Baixa Idade Média: as Cruzadas Católicas

Baixa Idade Média: as Cruzadas Católicas

A Idade Média é um período histórico muito relacionado com a Igreja Católica e suas ações, como visto anteriormente em outros conteúdos didáticos deste portal. Desta vez, iremos tratar de um movimento muito conhecido: as Cruzadas. Leia para entender mais detalhes sobre este assunto!

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Origens das Cruzadas

No processo de afirmação da Igreja Católica para resolver suas crises, para se impor no mundo medieval e, ao mesmo tempo, ajudar a solucionar problemas estruturais do feudalismo, surgiu o movimento das Cruzadas

Elas foram as peregrinações de caráter militar e religioso dos cristãos da Europa Ocidental para recuperarem Jerusalém, a Terra Santa, que estava sob poder dos mulçumanos. 

Desde o século IV, em razão de Jesus Cristo ter sido morto, crucificado e, segundo a crença bíblica, ressuscitado em Jerusalém, a cidade palestina recebia fiéis que buscavam purificar seus pecados e adquirir a salvação de Deus.

Porém, as Cruzadas adquiriram contornos de grandes deslocamentos em massa – verdadeiros exércitos. Elas partiram de diversos pontos da Europa e marcharam até a região da Palestina, no Oriente Médio. 

Para você ter uma ideia, na Primeira Cruzada, cerca de 60 mil guerreiros partiram em direção a Jerusalém, em um trajeto de 5 mil quilômetros que levou 3 anos para ser completado.

No total, entre o século XI e XIV, foram realizadas oito cruzadas oficiais, ou seja, expedições organizadas pela Igreja e pela nobreza. Fala-se em “cruzadas oficiais” porque em 1096, antes da Primeira Cruzada, houve uma cruzada popular – a dos Mendigos – não organizada pelo papado, mas por alguns senhores feudais. 

Tal como essa cruzada popular, em 1212, houve a Cruzada das Crianças, baseada na ideia de que a pureza dos cristãos inocentes poderia derrotar os infiéis definitivamente. Tanto a Cruzada dos Mendigos quanto a das Crianças foram massacradas e, como afirmam alguns historiadores, indiretamente, fez-se um controle populacional. 

É verdade que a ideia de levar a guerra santa aos muçulmanos não era nova. O papa Gregório VII já tinha proposto uma força expedicionária para ajudar os bizantinos contra os turcos seljúcidas. 

O Basílio Miguel VII, do Império Bizantino, pediu ajuda ao Papa, pois o Império estava em conflito com os turcos no leste, com os pechenegues nos Bálcãs e com os normandos no sul da Itália. 

No final de 1074, o Papa pensou em liderar essa expedição, pois vislumbrava uma forma de articular o fim do Cisma de 1054, que dividiu a Igreja em Apostólica Romana e Apostólica Ortodoxa. Porém, essas intenções não vingaram. Gregório VII morreu em 1085.

Em 1088, assume o papado da Igreja Urbano II, um líder que pretendia salvar a Igreja Católica das diversas crises. Em 1089, Urbano começou uma reaproximação diplomática com Constantinopla, cujo império necessitava conter o avanço dos turcos – já convertidos ao islamismo – sobre a capital do Império Bizantino. Urbano II visualizou uma oportunidade política para fortalecer a Igreja e expandir seus domínios. 

Contudo, Urbano II ainda não tinha força e prestígio suficientes para organizar as peregrinações. Em 1095, ele convocou o Conselho de Clermont. No evento, o número de participantes eclesiásticos era grande: 400 bispos e abades marcaram presença. Ao final do Conselho, Urbano II fez um sermão aberto na praça para convocar reis, príncipes e plebeus para promoverem uma Guerra Santa sob a bandeira da Igreja Católica. 

Nesse sermão, Urbano II teria dito:

“a todos aqueles que partirem para as Cruzadas e perecerem no caminho, seja por terra, seja por mar, ou que perderem a vida combatendo os pagãos, será concedida a remissão de seus pecados”.

Após reunir forças clericais, Urbano II começou sua jornada no sul da França para recrutar guerreiros. Por onde passava, os sermões do Papa reuniam milhares de fiéis que, após ouvirem o chamado à purificação da terra de Cristo, aceitavam a missão. Os cavaleiros foram convencidos pelo discurso da absolvição dos pecados. Como viviam da violência, caso atingissem os objetivos da Cruzada, seriam perdoados.

