Dia do Especialista da Aeronáutica: confira a entrevista com o Primeiro Tenente Especialista Paulo Rezende

Dia do Especialista da Aeronáutica: confira a entrevista com o Primeiro Tenente Especialista Paulo Rezende

O militar especialista é o elemento fundamental para o cumprimento das missões da Força Aérea Brasileira (FAB). Isso porque ele tem o conhecimento técnico necessário para executar adequadamente determinada atividade. No dia 25 de março é comemorado o Dia do Especialista da Aeronáutica. Confira o artigo que o Estratégia Militares preparou para você. 

O caminho rumo à aprovação nos concursos militares não é fácil e, principalmente, não é para qualquer um. Somente os corajosos embarcam nessa jornada a fim de conquistarem seu sonho de ingressar nas escolas e academias militares brasileiras.

Os atributos como a garra, a coragem e o espírito de corpo dos mais de 30 mil homens e mulheres integrantes da Aeronáutica são encontrados nos militares especialistas, que formam um conjunto de todo eficaz. Desde 1941, esses profissionais são ancorados pela nobre missão de fornecer o suporte necessário para a atividade fim da FAB, voar e fazer voar.

Sob os pilares da disciplina, do amor e da coragem, os especialistas são formados num dos maiores complexos de ensino militar da América do Sul, a Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAR).

Da formação dos especialistas saem profissionais de diversas áreas, sejam para os hospitais, os esquadrões de voo, as torres de controle de tráfego aéreo ou para a administração nas mais diversas unidades da FAB. Cada um contribui para que as atividades essenciais ao desenvolvimento da nação sejam cumpridas com sucesso.

Confira abaixo como foi a jornada de aprovação do Primeiro Tenente Especialista em Música Paulo Rezende na Escola de Especialistas da Aeronáutica e, posteriormente, suas missões pela FAB.

E.M.: Tenente, para iniciarmos, o senhor poderia dizer qual a sua atual função na FAB, quanto tempo possui de serviço ativo e em qual unidade serve?

Ten. Paulo: Atualmente sou Primeiro Tenente Músico do Quadro de Oficiais Especialistas da Aeronáutica. Sou Regente da Orquestra Sinfônica da Força Aérea Brasileira, tenho 23 anos e 7 meses de serviço ativo e sirvo na Base Aérea de Brasília.

E.M.: Como foi sua preparação para ingressar como especialista músico na EEAR?

Ten. Paulo: Naquela época (1998) eu não tinha acesso à internet. Na verdade, ainda nem existia conteúdo on-line de estudos. Eu também não tinha condições de pagar um curso preparatório e quase não havia material especializado.

Minha mãe, com muita dificuldade, comprou uma coleção de livros que eram preparatórios para vestibular. Eu peguei o livro de português e “devorei” sozinho. Alguns amigos que tinham mais conhecimento me ajudavam a sanar as dúvidas e eu treinava fazendo muitos exercícios de livros e de concursos anteriores.

Na parte específica de teoria musical, eu já tinha uma base, que aprendi nas aulas de música da igreja que eu frequentava. Me aprofundei lendo os livros e dando aulas para alguns amigos no quintal de casa.

Para a prova prática no instrumento, o clarinete, fui com o pouco conhecimento que tinha mesmo. Minha nota não foi muito boa (tirei 7,0), mas a de português (8,6) e de teoria musical (10,0) acabaram compensando e consegui passar no primeiro concurso que fiz.

Na verdade, acredito que foi um milagre eu passar naquele concurso, pois tinha muitos candidatos mais bem preparados que eu. Não aconselho ninguém a fazer como eu fiz, mas deu certo comigo.

E.M.: O senhor se lembra como foi a sua formação na EEAR? 

Ten. Paulo: Sim. Nos primeiros dias que cheguei na EEAR passei por um período de adaptação que durou em torno de 40 dias, onde comecei a conhecer como funciona a vida militar.

Tive diversas instruções, como ordem unida, hinos e canções, toques de corneta, recebi o fardamento, enfim, aprendizados iniciais da vida de um militar.

Acordava muito cedo (antes das 6h) e às 22h desligavam as luzes. E ainda tinha muita coisa para fazer e estudar. Tinha que dar um jeito de fazer no escuro, mas com o tempo fui me adaptando a rotina.

