Getúlio Vargas: carreira militar, Era Vargas e muito mais!

Getúlio Vargas: carreira militar, Era Vargas e muito mais!

Getúlio Vargas é um dos presidentes mais importantes da história republicana brasileira. Em seu governo, “o pai dos pobres”, como ficou conhecido, mudou a realidade da classe trabalhadora do país ao conferir direitos inéditos a eles. Motivo que o fez ser idolatrado por milhões de brasileiros. 

O Estratégia Militares preparou um artigo que conta um pouco da trajetória do militar e presidente brasileiro, Getúlio Dornelles Vargas.

Quem foi Getúlio Vargas?

Getúlio Dornelles Vargas nasceu no Rio Grande do Sul, na cidade de São Borja, no dia 19 de abril de 1892. Sua mãe, Cândida Dornelles Vargas, e seu pai, Manoel do Nascimento Vargas, eram estancieiros e, além de Getúlio, tiveram outros quatro filhos. A família possuía uma boa situação financeira e gozava de certa influência na região. 

Vida Militar

Além de ajudar na atividade pecuarista familiar, a juventude de Getúlio também foi marcada pelo ingresso na carreira militar. Ele seguiu o exemplo de seu pai, que anos antes havia lutado pelo Exército Brasileiro na Guerra do Paraguai.

Getúlio Vargas tornou-se soldado com apenas 16 anos, ingressando em uma guarnição local do Exército. Aos 18 anos, ele ingressou na Escola Preparatória e de Tática, no município vizinho. 

O momento mais importante de sua curta passagem pelo Exército foi a disputa entre o Brasil e a Bolívia pelo território do Acre. Nesse confronto, Getúlio já se encontrava na patente de Sargento. Pouco tempo depois, Vagas se desligou da Força.

Vida acadêmica e ascensão política

Após sua passagem pelas Forças Armadas, Getúlio decidiu ingressar na faculdade de Direito de seu estado, atualmente conhecida como Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Na graduação, Getúlio começou a se envolver com questões políticas. Ele ingressou no Bloco Acadêmico Castilhista, que veio a ser apoiador do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR). 

O interesse de Vargas pela política e sua aproximação com o líder do PRR, Borges de Medeiros, fizeram com que ele abandonasse a carreira de Promotor Público logo após a conclusão de seu curso para se candidatar ao cargo de Deputado Estadual do Rio Grande do Sul, no ano de 1908.

Getúlio Vargas se elegeu em 1908, a primeira de muitas eleições que ele venceria para o cargo de deputado.

Somente em 1926, com a chegada de Washington Luís à presidência da república, que Vargas deixou de ser deputado para assumir o cargo de Ministro da Fazenda. Ocupou a função por dois anos, pois em 1927, disputou e ganhou as eleições para presidência (cargo equivalente ao atual governador) de seu estado natal, o Rio Grande do Sul.

A Era Vargas

A chegada de Vargas à presidência da república brasileira se deu por alguns fatores que bagunçaram o cenário político da época. O imbróglio começou quando Washington Luís não indicou um sucessor mineiro para sua função, dando continuidade à “Política dos Governadores”. Ele indicou o paulista Júlio Prestes.

Essa situação incomodou muito a oligarquia mineira que, apoiados pelos gaúchos, lançou Getúlio Vargas para candidatura de presidente e João Pessoa como seu vice, para concorrer contra o indicado de Washington Luís.

Júlio Prestes acabou ganhando, o que aumentou ainda mais a pressão exercida pela oposição. A situação ficou pior quando João Pessoa foi assassinado em uma confeitaria no nordeste. Ele, além de candidato ao lado de Vargas, era o governador da Paraíba e o político mais importante do nordeste. Em sua homenagem trocaram o nome da capital paraibana. 

Toda a pressão exercida fez com que Washington Luís renunciasse ao cargo de presidente, mesmo faltando pouco tempo para o fim do mandato. Após sua saída, Júlio Prestes foi impedido de assumir e uma junta governativa decidiu que Getúlio Vargas assumiria a presidência provisoriamente. 

Em 1930, foi iniciado o período conhecido como Era Vargas, que foi dividido da seguinte maneira:

  • Governo Provisório (1930-1934);
  • Governo Constitucional (1934-1937); e
  • Estado Novo (1937-1945). 