Veja como os fatos históricos fazem sentido: lembra-se de que havia os cavaleiros andantes, os quais perambulavam por territórios de forma autônoma? Pois é, a França concentrava inúmeros desses guerreiros.

Papa Urbano II chegando à França para pregar a cruzada. Miniatura no Romano de Godefroy de Bouillon , século XIV, BN, Paris

Violência e as Cruzadas

Com efeito, o poder da pregação de Urbano II fez com que os povos da Europa Oriental fossem vistos como o mal na terra. Um banho de sangue estava por vir, pois, para endossar o massacre, a Igreja ressignificou um dos mandamentos de Cristo: o de “não matarás”, para “não matarás, salvo se for um infiel”.

Dessa forma, a Igreja transformou sua doutrina inicial de “não violência” para a sacralização do uso das armas. Com essa gana, muitos não católicos foram mortos mesmo em solo Europeu durante o caminho cruzadista, principalmente os judeus.

As Cruzadas não tiveram somente motivação religiosa. Outras causas também precisam ser destacadas, pois ajudam a compreender a articulação entre as intenções da Igreja com as da nobreza de uma forma geral. Vejamos a seguir.

Por volta do ano 1000, houve um surto populacional na Europa Ocidental. O elemento da superpopulação, combinado com as crises de fome – como a ocorrida no ano de 1033 – forçaram a busca por novas terras e por novas atividades econômicas. 

Essas circunstâncias contribuíram para motivar tanto as Cruzadas rumo à Palestina, quanto a expansão para o Oeste Europeu, nas chamadas Guerras de Reconquista, cujo objetivo era recuperar a Península Ibérica do poder dos mulçumanos.

os cavaleiros sem terras também tinham o interesse de conquistar riquezas ao longo das Cruzadas. Por sinal, era sabido que o Oriente Médio, centro das rotas comerciais, detinha as mais variadas riquezas daquela época, como tecidos, ouro, especiarias etc.

A seguir, vamos citar agora algumas das Cruzadas ocorridas no período.

Primeira Cruzada (1096 a 1099)

Cerca de 60 mil cristãos da França, da Alemanha e da Itália iniciaram a marca de 5 mil quilômetros. Ela ficou conhecida como a Cruzada dos Nobres. 

Em 1o de julho de 1097 ocorreu uma das batalhas mais conhecidas de todas as Cruzadas: a Batalha de Dorileia, local próximo a Niceia, cidade ao sul de Constantinopla. Participaram 50 mil turcos de um lado e os cruzadistas do outro. 

Mais uma vez, a cavalaria oriental surpreendeu os ocidentais. Agora, além dos fortes cavalos árabes e da espada, os cavaleiros turcos haviam desenvolvido a habilidade de montar e, ao mesmo tempo, atirar flechas (arqueiros montados). Porém, a superioridade numérica dos cristãos fez a diferença e estes saíram vitoriosos do confronto. 

Outro ponto importante dessa Primeira Cruzada foi que a tentativa de aliança entre a Igreja Ocidental e a Ortodoxa para combater o Islamismo foi desfeita. Uma série de traições de ambos os lados a inviabilizou. 

No final, vastas terras da região da Mesopotâmia passaram para o domínio da cristandade europeia. Em junho de 1099, 13 mil cruzadistas chegaram às portas de Jerusalém e a tomaram. Com isso, o Duque Godofredo se tornou o novo governante cristão de Jerusalém após 400 anos de domínio mulçumano.

Terceira Cruzada (1189-1192)

Ficou conhecida como a Cruzada dos Reis, pois contou com a participação do Rei Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, do Rei Felipe Augusto, da França e de Frederico Barba Roxa, do Sacro Império Romano-Germânico.

Quarta Cruzada (1202-1204)

Ela ficou conhecida como a Cruzada Comercial, pois foi organizada e patrocinada pelos ricos comerciantes de Veneza, na Itália.

