiro ficavam prejudicadas. Logo, a “mentalidade econômica” da Igreja Católica tornou-se um entrave para o desenvolvimento mercantil. Os mercadores não se sentiam plenamente representados e protegidos.
  1. Problemas com debates teológicos – havia o enfrentamento de dois sistemas teológicos na Igreja: 
  • Tomismo: assumida pela cúpula da Igreja Católica. Defendia que a salvação se dava pela fé e pelas boas obras, sendo o homem possuidor do livre-arbítrio para garantir ou não sua salvação. 
  • Agostiniana: fundada no princípio da salvação pela fé e pela predestinação. O indivíduo era dotado de graça. 

      3.   Problemas com a crise moral da Igreja – havia uma desmoralização de parte do clero devido ao seu envolvimento com casos de abuso de poder que contradiziam abertamente seus discursos e pregações moralizantes, especialmente os de condenação da usura. Além disso, fazia-se a venda de bens eclesiásticos, “bentos” e venda de cargos eclesiásticos. Mas, naquele contexto, o pior elemento era a venda de indulgências. Elas existiam há muito tempo no Cristianismo e estavam relacionadas à realização de alguma obra para compensar algum pecado. O conceito foi distorcido e as boas obras foram substituídas por pagamentos aos clérigos. 

Reforma Luterana

No final da Idade Média, a centralização do poder na figura de monarcas estremeceu a relação entre a Igreja Católica e os reis.

Com o fortalecimento dos monarcas e a centralização de poder, os membros do clero, que exerciam influência sobre os reinados – principalmente se beneficiando de tributos feudais –, tiveram sua força diminuída. 

Alguns reis, ao questionarem o sistema feudal, também questionavam a vasta extensão de terras da Igreja. Para se ter uma ideia, ela possuía 1/3 das terras no Sacro Império Romano-Germânico. 

Além disso, a Igreja Católica se apresentava como uma Instituição Universal, ou seja, acima de qualquer rei ou reino. No entanto, essa noção se chocava com a de nacionalidade, que surgia nesse momento como impulsionador da expressão do poder real. 

Também por esse motivo, muitos monarcas observavam a Igreja, com sede em Roma, como uma instituição estrangeira que tentava interferir demasiadamente nas questões internas ou nacionais.

Para você não ficar com dúvidas onde se localiza o Sacro Império e onde estavam os demais reinados na virada da Idade Média para a Idade Moderna, veja os mapas: 

A Igreja Católica também se chocou com os interesses comerciais da burguesia ascendente. Isso porque os negócios desta nova classe comercial dependiam de uma expansão que muitas vezes contrariava a mentalidade religiosa, como mencionamos anteriormente. É só lembrar no debate se a Terra era redonda ou plana, discussão que influenciava as saídas para o mar e as rotas marítimas.

Os católicos também se posicionavam contrários à usura, que eram os empréstimos de dinheiro a juros, elemento determinante para as práticas comerciais da época. 

Além disso, a questão das indulgências acentuava as críticas à Igreja Católica. Originalmente praticadas como realizações de fiéis para pagar por seus pecados no plano terreno, sua venda se transformou em um verdadeiro negócio eclesiástico. 

Essa mudança contribuiu para desmoralizar a Igreja. Isso porque parte considerável dos clérigos – de todas as hierarquias, incluindo o Papa – passou a cobrar pagamentos religiosos. 

Nessa ocasião, o papa Leão X, visando arrecadar recursos para a construção da Basílica de São Pedro, em Roma, autorizou a venda de indulgências. Assim, ele oficializou o desvirtuamento do seu sentido como caminho para a salvação.

