Questão
Provão de Bolsas EEAR
2021
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O que há de África no Brasil?

Há muita coisa de brasileiro que, em realidade, é de origem africana. Conhecê-las é conhecer a nós mesmos

O Brasil não existiria como o conhecemos se não fosse a África. O local onde vivemos surge da ligação de três continentes. Da Europa, nós sabemos quase tudo. E, sem problema algum, nós nos consideramos seus herdeiros. Dos povos originários, nada sabemos, infelizmente (e continuamos, de modo geral, a ignorá-los). O mesmo vale para o continente africano. Mas não seríamos quem somos se não fosse a nossa histórica ligação com a África. Há muita coisa de brasileiro que, em realidade, é de origem africana. Conhecê-las é conhecer a nós mesmos. As provas dessa ligação estão por todo o Brasil e até mesmo sob nossos pés.

Não é tão precisa a história de como foi que aqui chegou. Mas o próprio capim que pisamos e que alimenta o gado não é originário das Américas ou da Europa. É provável que ele tenha vindo a bordo de navios escravagistas que saíam do continente africano no século XVIII. Seus nomes são capim-guiné, capim-pará, capim-marmelada e capim-jaraguá. Hoje eles vivem em regiões em que antes havia Mata Atlântica.

O historiador e brasilianista Warren Dean afirma que mais de quarenta espécies de capim importados da África habitam o solo brasileiro. Não fosse a introdução do capim-guiné, como é que os bois da música do baiano Raul Seixas poderiam abanar o rabo em sua canção de 1983 chamada de Capim-Guiné?

Não é apenas pelo capim que a África aparece em canções de Raul. Na música chamada Rock’n’ Roll, de 1989, ele canta as coisas do seu estado de origem, a Bahia. Há dendê, Oxum e Oxóssi na letra da canção.

O azeite de dendê, como é conhecido no Brasil, ou dendém, como é conhecido na Angola, ou elaeis guineensis, como é cientificamente chamado, vive nos dois lados do Atlântico. Em África, o dendezeiro vive do Senegal até Angola. Já o Brasil é o nono maior produtor de dendê no mundo, sendo que 90% da sua produção fica no estado do Pará. Ou seja, o dendê alimenta pessoas nos dois continentes.

Não foi só o dendê que veio da África para encher barrigas. O quiabo e a bertalha vieram para cá, enquanto a mandioca foi virar matapa em Moçambique e acompanhar o mafé no Senegal. Mas não foi só em gastronomia que o Brasil se tornou próximo da África. Raul Seixas não teria citado Oxum e Oxóssi sem que houvesse uma conexão mais profunda com o continente africano, uma conexão entre mentes e histórias.

Os iorubás são um povo que hoje habita a República da Nigéria. Séculos antes do país se tornar uma realidade em 1960 (data de sua independência), os povos da região, como haussás, igbos, fulani e os próprios iorubás, foram esporadicamente visitados por gente branca do continente europeu. Entre eles, os portugueses, que, durante o percurso para o Brasil, tentavam transformar as pessoas capturadas na África em coisas. Os colonizadores responsáveis pelo tráfico no Atlântico queriam negar a humanidade dos povos africanos.

Ao chegar no Brasil, esses povos, entre eles os iorubás, se tornaram algo novo, mas sem totalmente deixar de ser o que eram. Algo se manteve, algo resistiu. Os colonizadores e traficantes, que pensavam trazer coisas para trabalhar, não sabiam que traziam humanos cujas mentes estavam recheadas com ideias e formas de pensar o mundo que os escravagistas jamais tentaram compreender.

Disponível em: diplomatique.org.br

Assinale, a seguir, a alternativa em que há concordância verbal incorreta, segundo a norma culta.
A
“Em África, o dendezeiro vive do Senegal até Angola.”
B
“Já o Brasil é o nono maior produtor de dendê no mundo, sendo que 90% da sua produção fica no estado do Pará.”
C
“(...) sem que houvesse uma conexão mais profunda com o continente africano, uma conexão entre mentes e histórias.”
D
“Os colonizadores responsáveis pelo tráfico no Atlântico queriam negar a humanidade dos povos africanos.”
E
“Entre eles, os portugueses, que, durante o percurso para o Brasil, tentavam transformar as pessoas capturadas na África em coisas.”