O saldo das Cruzadas

O espírito das Cruzadas, a ideologia criada em torno delas e todo o misticismo das histórias dos cruzadistas foram importantes para os processos de expansão europeu, tanto no próprio continente – com a retomada da Península Ibérica aos mulçumanos –  quanto para a expansão marítima no século XIV, em busca de novas rotas comerciais. 

No mesmo sentido, também como saldo das Cruzadas, Jacques Le Goff afirma que:

“Os benefícios extraídos, não do comércio, mas sim do aluguel de barcos e de empréstimos concedidos aos cruzados, enriqueceram rapidamente certas cidades da península Itálica – sobretudo Gênova e Veneza”.

Esses desdobramentos das Cruzadas para o impulsionamento do comércio foi um aspecto importantíssimo para evidenciar que o surgimento do Renascimento Comercial também foi fruto de uma tentativa de solucionar crises do sistema feudal.

A cavalaria

A Batalha de Poitiers, travada entre o Reino dos Francos e o Emirado de Córdoba, foi vencida por Carlos Martel, em 732. Esse conflito com os árabes mulçumanos contribuiu para a experiência militar dos germânicos

Cavalos foram utilizados como estratégia militar e, desde então, as cavalarias passaram a ser organizadas tal como uma instituição vinculada à fé cristã dentro da lógica feudal.

Dessa forma, os cavaleiros combatiam por Cristo – considerado o grande suserano – e apoiados na veneração a uma corte celeste, formada por anjos e santos como São Miguel e São Jorge. 

Antes das Cruzadas, de acordo com Marc Bloch, os cavaleiros andantes ajudaram na reconquista do norte da Espanha – que estava nas mãos dos mulçumanos –, contribuíram para a formação do Estado da Normandia, no sul da Itália, e atuavam como mercenários para o Império Bizantino contra os mulçumanos25.

Posteriormente, na iminência das Cruzadas, esses cavaleiros encontraram, finalmente, na conquista e na defesa do túmulo de Cristo o seu campo de ação preferido. Além disso, conforme a historiadora Mônica Amim:

“A cavalaria foi um dos eventos mais notáveis da história da Europa entre a cristianização e os tempos modernos, tanto que se transformou no tema de toda uma fase da literatura. A cavalaria como instituição, com todos os aparatos que a distinguiam, assumiu sua forma definitiva por volta do século XI, quando também se estabeleceu o hábito da cerimônia de sagração para se armar o cavaleiro. Com a crescente influência da Igreja, esta cerimônia foi, paulatinamente, transformada numa espécie de sacramento, precedido pela vigília de armas, noite de preces e benção das armas. É importante, porém, diferenciar dentro da cavalaria, instituição secular, as ordens cavaleirosas de caráter religioso: o grau de cavaleiro podia ser conferido a alguém por qualquer senhor feudal, obviamente com a participação da Igreja, enquanto as ordens de cavalaria eram criadas pelo Papa, e seus membros – misto de monges e guerreiros – faziam o voto de castidade no ato da sagração. Nesse contexto, as ordens militares responderam, por um lado, às necessidades de defesa; por outro lado, na Terra Santa, ordens como a dos Templários e dos Hospitalários se colocaram, desde o início, a serviço dos peregrinos e cruzados. O rápido aumento do número de irmãos e o grande afluxo de donativos tornaram essas ordens fortes e poderosas, a ponto de reis e príncipes confiarem a elas a guarda dos principais castelos. Devido a seus êxitos e ao seu prestígio, essas ordens acumularam grandes fortunas, feudos e territórios que agruparam em comandaturas, e mantiveram por um longo tempo a ideia de Cruzada e de ordem cavaleiresca no Ocidente. (pp. 127-128).”

A Ordem dos Templários, formada por monges cavaleiros franceses para proteger Jerusalém, era uma organização de caráter militar-religioso. Os membros ocupavam uma ala do palácio real que supostamente fez parte do Templo de Salomão. Por isso, o nome Templários. 

Essa ordem chegou a reunir 20 mil cavaleiros e foi fundamental para assegurar as conquistas da cristandade nas regiões do Oriente. O Papa Clemente V dissolveu a Ordem em 1312.

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Veja também:

Texto elaborado com base no material didático da professora Alê Lopes.

Referências Bibliográficas

25 BLOCH, Marc. A Sociedade Feudal…… p. 326.

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