Martinho Lutero

  • Em relação ao Sacerdócio Universal, há uma afronta ao poder da hierarquia eclesiástica que detinha, até então, o monopólio da interpretação da Bíblia. Isso conferia ao clero um superpoder. Afinal, ele poderia passar aos fiéis qual ideia lhe conviesse. Além disso, esse ponto tem um traço humanista: a capacidade do indivíduo de interpretar o mundo (inclusive religioso) por si mesmo;  
  • No que se refere à Infalibilidade única da Bíblia, há uma afronta ao poder papal, pois o Papa era considerado o único homem infalível e sua palavra tinha um caráter sagrado. Por meio da ideia de Lutero, percebemos que a única palavra é a que se extrai diretamente da escritura sagrada, logo, qualquer ser humano é falível, inclusive o papa; e
  • Por fim, a Salvação pela fé é uma crítica profunda à concepção de salvação da alma. Este tema é muito importante e acompanha não apenas o dogma católico, mas as preocupações filosóficas humanas. Martinho Lutero negava qualquer outro meio de salvação da alma que não fosse a fé em Deus.

Em resposta, em 1520 o Papa Leão X condenou Lutero, ameaçou-o de excomunhão e exigiu uma retratação pública. O manuscrito com a ordem do Papa, que foi divulgada por meio de uma bula – um tipo comum de documento daquele período -, foi queimado por Lutero publicamente. Isto foi uma afronta direta ao Papa. 

Em 1521, Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, convocou a assembleia denominada de Dieta de Worms e, nesta reunião, conseguiu, juntamente com o papado, considerar Martinho Lutero como herege. 

Apesar da condenação, ele foi abrigado por parte da nobreza e, protegido, passou a dedicar-se a traduzir a Bíblia do latim para o alemão, bem como a elaborar princípios para uma nova doutrina religiosa. Um desses nobres, Cranach, que era dono de uma prensa, chegou a distribuir 1 milhão de cópias das 95 teses de Lutero. 

No fundo, a divergência de Lutero com a cúpula da Igreja Católica possuía razões doutrinárias. De um lado, a Igreja com sede em Roma seguia o tomismo, para o qual o livre-arbítrio e as boas intenções seriam o caminho correto para a salvação. De outro, Lutero seguia a teologia agostiniana, fundada no princípio da salvação pela fé de modo que o indivíduo seria predestinado à salvação. Além disso, ele também defendia a submissão da Igreja ao Estado. 

Note que, ao propor a submissão da Igreja ao Estado, Lutero foi ao encontro dos interesses de parte da nobreza alemã que estava descontente com a influência do poder da Igreja Católica, principalmente porque ela possuía muitas terras. 

Com efeito, a força das ideias de suas ideias, além de viabilizar alianças entre os detentores de poder, também estimulou revoltas populares. Isso porque as proposições de Lutero acabavam questionando a interpretação divina da estratificação social (uma vez pobre, sempre pobre).

Em 1530 a doutrina de Lutero foi mais bem delineada por meio da Confissão de Augsburgo, a qual passou a dar forma mais acabada à Reforma Luterana.

A Confissão de Augsburgo incluía:

  • O princípio da salvação pela fé;
  • A livre leitura da Bíblia, principalmente após a tradução para o alemão (popularização da Bíblia);
  • A utilização do alemão nos cultos religiosos, e não mais o latim;
  • Supressão do clero regular, do celibato e das imagens religiosas; e 
  • Submissão da Igreja ao Estado. 

A tensão entre protestantes e católicos gerou muitos conflitos de modo que, em 1555, foi selada a Paz de Augsburgo. O acordo definiu que cada governante, nas diferentes localidades do Sacro Império Romano-Germânico, escolheria sua religião e a de seus súditos. 

Reforma Calvinista

Para Calvino, o homem estava predestinado a ser salvo ou a ser condenado à danação eterna.Os predestinados seriam os escolhidos de Deus. A partir dessa teoria, o trabalho intenso e a riqueza proveniente dele eram interpretados como sinal da salvação. Como não se sabia quem eram os salvos e os condenados, havia que se buscar e testar constantemente estes sinais. 

