Gênero lírico: como distinguir as classificações e mais!

Gênero lírico: como distinguir as classificações e mais!

O gênero lírico é composto por diversas classificações para os textos. Confira nesse artigo, que o Estratégia Militares preparou para você, quais são essas classificações e como distingui-las.

Os textos líricos podem ser diferenciados por várias características. De acordo com elas, o texto pode ser classificado como:

  • Soneto;
  • Elegia;
  • Ode; e 
  • Haikai.

Soneto

O soneto é o poema composto por 14 versos, os quais são tradicionalmente organizados em duas estrofes de quatro versos (quartetos) e duas estrofes de três versos (tercetos).

O poeta carioca Vinícius de Moraes adotou essa forma lírica em muitos textos que compõem sua obra, como pode ser verificado a seguir:

SONETO DA FIDELIDADE

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.


Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.


E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama


Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Estoril, outubro, 1939

Embora os sonetos sejam tradicionalmente organizados em dois quartetos e dois tercetos, é importante destacar que essa disposição não é a única possível. Os sonetos podem apresentar várias outras formas de distribuição dos 14 versos.

O poeta piauiense Mário Faustino, por exemplo, em seu livro O homem e sua hora, optou por sonetos monostróficos, ou seja, que apresentam uma única estrofe:

O MUNDO QUE EU VENCI DEU-ME UM AMOR

O mundo que eu venci deu-me um amor,
Um troféu perigoso, este cavalo
Carregado de infantes couraçados.
O mundo que venci deu-me um amor
Alado galopando em céus irados,
Por cima de qualquer muro de credo.
Por cima de qualquer fosso de sexo.
O mundo que venci deu-me um amor
Amor feito de insulto e pranto e riso,
Amor que força as portas dos infernos,
Amor que galga o cume ao paraíso.
Amor que dorme e treme. Que desperta
E torna contra mim, e me devora
E me rumina em cantos de vitória…

Elegia

A origem da elegia é a Grécia Antiga. Esse tipo de poema tem a característica de abordar acontecimentos tristes e, frequentemente, era associado a cantos fúnebres. 

Em geral, possui tom macabro, melancólico e pessimista, além de conter aforismos, regras morais e sentenças máximas para acentuarem ou amenizarem o desalento do eu lírico. 

As grandes descrenças e desesperanças presentes nas elegias podem aparecer associadas a decepções amorosas, familiares, sociais ou políticas. Tente perceber, por exemplo, o tom melancólico e elegíaco nos versos do poeta Mário Quintana:

ELEGIA

Há coisas que a gente não sabe nunca o que fazer com elas...
Uma  velhinha sozinha numa gare.
Um sapato preto perdido do seu par: símbolo
da mais absoluta viuvez.
As recordações das solteironas.
Essas gravatas de um mau gosto tocante
que nos dão as velhas tias.
As velhas tias.
Um novo parente que se descobre.
A palavra "quincúncio".
Esses pensamentos que nos chegam de súbito nas ocasiões mais impróprias.
Um cachorro anônimo que resolve ir seguindo a gente pela madrugada na cidade deserta.
Este poema, este pobre poema sem fim…

Ode

A ode também é um poema originado na Grécia Antiga e possui o objetivo de exaltar ou até mesmo louvar pessoas, episódios, sentimentos e entre outros acontecimentos. 

Por ter esse objetivo, é comum encontrar nas odes uma linguagem exaltatória e entusiasta.

Na ode a seguir, Álvares de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, enaltece o progresso tecnológico do início do século XX. Observe no fragmento a linguagem grandiloquente empregada pelo poeta:

ODE TRIUNFAL
 
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica 
Tenho febre e escrevo. 
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, 
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
 
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! 
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! 
Em fúria fora e dentro de mim, 
Por todos os meus nervos dissecados fora, 
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! 
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, 
De vos ouvir demasiadamente de perto, 
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso 
De expressão de todas as minhas sensações, 
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

[...]
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! 
Ser completo como uma máquina! 
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo! 
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, 
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento 
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões 
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!

Haikai

Uma forma poética de origem oriental que é caracterizada pela brevidade, tanto que, tradicionalmente, apresenta três versos. O primeiro verso é composto por cinco sílabas, o segundo por sete e o terceiro por cinco sílabas.

Normalmente, os haikais retratam cenas da natureza e episódios relacionados às estações do ano, conforme pode ser visto no seguinte exemplo, composto pelo poeta japonês Matsuo Bashô:

Noite de primavera
As cerejeiras! Para elas
A aurora despontou

Na literatura brasileira, muitos poetas modernistas cultivaram o uso do haikai. Dentre eles, merece destaque o escritor paulista Guilherme de Almeida, que difundiu, no início do século XX, essa forma de composição poética, conforme pode ser visto nos versos a seguir:

Pescaria

Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
Pesco uma estrelinha.

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Referências

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