E aí, coruja? Pronto para mais conteúdo sobre a Idade Média? Depois de estudarmos a fundo a Alta Idade Média, vamos tratar agora de outra fase: a Baixa Idade Média. Confira a seguir!
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Cenário
Se no século IX a população da Europa Ocidental se refugiava em feudos por ameaça de incursões dos povos vikings e normandos, no Século XI, ela se encontrava superpovoada e em paz.
Esse novo cenário teve duas causas essenciais e duas consequências diretas. Observe o esquema:
É interessante notar que, no período, quanto mais a tecnologia avançava, maior era a produção e melhor ficava a alimentação da população.
Desse processo, também foi gerado o aumento da expectativa de vida e a diminuição da mortalidade. Veja o que diz o professor Perry Anderson sobre isso:
“A dramática aceleração das forças de produção detonou uma correspondente explosão demográfica. A população total da Europa Ocidental provavelmente foi além do dobro entre 950 e 1348, indo de uns 20 milhões de habitantes para 54 milhões. Tem sido calculado que a expectativa média de vida, que seria de uns 25 anos no Império Romano, teria subido para 35 anos pelo século XIII, na Inglaterra feudal.” (ANDERSON, Perry. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. Tradução de Beatriz Sidou. São Paulo: Brasiliense, 2000.)
Observe nas tabelas abaixo o crescimento demográfico em algumas regiões da Europa Ocidental durante a Idade Média Central:
Observando os dados acima, podemos afirmar que, realmente, houve uma grande expansão demográfica no período. Disso decorreu uma consequência: a necessidade de aumentar a produção de alimentos para evitar fenômenos de fome, como o que ocorreu no ano de 1033.
Assim, foi necessário ampliar as áreas agricultáveis e melhorar as técnicas de produção.
Vejamos agora quais foram as novas tecnologias agrícolas desenvolvidas, as quais permitiram o aumento da produção de alimentos.
Mudança na forma de uso da terra
- Uso de sistema de rotação de culturas: rotação entre três campos que propiciava cultivos diferentes e o descanso a cada dois anos de cultivo (pousio); e
- Ampliação das áreas de cultivo agrícola: anteriormente, havia espaços certos para o plantio – os mansos senhorial e servil. O manso comunal era composto por pântano, pasto e bosque, mas não era utilizado na plantação. Sendo assim, a expansão territorial se deu nesses espaços.
Aperfeiçoamento das técnicas e instrumentos de produção
- Charrua: instrumento de arado feito de ferro. Antes eram produzidos em madeira e se quebravam com frequência, além de não conseguirem arar áreas mais pedregosas;
- Peitoral: peça almofadada feita de couro que era colocada no cavalo para que o animal puxasse melhor a charrua;
- Ferradura: peça fixada nas patas do cavalo para proteger seu casco e conseguir andar mais e em terrenos mais pedregosos; e
- Moinho hidráulico: equipamento usado para moer cereais, esmagar olivar e quebrar minérios utilizando a força das águas dos rios.
Toda essa melhora na produção não apenas evitou a fome como gerou excedente de produção. Isso criou novas demandas, no sentido da dinamização das atividades econômicas. Sendo assim, era necessária uma atividade comercial mais robusta e vigorosa.
Porém, essa demanda esbarrava nos interesses dos senhores feudais, que aumentavam cada vez mais as taxas cobradas dos servos, além de colocarem barreiras para o avanço das inovações agrícolas e nas atividades comerciais que extrapolassem os muros dos feudos.
Fora isso, o aumento da circulação de grãos, aves, gado, lã, ferramentas etc. impulsionou os setores do artesanato e do comércio.
Assim, muitos servos acabaram por se envolverem nessas atividades. Logo, dois grupos econômicos importantes voltaram à cena: os artesãos e os mercadores. Segundo o historiador Perry Anderson, o desfecho desse processo foi a crescente diferenciação social nos feudos. 21
Os artesãos permaneceram ativos durante todo esse período. Especialmente, aqueles que serviam aos nobres: os armeiros, nas batalhas medievais; e os ourives, na construção e ornamento dos castelos e igrejas. Mas, o artesanato se diversificou e muitas outras atividades foram criadas, sobretudo, aquelas ligadas às atividades mercantis.
Os mercadores foram muito importantes nas transformações ocorridas no feudalismo. Eles semearam mudanças de mentalidade ao realizarem suas atividades, devido à necessidade de uma estrutura econômica, política e social mais fluida, livre e dinâmica – ou seja, fora dos valores, da moral e da mentalidade do Mundo Feudal.
Contudo, apesar desse dinamismo, não houve espaço para todo mundo. Muitos foram os excluídos da estrutura social feudal.
O aumento populacional, a escassez de terras agricultáveis e as elevadas taxações impostas pelos senhores feudais fizeram aumentar o custo de vida e deixaram uma parte muito significativa dos servos fora do dinamismo.
Alguns foram expulsos ou fugiram do feudo para, então, se esconderem nos bosques ou nos centros das antigas cidades abandonadas.
Acontece que a escassez de terras agricultáveis não atingiu apenas os servos. Os filhos de senhores feudais também passaram pelo problema.
As terras sempre eram doadas em troca de proteção. Portanto, não estavam monetizadas. Assim, em um contexto de paz, sem terras a serem doadas e estando proibidas as investiduras leigas, o filho do senhor feudal era prejudicado.
Guardem essas informações sobre os excluídos, pois o excedente populacional em um contexto de esgotamento dos recursos feudais será fundamental para você entender e justificar o Movimento Cruzadista da Igreja Católica.
Essas mudanças estão relacionadas com o esgotamento do modelo de autossuficiência do feudo. Ele não respondeu eficientemente às novas exigências e demandas de um cenário que começava a mudar.
Portanto, estamos diante do processo de desagregação do feudalismo e de todas as relações que se desenvolveram e se consolidaram desde o século V. Assim como foi com o Império Romano, a desagregação do feudalismo foi um processo lento, que enfrentou a transição do velho mundo para um novo.
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Texto elaborado com base no material didático da professora Alê Lopes.
Referências Bibliográficas:
20 LE GOFF, Jacques. A Civilização do Ocidente Medieval. Lisboa: Editorial Estampa. 1983, pp. 87-139.
21 ANDERSON, Perry, op. cit. P. 181.