Tal entendimento contribui para uma “ética protestante” ou “ética ascética”. O modo de vida ascético consistia em viver constantemente uma vida metódica, racionalizada e de sacrifícios; rejeitar prazeres, e se dedicar a tudo o que de alguma forma agradasse a Deus. Essa era a forma como os calvinistas entendiam que poderiam testar a própria salvação. 

Calvino nasceu na França, em 1509. Ele pertenceu a uma família de aristocratas e contou com um benefício eclesiástico – algo como uma bolsa ou ajuda de custo – que custeou toda sua formação intelectual e sua vida material. 

Em 1533, converteu-se ao protestantismo. Foi considerado herético e precisou fugir para a Suíça. 

Em 1536, foi publicada a primeira edição da Instituição da Religião Cristã (ou Institutas), introduzida por uma carta ao rei Francisco I da França, contendo um apelo em favor dos evangélicos perseguidos. 

João Calvino viveu quase toda a vida em Genebra, ocupou cargos políticos importantes, trabalhou com refugiados religiosos que chegavam a esta cidade e se tornou Bispo na Catedral Saint Pierre. Combateu a perseguição aos protestantes, mas também perseguiu os chamados “libertinos” – aqueles que não seguiam os princípios ascéticos que pregava. 

Nesse sentido, foi um grande líder religioso do movimento que ficou conhecido como Movimento Reformado – daí a expressão Igreja Reformada. O Calvinismo deu origem ao Presbiterianismo.

Embora o luxo e a ostentação fossem moralmente condenados, havia a legitimação da poupança ou do lucro, bem como da usura e de toda a forma de riqueza como sinal da predestinação. Isso atendia às expectativas espirituais dessas classes sociais mais ricas. 

Reforma Anglicana 

A Reforma Anglicana foi impulsionada pelo rei inglês Henrique VIII e teve motivações e características distintas das reformas Luterana e Calvinista. Não havia questões doutrinárias e, por isso, não constituiu um rompimento radical com os dogmas e rituais católicos.Sendo assim, há muitos historiadores que afirmam que houve uma fusão entre elementos católicos e protestantes.

Henrique VIII era um aliado da “Santa Sé”, mas uma série de questões o levaram a romper com a Igreja Católica.

Veja que os motivos são mais conjunturais e de natureza política e econômica. 

  • O primeiro se insere no contexto da centralização do poder político; 
  • Seguindo esse sentido, os nobres tinham intenção de se apropriar dos bens da Igreja Católica, pois passavam por um processo de concentração de terras (cercamentos). Para tanto, só um clero enfraquecido cederia aos interesses da nobreza;
  • Por fim, o terceiro elemento é aparentemente de interesse pessoal do rei, mas, na verdade, possuía fins políticos. Afinal, naquela época, os casamentos estavam a serviço das relações diplomáticas e das relações de poder nos processos de sucessão dos tronos. Henrique VIII não queria continuar casado com Catarina de Aragão, pois ela era espanhola e isso poderia abrir um problema de sucessão, especialmente porque ela nunca ficou grávida. Por fim, e não menos importante. Henrique VIII amava Ana Bolena – cortesã da Corte. E queria com ela se casar.

O terceiro elemento da ruptura constitui o motivo pontual da ruptura com a Igreja, pois a partir da recusa do Papa em anular o casamento do rei com a espanhola, Henrique VIII recorreu ao Parlamento, que legitimou a anulação do casamento com a justificativa de interesse nacional. 

E para concluir o processo de criação da Igreja Anglicana, em 1534, o Parlamento Inglês votou o Ato de Supremacia, por meio do qual o Rei se tornava o chefe supremo da Igreja. 

Guerras Religiosas, Contrarreforma e a Inquisição

No início da ascensão do Protestantismo, a principal forma de combater os reformistas ou protestantes foi punir as lideranças, como fizeram com Lutero e Calvino. Esperava-se, com isso, sufocar as ideias em seus berços de nascimento. Foi em vão. 

