A crise de 1929: os antecedentes da crise e o <em>american way of life</em>

A crise de 1929: os antecedentes da crise e o american way of life

A crise de 1929 iniciou-se com a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque e atingiu as economias de todo o planeta, principalmente dos Estados Unidos, que sofreu com a fome, o aumento dos roubos e do suicídio daqueles que possuíam ações. 

Confira neste artigo que o Estratégia Militares preparou para você os antecedentes da maior crise econômica do século XX.

O grande trauma legado pela Primeira Guerra Mundial para a maioria da população dos países industrializados do início do século XX foi a certeza de que a sociedade burguesa liberal anterior a 1914 não poderia ser retomada com o fim do conflito. As sociedades capitalistas, nos anos que se seguiram, assistiram a mudanças radicais em todos os seus aspectos.

Como era a sociedade dos Estados Unidos antes da crise de 1929?

Aqueles que sobreviveram ao morticínio e às durezas da guerra tinham uma necessidade de compensação, de recuperação e superação dos “anos perdidos”. Nas cidades da Europa e dos Estados Unidos tornou-se urgente a busca pelo prazer, em uma atitude hedonista e despreocupada em relação aos antigos valores morais burgueses.

Surgiram vários clubes noturnos onde se dançava até alta madrugada ao som de orquestras. A moda estadunidense a tudo invadiu, os conjuntos de jazz estavam por toda parte, dançava-se o fox trot e o blues em uma verdadeira explosão de despreocupada alegria.

A participação das mulheres na indústria dos Estados Unidos

Nessa época, as mulheres assumiram uma nova importância na cena pública. Durante a guerra, elas foram chamadas a dar a sua contribuição nas atividades produtivas – em fábricas, escritórios e nos campos – enquanto os homens combatiam, adquirindo uma postura mais independente à qual não tinham nenhuma intenção de renunciar.

Mulheres nos Estados Unidos

Essa alegria superficial impedia que a maioria das pessoas levasse em conta o golpe que a guerra tinha imposto à hegemonia europeia no mundo e as possíveis consequências desse fato. Buscava-se apenas o prazer naquele momento. 

Entretanto, nesse período não surgiu nenhuma solução para a instabilidade econômica do ocidente, dependente do capital estadunidense. Essa alegria intensa e superficial antecedeu à nova depressão econômica e à ruína.

Assim, é considerável que a Primeira Guerra Mundial determinou o início do declínio da sociedade capitalista liberal, que entrou em aguda crise, provocando o recuo da Europa como protagonista no mundo.

Aproveitando-se dessa nova realidade, os Estados Unidos tornaram-se os “banqueiros do mundo” e lançaram sua  influência sobre a sociedade ocidental, até que sua economia também deu mostras de enfraquecimento.

A Europa e os Estados Unidos durante e após a Primeira Guerra

Durante a guerra, a Europa viveu profundas transformações devido às exigências econômicas do conflito. Elas levaram os países beligerantes, em meio ao seu esforço de guerra, a transformar sua indústria tradicional em indústria bélica e desviar uma parcela importante da mão de obra para as frentes de batalha.

Em meio à guerra, os Estados Unidos usufruíram da estratégia posição de fornecedores de produtos alimentícios, industriais e de combustíveis para a Europa. Isso ampliou consideravelmente seu mercado consumidor, antes concentrado no rico mercado interno.

O plano de reconstrução da Europa pelos Estados Unidos

Ademais, os Estados Unidos apossaram-se dos antigos mercados consumidores de produtos europeus – a Ásia e a América Latina. Finalmente, ao término do conflito, os Estados Unidos, que concederam vultuosos empréstimos aos seus aliados da Tríplice Entente, consolidaram-se como centro financeiro do mundo, detendo mais da metade das reservas de ouro circulante na economia capitalista.

O período de 1919 a 1925 foi de lenta reconstrução da economia europeia e de grande crescimento para os Estados Unidos, que saíram da guerra como credores dos europeus ocidentais e em situação vantajosa por não terem sofrido os estragos e as destruições do conflito em seu território. 

Puderam, assim, investir em seu crescimento econômico, certos de que haveria mercados para a sua produção agrícola e industrial, tanto interna quanto externamente, na Europa destruída.

Início da desaceleração econômica dos Estados Unidos

Entretanto, a partir de 1925, apesar da euforia da expansão, a economia estadunidense começou a apresentar problemas. A produção se desenvolvia em ritmo acelerado, mas os salários, não. A progressiva mecanização da indústria e da agricultura fechava vagas para os trabalhadores e o desemprego crescia.

Todavia, nem a população dos Estados Unidos nem os governantes percebiam esses sinais de desaceleração da economia, cegos pelo grande crescimento e pela representação do american way of life, o estilo de vida estadunidense.

A construção do american way of life e o antecedente da crise de 1929

A década de 1920 foi, para os estadunidenses, a década da prosperidade e da consolidação de um estilo particular de vida (american way of life). Ele era fundamentado no ideário liberal de glorificação do individualismo e de valorização da competição, além da ampliação generalizada da oferta e do consumo de bens e serviços que, antes da Primeira Guerra Mundial, eram acessíveis apenas à elite.

Esse período é conhecido como prosperity ou milagre americano.

Em meio à riqueza dos anos vinte, prosperou uma cultura de prazer sem limites nos Estados Unidos. Foi a era do jazz, do rádio e do nascimento do cinema falado. A porcentagem de divórcios era a maior da História. A cocaína era tolerada entre os ricos. Pipocavam concursos destinados a testar os limites físicos das pessoas: um casal ganhou um belo prêmio em 1929, depois de dançar sem interrupção por exatas 534 horas, um minuto e três segundos e meio. Mais de vinte dias. BRENER, Jayme. 1929: a crise que mudou o mundo. p. 8 

Dólar americano

A concessão de crédito pelos bancos dos Estados Unidos

O consumo interno da produção industrial foi facilitado pela adoção do sistema de créditos, que permitia aos consumidores adquirirem os bens e usufruí-los antes de estarem em condições de pagá-los.

A concessão de crédito fácil pelos bancos estadunidenses era reflexo da crença generalizada de que o momento de crescimento do país se manteria por tempo indeterminado, o que fazia as instituições financeiras se sentirem mais seguras o suficiente para emprestar dinheiro, mesmo a indivíduos e empresas que apresentavam sinais de que não poderiam honrar os compromissos.

A concessão fácil de crédito estimulou o consumo sob bases irreais, tornando mais fácil para a população, o governo, as empresas e as instituições financeiras ignorarem sinais como o aumento do desemprego e da especulação financeira no país.

Concomitantemente ao aumento do crédito, cresceu muito a especulação financeira com ações na Bolsa de Valores de Nova Iorque. 

A especulação financeira conformava-se ao ambiente político dos Estados Unidos, cujo sistema liberal de mínima intervenção do Estado na economia impedia qualquer forma de regulação às instituições financeiras. Assim, tinham plena liberdade para agir no mercado segundo seus interesses de lucro imediato, não obstante os sinais de que o crescimento vertiginoso da produção não era sustentável.

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Referência

  • BRENNER, Jayme. 1929: a crise que mudou o mundo. São Paulo: Ática, 1998. (Retrospectiva do século XX)
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