27 de novembro: eclosão da Intentona Comunista

27 de novembro: eclosão da Intentona Comunista

A eclosão da Intentona Comunista, em 27 de novembro de 1935, foi marcada pela revolta dos membros da Aliança Nacional Libertadora (ANL) contra o governo de Getúlio Vargas. Se você tem o sonho de ingressar na carreira militar, confira esse artigo que o Estratégia Militares preparou para você!

O Governo Constitucional de Vargas foi marcado por uma enorme influência do cenário político internacional, uma vez que a Europa passava por uma divisão política que  culminaria na Segunda Guerra Mundial. 

Enquanto alguns países simpatizavam com regimes de extrema-direita – como a Itália fascista de Benito Mussolini e a Alemanha nazista de Adolf Hitler – a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) implantava um sistema político de esquerda, ainda que totalitário, conforme o projeto socialista de Stálin. 

O reflexo das opções europeias foi percebido na formação de duas organizações políticas no Brasil: Aliança Nacional Libertadora e Ação Integralista Brasileira, os primeiros grupos a mobilizar parcelas significativas da sociedade brasileira. 

O primeiro, conhecido como ANL e fundado em 1935, representava os interesses antifascistas do país, alcançando inúmeras lideranças de esquerda, com destaque para os membros do Partido Comunista Brasileiro (PCB). 

O  grupo era liderado por Luiz Carlos Prestes, famoso pela ostensiva luta no Movimento Tenentista. Tocado pelos preceitos marxistas após o fim da Coluna, o Cavaleiro da Esperança, como ficou conhecido, procurou utilizar a Aliança para difundir os ideais socialistas no país. 

Entre as propostas do grupo destacam-se a luta pela reforma agrária, a nacionalização de empresas estrangeiras e o não pagamento da dívida externa. A ANL era composta, em sua maioria, de socialistas, contando também com a participação de liberais antifascistas, simpáticos a medidas populares. 

Tropa militar na Eclosão da intentona comunista
Divulgação: Wikicommons

Origens da Intentona Comunista

O fascismo brasileiro surgiu em 1930 com a fundação do Partido Fascista Brasileiro, criado pelo militar Afonso Rodrigues Filho. Em 1931, o tenente Severino Coimbra organizou a Legião Cearense do trabalho.

No mesmo ano também apareceu em Minas Gerais, a Legião de Outubro, tendo entre seus fundadores Francisco Campos e Gustavo Capanema. Em seguida, surgiram outros partidos fascistas em todo o território nacional.

Como a pluralidade partidária é contrária à doutrina fascista, todos os partidos e movimentos resolveram se fundir na chamada Ação Integralista Brasileira (AIB), que colocou Plínio Salgado como seu líder máximo.

Oficialmente, a AIB tornou-se pública em outubro de 1932 com o lançamento do Manifesto de Outubro.

Aliança Integralista Brasileira

Em 23 de abril de 1933, Plínio Salgado, à frente de 40 pessoas, realizou a primeira marcha integralista em São Paulo. Em 1934, o integralismo, conforme seus dirigentes, teria cerca de 300 mil membros espalhados pelo país em quatro mil células.

Na imprensa, os integralistas controlavam oito jornais, entre eles. A Ofensiva, no Rio e Ação, em São Paulo, e mais uma centena de publicações periódicas como Panorama e Anauê!, segundo declaração de Plínio Salgado.

Como acontecia em todos os movimentos fascistas, havia um intenso uso de símbolos em uniformes, bandeira, hinos e marchas com estandartes.

Uniformizados, os integralistas utilizavam a letra grega “Σ” (sigma) como símbolo do grupo. Essa letra corresponde ao “S” e pode ser entendida como soma. Segundo o grupo, é usada para indicar a soma dos infinitamente pequenos e também era a letra com a qual os primeiros cristãos da Grécia indicavam o nome de Cristo (Soteros).

Políticos na Eclosão da intentona comunista
Divulgação: Wikicommons

Os integralistas utilizavam o cumprimento “Anauê”, palavra do vocábulo tupi que servia de saudação e grito dos indígenas, apresentando um conteúdo afetivo que significa “Você é meu irmão”. 

Por meio de tais símbolos, os membros da AIB ecoavam o ideário fascista de priorizar a coletividade em detrimento da afirmação da individualidade como estratégia fundamental de controle. 

Defendiam o Estado fortemente centralizado, o combate ao comunismo, o fim dos partidos políticos, o nacionalismo exacerbado e tinham como lema “Deus, Pátria e Família”.

O crescimento do integralismo assustou muita gente, desde os democratas mais liberais, até os comunistas fanáticos – que já tinham um exemplo, na Alemanha, da força que as ideologias extremistas podiam alcançar. 

