De sargento a oficial da FAB: entrevista com o Tenente Paulo Rezende

Os especialistas da Aeronáutica são fundamentais para a manutenção da soberania do espaço aéreo brasileiro.

O conjunto de todo eficaz formado pelos especialistas, juntamente com os demais integrantes da FAB, fortalece a missão constitucional da Aeronáutica em manter o espaço aéreo seguro para as aviações civil e militar, além de repelir as ameaças internas e externas.

A disciplina, o amor e a coragem são os fundamentos que orientam os especialistas, juntamente com a imagem da bandeira nacional, à ordem e ao progresso. As diversas áreas de atuação dos militares da FAB são fundamentais para a integração do Brasil e agigantam a nação como expoente na aviação mundial.

Confira a continuação da entrevista que o Primeiro Tenente Músico Paulo Rezende concedeu ao Estratégia Militares e saiba como um sargento pode se tornar um oficial da FAB

E.M.: Como foi a sua preparação para ingressar no estágio de adaptação ao oficialato?

Ten. Paulo:  Para o processo seletivo do Estágio de Adaptação ao Oficialato (EAOF) não consegui estudar como eu queria. Eu estava servindo no CECOMSAER, trabalhando como fotógrafo e participava de muitas missões fora de Brasília. 

Durante essas viagens, que normalmente aconteciam sem um planejamento antecipado, tinha muito trabalho para eu fazer, de forma que, com essa rotina, eu não conseguia me organizar para estudar.

Sem ter muitas opções, tirei quinze dias de férias antes da data das provas escritas. Nessas duas semanas precisei de abnegação e disciplina. Todos os dias eu fui a uma biblioteca, perto da casa onde eu morava, e estudei o dia inteiro. Só parava para almoçar. 

Quando a biblioteca fechava eu voltava para casa e continuava estudando até a hora de dormir. Como o tempo era curto e não dava para estudar todo o assunto da bibliografia, foquei em resolver provas anteriores e estudar os assuntos que mais caíram nos concursos passados.

Fiz a prova – eram quatro vagas e uma concorrência muito grande – e consegui passar nesse primeiro processo seletivo para me tornar oficial da Força Aérea. Foi um milagre, assim como no concurso para sargento, mas não aconselho ninguém a estudar de última hora. 

E.M.: De qual unidade o senhor participou durante o estágio de adaptação? Como foi participar de outro período de adaptação na sua carreira militar, visto que o senhor já tinha passado pela EEAR?

Ten. Paulo: O meu estágio de adaptação foi no Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica (CIAAR).

Esse estágio é um período de aperfeiçoamento e preparo em que adquirimos os conhecimentos técnicos e as aptidões do trabalho de um Oficial. A gente leva para o estágio um conhecimento anterior, mas que, certamente, precisa ser lapidado para se tornar oficial da Força Aérea.

Para mim foi um grande desafio, já que não era mais um garoto como na EEAR. A rotina é intensa, o desgaste físico é muito grande e precisamos nos dedicar bastante às matérias ministradas. Mas é muito gratificante. Aprendi muito, tanto no campo militar quanto na área da liderança.

Poder utilizar todo o conhecimento adquirido durante a minha carreira e o aprendido no CIAAR a serviço do Brasil e da Força Aérea é uma grande honra para mim.

E.M.: O senhor é o compositor da Canção do CIAAR. Conte um pouco de como foi o processo de composição e de escolha de dedicá-la à uma unidade da Força. 

Ten. Paulo: Em 2015, quando eu era aluno do Estágio de Adaptação ao Oficialato (EAOF) no CIAAR, foi lançado um processo seletivo: “Seja o compositor da Canção do CIAAR”. 

Eu ainda não sabia que ia servir lá.

Inspirado pelas instruções e exemplos maravilhosos que recebia naquela Escola, compus uma canção. Outros dois militares do efetivo também compuseram. As três canções foram colocadas em votação e a maioria do efetivo escolheu a canção que eu compus.