Governo Provisório 

O nome é justamente pela característica do governo ter sido de caráter provisório, embora sua duração efetiva tenha sido praticamente a de um mandato. 

O período intitulado como Governo Provisório foi marcado por uma forte centralização política promovida por Vargas. Todos os governadores foram substituídos por ex-militares apoiadores da Revolução, salvo o de Minas Gerais. 

Além disso, o período foi marcado por várias outras atitudes de Vargas que representaram grandes avanços para a época.

  • Publicação do Código Eleitoral (1932): trazia, entre outras novidades, o direito ao voto para as mulheres;
  • Criou políticas de modernização do país;
  • Foram criados vários ministérios importantes, como: o Ministério da Educação, Ministério do Trabalho etc;

O Governo Provisório chega ao fim com a promulgação da Constituição de 1934, que trouxe diversos avanços, como: direitos trabalhistas, criação da Justiça Eleitoral etc. Contudo, Getúlio Vargas foi mantido no poder de maneira indireta para um mandato de mais 4 anos. Assim se inicia o período conhecido como Governo Constitucional.

Governo Constitucional

O período compreendido entre 1934 e 1937, que ficou conhecido como Governo Constitucional, foi marcado pela ascensão de dois grupos opostos no país que eram inspirados pelo Facismo e pelo Comunismo, políticas em alta no resto do mundo. 

A Constituição de 1934, com características liberais e democráticas, suprimiu todo autoritarismo característico de Vargas demonstrado durante o Governo Provisório. 

Na tentativa de recuperar sua postura autoritária e continuar no poder, Vargas convenceu a população de uma ameaça comunista. Apoiado pela maioria do povo, iniciou uma luta contra o avanço Comunista.

Com a justificativa da  luta contra o avanço do Comunismo no Brasil, Vargas conseguiu anular a eleição de 1938 e outorgar uma nova Constituição, a Polaca. Iniciava-se o período mais autoritário da Era Vargas, o Estado Novo.

Getúlio Vargas

Estado Novo

O período mais importante da Era Vargas ficou marcado por muitos avanços para o país. Vargas, além de beneficiar a classe trabalhadora, conseguiu agradar empresários, diminuindo muito a briga entre classes. 

Dentre várias medidas tomadas por seu governo, seguem as principais:

  • Continuação do projeto de valorização do trabalhador com a criação da Justiça do Trabalho e a promulgação da CLT;
  • Forte investimento em indústrias de base; e
  • Criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que era responsável por promover o governo nacionalmente e censurar quem viesse contradizê-lo.

O Estado Novo também foi um período marcado pela Segunda Guerra Mundial, na qual Vargas adotou uma postura de apoio aos norte-americanos.

O apoio aos norte-americanos na guerra fez com que Vargas fosse muito criticado nacionalmente e perdesse o prestígio e a sustentação que o Exército gerava. O motivo era que Vargas enviava tropas brasileiras para lutar contra Estados autoritários da Europa, embora  ele mesmo representasse um.

Nesse cenário, Vargas não resistiu à pressão do Exército e renunciou à presidência em 1945.

Logo após sua renúncia, Vargas já começou a planejar sua volta ao cargo de presidente de forma democrática. Ele criou seu próprio partido chamado de Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e, enquanto articulava sua candidatura à presidência, foi Senador pelo estado do Rio Grande do Sul.

A volta de Vargas ao poder

Nas eleições de 1950, Vargas consegue se eleger presidente de forma democrática, com 49% dos votos. Entretanto, seu mandato foi marcado por muitas crises políticas geradas pela intensa pressão exercida pela oposição.

Os planos e ações de Vargas se pautaram em desenvolver a economia nacional baseando-se na intervenção do Estado na economia, bem como no protecionismo econômico.

Mas a forte pressão fez com que o conturbado mandato de Vargas terminasse de maneira trágica. O estopim se deu quando Carlos Lacerda, contrário ao governo Vargas, sofreu um atentado e descobriram que o mandante da ação fazia parte da equipe de segurança do palácio presidencial.

A situação ficou insustentável e fez com que Getúlio Vargas não resistisse à pressão e atentasse contra a própria vida dando um tiro em seu coração, no dia 24 de agosto de 1954.

Carta de Getúlio Vargas

Segue a íntegra da carta escrita por Getúlio Vargas horas antes de cometer suicídio.

Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder. Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História. (Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas)

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