Nesses primeiros 40 dias, a gente não podia sair na rua. Então fiquei sem ver meus familiares, amigos e namorada.

Depois desse período de quarentena as coisas melhoram um pouco. A gente passou a ser liberado aos finais de semana.

O toque da Alvorada era às 6 horas da manhã. Porém, na semana em que estava na equipe de faxina, precisava acordar um pouco mais cedo – às 5h30 – deslocar para o rancho, tomar o café da manhã, voltar para o alojamento, fazer a faxina e arrumar a cama, deixando bem alinhada.

Às sete horas da manhã, a gente entrava em forma num pátio de formatura bem grande.

Lá nós éramos separados pelas especialidades e, após a retirada de faltas, seguíamos marchando para a sala de aula.

Tínhamos aulas entre as 7:30h e 11:30h da manhã, com duração de 45 minutos e pausas para beber água e ir ao banheiro. Elas eram sobre regulamentos, legislações, português, redação etc.

Ao término desse período de aulas na parte da manhã, nós alunos músicos íamos ao alojamento guardar as pastas com o material de estudo e pegar os instrumentos para tocar na formatura que chamamos de Parada Diária do Corpo de Alunos. Um evento diário onde todos os alunos entram em forma e, na presença do comandante do corpo, executam algumas atividades como o hasteamento das bandeiras e a passagem de serviço de aluno de dia.

Após a parada, todos os alunos marchavam num desfile muito vibrante, cantando as canções aprendidas durante a formação. Desse desfile, íamos direto para o rancho (refeitório) almoçar.

No rancho, o horário de almoço era entre 12h e 13h. A gente entrava separado pelas séries e, após o almoço, retornavamos ao alojamento para escovar os dentes e nos prepararmos para a nova jornada de instrução, que começava às 13h da tarde e ia até às 15h30.

Após esse período, começava a atividade física.

Esse treinamento físico durava até as 17h/17h30 Depois a gente podia ir para os alojamentos se preparar para jantar, às 18h.

Após o jantar, nós ficávamos livres até às 19h15, quando acontecia a “revista do pernoite”, onde os alunos mais antigos faziam uma revista para verificar se estávamos evoluindo corretamente.

Eles olhavam coisas como o padrão do nosso fardamento, se o calçado estava engraxado, se a canícula estava bem passada e se todos os alunos estavam presentes, afinal de contas o curso era em regime de internato.

Depois disso, a gente ficava livre para transitar dentro da escola até às 22h. 

Durante esse tempo eu ia para a banda de música para decorar os dobrados, hinos e canções, estudar para as provas na biblioteca, levar roupa para lavar, ligar para a família etc.

A rotina na EEAR era mais ou menos essa. Era uma rotina dura, mas com certeza valeu muito a pena.

E.M.: Após a EEAR, qual foi a primeira unidade que o senhor serviu na FAB? Lembra-se de qual emoção sentiu ao servir em uma unidade já formado como sargento?

Ten. Paulo: Após a formação na EEAR fui servir na Base Aérea do Recife (BARF). Foi uma emoção indescritível! Era a realização de um sonho que eu tinha desde criança: ser um músico militar. Iniciar a carreira profissional fazendo aquilo que sonhei foi uma grande conquista para mim.

E.M.: Na sua carreira como sargento, o senhor exerceu alguma outra função além de músico?

Ten. Paulo: Sim. Durante um período da minha carreira (junho 2010 a agosto 2015) fui fotógrafo da Força Aérea Brasileira, servindo no Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER).

Na verdade, eu fui convidado a trabalhar no CECOMSAER na área de produção musical, criando trilhas, jingles e vinhetas para a recém-criada Rádio Força Aérea e para os vídeos institucionais da Força. Enfim, um trabalho musical.

Porém, além desse trabalho, dava para desenvolver outras atividades e o meu chefe na época me perguntou se eu não tinha interesse em trabalhar na seção de foto. Eu nunca tinha fotografado, mas estava disposto a aprender. E a Força Aérea me deu essa oportunidade. Eu me dediquei e cumpri essa missão.

Foi uma experiência incrível onde pude participar de várias operações e exercícios que proporcionaram registrar e mostrar o trabalho realizado pela FAB.