Ao final do estágio fui classificado para servir no CIAAR e uma das sensações mais incríveis que sentia lá era ouvir a tropa cantar a canção. Hoje não estou mais servindo no CIAAR, mas sempre sou lembrado por lá.

E.M.: Após a sua formatura como oficial, quais unidades o sr. já serviu? Quanto tempo ficou nessas unidades? 

Ten. Paulo: Servi no Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica (CIAAR) durante 4 anos e 7 meses, no Comando-Geral do Pessoal (COMGEP) por 6 meses e atualmente estou servindo na Base Aérea de Brasília (BABR) há 1 ano e 1 mês.

E.M.: Como oficial músico, quais as suas maiores realizações/projetos já realizados?

Ten. Paulo: Ainda como regente da Banda Asas de Minas no CIAAR, fizemos uma apresentação repentina, conhecida como Flash Mob, onde surpreendemos os passageiros no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins (MG), em outubro de 2019.

A Banda, acompanhada de cerca de 100 militares da Guarnição de Aeronáutica de Belo Horizonte (GUARNAE-BH), executou o Hino dos Aviadores e atraiu os olhares do público. Foi emocionante!

Agora, a maior realização com certeza foi o Concerto de Estreia da Orquestra Sinfônica da Força Aérea Brasileira (OSFAB), realizado em novembro de 2021, celebrando os 80 anos de criação da Força Aérea Brasileira. 

Foi uma apresentação que despertou a sensibilidade e a memória afetiva do público e contou com a presença de grandes autoridades como o Presidente da República, Ministros de Estado, Comandante da Aeronáutica e do Exército, Oficiais-Generais da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, dentre outras autoridades civis e militares convidadas.

A criação da OSFAB foi um projeto que eu coordenei desde o início. Esse concerto de estreia foi a realização de um sonho. Foi extremamente exitosa nossa primeira apresentação.

Ela é a primeira e a única orquestra sinfônica das Forças Armadas Brasileiras e é composta por 125 militares, que têm como missão principal realizar apresentações musicais para difundir a imagem institucional da FAB.

A orquestra passa a ser um instrumento de divulgação junto à sociedade brasileira, além de mostrar a qualidade dos nossos militares.

A apresentação do flashmob e da Orquestra Sinfônica da FAB se encontram disponíveis no canal oficial da Aeronáutica no Youtube.

E.M.: Existe algum projeto em andamento na FAB na área de música?

Ten. Paulo: No momento não tenho conhecimento se alguma de nossas bandas da FAB estão com novos projetos em andamento. Até onde eu sei, seguimos com nossas rotinas.

Aqui na OSFAB, estamos trabalhando para consolidar essa ideia, que é recente e inovadora. Ainda estamos enfrentando muitos desafios, mas estamos muito confiantes.

E.M.: Quais conselhos o senhor daria aos jovens que têm o sonho de ingressar na FAB como músicos?

Ten. Paulo:  Foco, dedicação e perseverança! Encarem as adversidades com coragem, pois os acomodados serão atropelados. 

As oportunidades vão surgir. Estejam preparados. Jamais permitam que suas desculpas sejam maiores do que seus sonhos.

Quando alguém desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda força de sua alma, todo universo conspira a seu favor.

Se vocês têm um sonho, lutem por ele! Nada é impossível para quem acredita, se dedica de corpo e alma e confia em Deus. Nunca deixe que ninguém diga que vocês não são capazes. Desejo que vocês tenham sucesso em seus projetos. Se eu puder ajudar em algo, contem comigo!

Ao ser perguntado sobre se sentir realizado com todos esses feitos pela FAB, o Tenente Paulo Rezende enfatizou que não, visto que essa realização será alcançada por ele somente no final de sua vida. Até lá, afirmou que viverá com entusiasmo e com a vontade de construir.

Você pode conferir como foi um trecho do concerto da Orquestra Sinfônica da Força Aérea Brasileira regida pelo Tenente Paulo Rezende no vídeo abaixo:

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