Em 50 anos, aproximadamente, 40% dos europeus ocidentais se converteram ao Protestantismo. Assim, a Europa viveu décadas de conflitos e disputas que desencadearam verdadeiras guerras religiosas. 

É interessante saber que cada um dos lados dessas disputas era apoiado por reis e príncipes de cada religião. Do lado Protestante, os príncipes alemães, ingleses e dinamarqueses. O lado Católico contava com o apoio dos reis da Espanha, por exemplo, que eram muito poderosos. Não foi por outro motivo que a atuação do Tribunal da Santa Inquisição foi maior na Península Ibérica.

Na França era grande a divisão e extremamente violenta a disputa. Um dos mais trágicos eventos desse contexto foi a chamada Noite de São Bartolomeu, ocorrida em 24 de agosto de 1572. Na verdade, foi um dia inteiro de combate. A mando de Carlos IX, os protestantes franceses, conhecidos como huguenotes (calvinistas) foram massacrados. Estima-se que 20 mil deles morreram. 

Esse contexto nos mostra que os reis queriam impor sua religião aos seus súditos. Não havia a ideia de liberdade e tolerância religiosa. Ao contrário, em uma sociedade profundamente marcada e organizada socialmente por paradigmas religiosos, tal liberdade era incompatível com a paz social. 

Assim, para se alcançar paz e ordem era preciso impô-las por meio da religião. Percebemos, então, uma faceta do poder político absolutista. A ideia era: um rei, um reino e uma fé.

Para dar uma resposta à sociedade católica diante das críticas que se espalhavam pela Europa e para impedir a continuidade do avanço do Protestantismo, a Igreja Católica organizou uma série de medidas que conhecemos por Contrarreforma.

Muitos clérigos que andavam incomodados com os abusos, aproveitaram para realizar uma verdadeira reforma interna na Instituição. Porém, doutrinariamente, houve uma reafirmação dos princípios católicos. Foi um longo processo que se estendeu por 4 papados:

As principais medidas adotadas pelas lideranças religiosas foram:

  • 1534 – Fundação da Companhia de Jesus: proposta pelo ex-soldado espanhol Inácio de Loyola, a ordem era inspirada em uma estrutura militar cuja missão era impedir o avanço do Protestantismo e converter indivíduos ao Catolicismo por meio da contemplação (na maioria das vezes, forçada). A principal estratégia era criar escolas religiosas e implementar o estudo da catequese.
  • 1545/1563 – Concílio de Trento: reunião de bispos, conduzida pelo Papa, para discutir as questões relacionadas à doutrina da Igreja Católica. Nesses anos reafirmou-se os pontos básicos e essenciais do catolicismo:
  1. Sete sacramentos: batismo, crisma, eucaristia, matrimônio, penitência, ordem e unção dos enfermos;
  2. Tese da infalibilidade do papa;
  3. Monopólio do clero para interpretação da Bíblia;
  4. Reafirmação de indulgência por meio de boas práticas de caridade;
  5. Salvação humana por meio da fé e das boas obras;
  6. A Bíblia é a fonte da fé;
  7. A missa é o encontro com Cristo;
  8. Manutenção do celibato sacerdotal; 
  9. Criação de seminários para formação aprofundada de padres e demais clérigos;
  10. Criação de uma lista de livros proibidos: o Index librorum prohibitorum; e 
  11. Reativação e reformulação do Tribunal da Santa Inquisição.

A Contrarreforma foi eficiente e revigorou a Igreja Católica, que foi obrigada a atuar profundamentena reconversão de católicos e na conquista de outros. Aquele número de 40% de europeus convertidos ao Protestantismo caiu para 20%. Na França, não passaram de 500 mil.

Ademais, a atuação da Igreja não se limitou apenas à Europa. Nessa época, houve a dominação da América Latina. E nesse local do mundo, a Igreja Católica atuou fortemente, especialmente por meio da Companhia de Jesus, no processo de catequese dos povos ameríndios. 

Texto escrito com base nos conteúdos da Professora Alê Lopes

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