Antigo Regime: Sociedade Europeia na Época Moderna

Antigo Regime: Sociedade Europeia na Época Moderna

Vai participar dos concursos e quer saber um pouquinho mais de história? Vem com a gente! Confira esse artigo que o Estratégia Militares preparou para você sobre o Antigo Regime.

O período que se convencionou chamar Moderno ou Modernidade estende do século XV ao século XVIII. Historiadores afirmam que, no final da Idade Média, uma série de transformações ocorridas impulsionaram a desagregação do feudalismo e germinaram as sementes de um novo modo de pensar, sentir e viver.

A expressão “moderno” dá a impressão de algo renovador, progressista e bastante positivo. Assim, esse termo foi cunhado por historiadores renascentistas do século XV justamente para atribuir um significado positivo a esse momento. Afinal, era preciso diferenciá-lo do período “de trevas” que o precedeu e, ao mesmo tempo, construir a imagem da Europa como um continente muito importante na história do mundo.

Agora preste muita atenção:

O intelectual Enrique Dussel, em seu livro, 1492: o encobrimento do outro (1993), defende a tese de “Europa Periférica”, ou seja, para ele a Europa era a periferia do mundo durante a Idade Média. 

Para chegar a essa conclusão o autor faz uma comparação entre o Império Islâmico, a Europa Ocidental e o papel de cada uma dessas civilizações durante o Período Medieval. Veja alguns elementos que o autor levanta: 

Para Dussel e alguns outros historiadores, durante a Idade Média a Europa ficou excluída do comércio internacional, sem grande acúmulo de riqueza em forma de moeda.
A unidade de valor e riqueza era a terra, um bem pouco rentável se não for altamente explorada. 

Além disso, a Europa tinha uma cultura baseada no dogmatismo religioso da Igreja Católica e de sua violência – praticada por meio do Tribunal da Inquisição – contra pensamentos e pessoas que não reafirmavam as ideias da Instituição.

Uma série de coisas aconteceu para a Europa deixar de ser a periferia para se transformar no Centro do Mundo: 

  • As Guerras de Reconquista contra os muçulmanos na Península Ibérica;
  • As viagens “de descobrimento” durante as “Grandes Navegações”;
  • O estabelecimento de várias rotas marítimas em diferentes pontos de vários continentes; e 
  • A subjugação e o controle sobre diversos povos e regiões.

Tudo isso fez com que a Europa deixasse de ser a “periferia do mundo” para ser a “construtora de periferias”. E a América Latina, que nos interessa pela importância histórica e por sermos habitantes dela, foi a primeira experiência de dominação de um continente sobre o outro.

Afirma Dussel: “A modernidade aparece quando a Europa se afirma como centro de uma História mundial que inaugura, e por isso a periferia é parte de sua própria definição. […] A modernidade originou-se nas cidades europeias medievais livres, centros de enorme criatividade. Mas “nasceu” quando a Europa pôde se confrontar com o seu “Outro” e controlá-lo, vencê-lo, violentá-lo: quando pôde se definir como um ego descobridor, conquistador, colonizador da identidade constitutiva da própria Modernidade.

Estudar a Época Moderna é muito mais que entender a desagregação do feudalismo e as transformações locais e internas da Europa. Esse momento, como muitos intelectuais afirmam, é a primeira grande experiência de interação entre os povos de todos os continentes. O mundo muda e a Europa ocupará um papel central daí em diante. Assim, precisaremos compreender as contradições que marcaram esse processo – que torna a história mais rica, mais complexa e mais inter-relacional.

A Sociedade Europeia na Época Moderna

A transformação do espaço rural, a revitalização da cidade com atividades ligadas à retomada do comércio, bem como o aumento da circulação de pessoas e negócios por meio das rotas terrestres e marítimas, aumentou o clima de inquietude intelectual. 

De certa forma, esse contexto se tornou favorável ao questionamento e à ruptura com os padrões econômicos, políticos e sociais vigentes do “velho” feudalismo. Portanto, como resultado ocorreu: 

  • Uma nova forma de pensar – o racionalismo e o método científico;
  • Um renovado movimento cultural – o renascimento;
  • A centralização do poder político – a formação das monarquias absolutistas;
  • A complexificação da economia – mercantilismo; e
  • As grandes navegações – colonialismo e a conquista da América.

Assim, entre os séculos XV e XVIII,  atribuiu-se um sentido de retomada do esplendor da outrora Antiguidade clássica. Contudo, é importante ressaltar que essas transformações ocorreram ao longo de mais de 300 anos. Por isso, foram percebidas e sistematizadas gradualmente. 

Apesar das rupturas com o feudalismo,

, há muitas continuidades que também marcam esse

momento histórico, como o poder político baseado na propriedade da terra e, portanto, no título de nobreza., Por isso, a estratificação social desigua,l formatada por meio do nascimento. Ou seja: ainda não existia nada de meritocracia.