Em 1933, os comunistas alemães se recusaram a apoiar os social-democratas nas eleições para o Parlamento e, assim, acabaram facilitando a eleição de muitos nazistas, o que possibilitou a ascensão de Hitler ao poder.

Aliança Nacional Libertadora 

Assim, a partir de 1934, os comunistas passaram a propor a formação de frentes únicas, com socialistas, radicais, liberais e quem mais desejasse combater o fascismo.

O ex-tenente e líder da Coluna Prestes, Luís Carlos Prestes, convertido ao comunismo após retornar de Moscou, procurou os remanescentes do tenentismo e propôs uma aliança, não só para combater o integralismo, mas também a política de Getúlio, na qual apareciam muitos elementos das velhas oligarquias.

Em janeiro de 1935, Luís Carlos Prestes, na Câmara Federal, anunciou a criação da Aliança Nacional Libertadora que, em seguida, recebeu o apoio de várias facções da sociedade, como operários, estudantes, representantes da classe média e políticos liberais.

O programa da ANL possuía cinco pontos fundamentais: 

  • Governo popular;
  • Liberdade;
  • Proteção aos pequenos, médios proprietários;
  • Nacionalização das empresas estrangeiras; e 
  • Cancelamento unilateral da dívida externa. 

Sob imensa aclamação, um estudante, chamado Carlos Lacerda propôs Luís Carlos Prestes como presidente de honra da ANL.

Em pouco tempo, a ANL organizou cerca de 1.500 núcleos de militantes – só no Rio havia mais de 50 mil adeptos. A capacidade de mobilização feita pelos aliancistas contrastava com as formas arcaicas de atuação dos políticos tradicionais. Diante desses movimentos oponentes, o cenário político brasileiro ficava cada vez mais conturbado.

A ANL cresceu rapidamente, tornando-se um vigoroso movimento de massas, antepondo-se aos integralistas e ao governo de Vargas, acusado de autoritário e de ser de caráter antipopular. Discretamente, Getúlio aproximava-se dos integralistas, mas ao mesmo tempo não apoiava os aliancistas.

Na verdade, isso demonstrava a grande habilidade de Vargas em manipular os extremos, um contra o outro, produzindo na sociedade uma tremenda insegurança e receio ante uma política aberta como a que estava sendo praticada, numa época em que o liberalismo estava em baixa (FAUSTO, 1993).

Para definir tal inclinação do Governo Vargas à AIB, utiliza-se o termo fascistóide, por não se referir à absorção literal da ideologia fascista. 

Como consequência, a ANL foi fechada, em novembro de 1935, a pedido de Filinto Müller, chefe de polícia e atuante no regime, que acreditava na ameaça institucional dos aliancistas seguidores de Prestes.

Eclosão da Intentona Comunista

O fechamento da ANL teve como resultado uma articulação dos setores militares ligados ao movimento, que promoveram uma mal sucedida reação, ainda em novembro de 1935. 

Chamado pejorativamente pelo Governo Varguista de Intentona Comunista, o levante ocorreu nas cidades do Rio de Janeiro, Recife e Natal, e foi prontamente massacrado pelas tropas do governo.  

Elas aproveitaram o episódio para prender jornalistas, sindicalistas, operários, artistas, políticos e todo tipo de adversário do regime que ameaçasse as pretensões centralizadoras do Governo Vargas, destacando-se Luiz Carlos Prestes, preso em março de 1936. Foi a partir desse ocorrido que o regime começou a se fechar. 

O perigo socialista da Intentona Comunista também foi capitalizado por Getúlio Vargas, por meio da construção da ideia de uma “ameaça comunista”. Foi nesse cenário que se deu início à campanha eleitoral para o cargo de presidente. 

São Paulo, por meio do Partido Constitucionalista, lançou o nome  de Armando de Salles Oliveira, que disputaria as eleições contra o escritor José Américo de Almeida, apoiado pelo presidente. Uma outra opção eleitoral ficava por conta dos integralistas, que lançaram sua principal liderança, Plínio Salgado. 

Apesar das candidaturas existentes, era nítida a possível ação golpista do presidente Vargas, cada vez mais centralizador. Faltava apenas um catalisador para o golpe, que acabou sendo produzido pelos integralistas, baseando-se na criação do capitão Olímpio Mourão Filho.

Em setembro de 1937, a Imprensa Nacional divulgou a descoberta de um projeto comunista – posteriormente identificado como falso – conhecido como Plano Cohen, que visava instaurar um regime de esquerda no país. Em 10 de novembro de 1937, o presidente cancelou as eleições, utilizando como pretexto a ameaça que recaía sobre o país, e instaurou um regime ditatorial que duraria até 1945. 

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Referência

FAUSTO, Boris. História do Brasil. 2ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 1995.

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