A Força Aérea realiza inúmeras atividades todos os dias. Você tira a foto e sabe que um desses muitos trabalhos, que grande parte do mundo não tem oportunidade de presenciar, simplesmente se solidificou. Se estabilizou, para todo o sempre.

Você simplesmente garantiu um instante que, do contrário, teria passado para sempre. E agora você tem a possibilidade de voltar e rever aquele instante, seja ele incrível ou corriqueiro, a qualquer hora.

Meu trabalho como fotógrafo me permitiu mostrar ao mundo um pouco do trabalho da Força Aérea Brasileira.

No site da FAB tem um pouquinho dessa história: https://www.fab.mil.br/noticias/mostra/22747/

Sargento Paulo Rezende
Divulgação: Sgt. Jonhanson / Força Aérea Brasileira

E.M.: Ainda como sargento, quais foram as missões que o senhor participou que mais lhe marcaram?

Ten. Paulo: Foram as missões como fotógrafo.

Na Operação Serrana, em janeiro de 2011, que mobilizou cerca de 1.200 militares das Forças Armadas e Auxiliares com o objetivo de salvar vidas e melhorar as condições da população após os deslizamentos que causaram a tragédia na serra fluminense. A primeira impressão que tive, ao chegar ao local, foi de dicotomia de sentimentos. Vi que tinha muito trabalho a ser feito. Por outro lado, vi a desolação total. Muita gente precisando de ajuda de toda ordem, inclusive de apoio moral. Durante a operação, algumas situações ficaram marcadas na minha memória, como as demonstrações de solidariedade do povo brasileiro, o reconhecimento da população da região e, principalmente, um pedido de socorro em específico: uma família que escreveu as iniciais S.O.S. no chão com trigo e pedra e que foi avistada pela equipe do H-34 Super Puma e assim puderam ser resgatada.

Na Operação Ágata 4, em maio de 2012, onde a Força Aérea Brasileira montou um hospital itinerante – o Hospital de Campanha (HCAMP) – em cima de uma balsa destinada ao atendimento de vítimas da cheia no Amazonas. Esse Hospital de Campanha Fluvial da Força Aérea Brasileira superou a marca de três mil atendimentos médicos e odontológicos na região de Moura e Barcelos (AM), a mais de 400 km de barco pelo rio Negro.

Na Missão na Antártida, em março de 2013, onde pude registrar os desafios de operar no continente que desperta interesse do mundo todo. Pudemos mostrar como é voar na Antártida. Ventos fortes, clima instável, gelo, pista curta são apenas alguns dos desafios enfrentados pela tripulação do C-130 Hércules no continente inóspito. A bordo do C-130 vivenciei a força de um continente que guarda um dos maiores tesouros do planeta. 

Avião Hércules na Missão Antártida
Duvulgação: Sgt. Paulo Rezende / Força Aérea Brasileira

Na Troca da Bandeira Nacional no Pico da Neblina, em novembro de 2014, onde tivemos que vencer os obstáculos da selva para registrar a troca da bandeira nacional no ponto mais alto do Brasil, com 2.994 metros. Para que no alto do mastro de 4 metros tremule o símbolo maior da Pátria, enfrentamos quatro dias de caminhada na mata com muita lama, pedras e galhos soltos, raízes escorregadias e plantas com espinhos. Sobe morro, desce morro… Lama, água, vegetação, raízes expostas… A vegetação mudava conforme a altitude. Uma trilha com pedras parecia asfalto depois da lama que cobria até o joelho. A partir da metade do trajeto, o lodo cedia lugar às pedras. E assim foi até o topo. Num determinado trecho, foram dez lepars, uma técnica de subida por corda, um atrás do outro. Foi uma missão muito árdua, mas a chegada ao topo foi um momento de conquista, superação, vencer os próprios limites… Um instante único na vida.

Em 2013, a FAB publicou diversos vídeos sobre a história dos seus militares, ressaltando os valores internos. Um dos convidados foi o Sargento Rezende, que pode compartilhar um pouco sobre sua história, confira!

Divulgação: Youtube / Força Aérea Brasileira

Curtiu a leitura? Confira a segunda parte da entrevista onde é abordado como o Sargento Rezende, na época, conseguiu ingressar na carreira do oficialato da FAB. Fique de olho no Portal do Estratégia Militares para conferir essa entrevista exclusiva!


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