Desse modo, entre rupturas e continuidades, historiadores convencionaram nomear o

sistema que se formou nesse período de Antigo Regime. Essa denominação foi utilizada para definir a ordem social, política e econômica que predominou em diversos países europeus entre os séculos XV e XVIII.

Esse sistema ou ordem é caracterizado essencialmente por 4 elementos:

  • Classe Dominante: nobreza;
  • Sistema Social: sociedade estamental;
  • Sistema Político: monarquia absolutista; e
  • Sistema Econômico: mercantilismo.

Vejamos, a seguir, as características gerais de cada um desses elementos.

Sociedade Estamental

Característica fundamental: a sociedade moderna é estamental. Ou seja: cada grupo social forma um estamento cuja origem se dá por nascimento. O clero e a nobreza têm privilégios em relação aos demais grupos sociais. 

Vejamos alguns dados sobre a sociedade estamental europeia na modernidade.

  • Cerca de 80% da população europeia continuou vivendo no campo; 
  • As relações de trabalho se flexibilizaram, já no final da Idade Média, e novas atividades profissionais surgiram; e
  • O rural e o urbano tinham uma relação estreita. A cidade era o centro econômico na transição do medievo para a modernidade, pois abrigou as feiras e casas bancárias. Além disso, a cidade era um centro produtivo. 

Contudo, o campo também era um centro produtor. Por exemplo, nele estava o rio, fonte de energia hidráulica para o moinho; fundamental para a moagem dos cereais, base da alimentação da população europeia. O rio também era importante para a forja (oficina do ferreiro). Ainda se encontravam no campo as mineradoras, local de onde os trabalhadores retiravam pedras para a construção civil. 

Assim, vemos que as pessoas continuavam no campo, mas realizando muitas outras atividades além da agricultura. Em geral, as pessoas que trabalhavam para os proprietários desses negócios eram livres. 

Já em relação aos camponeses, uma parte importante continuava submetida às relações de servidão, especialmente, no nordeste da Europa. Contudo, elas foram sendo flexibilizadas ao longo dos séculos durante esse período. Novas relações de trabalho surgiram, como o aprendiz nas oficinas, os artesãos, os mercadores, os trabalhadores livres do comércio e os portos, entre outras ocupações. 

Na Idade Média, a sociedade estava formada por clero, nobres e servos. Diante das transformações econômicas ocorridas na Baixa Idade Média, surgiu uma nova classe social – a burguesia – e diversificaram-se as profissões. Existiam as corporações de ofício, as oficinas, os mestres, contramestres e os aprendizes. 

No entanto, nenhuma dessas novas atividades, mesmo as mais rentáveis, foi capaz de alterar a relação de poder, direitos e privilégios entre as ordens estamentais. 

Assim, no lugar antes ocupado essencialmente pelos servos, no Antigo Regime, esse estamento passou a ser ocupado, também, por todas as classes sociais que não eram nobres ou, tampouco, parte do clero. 

Evidentemente, a burguesia mercantil buscava meios de interferir nas decisões das cortes monárquicas. Essa pressão foi mais ou menos eficiente, a depender do poder econômico da burguesia e da força das monarquias. 

A Inglaterra foi um lugar em que a burguesia teve mais sucesso a ponto de conseguir compor uma parte do Parlamento, a chamada Câmara dos Comuns. Já na França a monarquia conseguiu concentrar mais poder e a burguesia ficou mais excluída do poder político. 

Veja o esquema clássico da divisão estamental da sociedade do Antigo Regime. 

De acordo com a visão dominante dessa época, cada uma dessas ordens tinha obrigações e direitos exclusivos. 

Entre essas obrigações estava, por um lado, o dever exclusivo por parte do 3º Estado de pagar impostos e de trabalhar. 

Por outro lado, o direito exclusivo de participar da política e de ocupar os cargos mais altos da administração do Estado era do clero e da nobreza. 

Mas essa visão é muito medieval, ultrapassada para época, não é? 

Realmente é uma visão tradicional, fundada na Idade Média. Assim, é conservadora porque não alterava substancialmente a forma de enxergar a organização do mundo e a forma como a sociedade se organizava. 

Permanecia a antiga concepção segundo a qual os homens não nasciam iguais e, portanto, não podiam ter os mesmos direitos e deveres. Ou seja, não havia o que, mais adiante, chamaremos de “igualdade jurídica” ou meritocracia.

Logo, a sociedade do Antigo Regime é jurídica, política e socialmente desigual. Aqueles que têm acesso exclusivo a determinados direitos, os nobres e o clero, são privilegiados.

Texto escrito com base nos conteúdos da Professora Alê Lopes

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