Renascimento: formação de uma nova mentalidade

Renascimento: formação de uma nova mentalidade

Vai participar dos concursos e quer saber um pouquinho mais de história? Vem com a gente! Confira esse artigo que o Estratégia Militares preparou para você sobre o Renascimento.

O Renascimento foi um Movimento Cultural que marcou as mudanças socioculturais europeias rumo à Modernidade. Ele criou a base conceitual e de valores que permitiu a ascensão do pensamento racional e do método científico nos séculos XVI e XVII. Por isso, diversos historiadores relacionam essa nova mentalidade com as transformações que se verificavam no processo de transição da Idade Média para a Moderna.

O Renascimento tem expressão na filosofia, na política, nas artes plásticas, na literatura, na música, na arquitetura, entre outros. Vejamos alguns tópicos importantes sobre esse assunto, que podem ser cobrados na sua prova!

Humanismo e Renascimento

No contexto das modificações que ocorreram no final da Idade Média, sobretudo, aquelas ligadas aos desenvolvimentos comercial e urbano, surgiu uma tendência intelectual questionadora dos dogmas religiosos, os quais monopolizavam justificações para a organização e a explicação da vida. 

Essa corrente filosófica propunha uma revisitação e a retomada da cultura greco-romana. Nesse sentido, valorizou-se os ideais de exaltação do homem e de seus atributos naturais, quais sejam: a razão e a liberdade. 

Essa corrente filosófica foi o Humanismo, a qual foi a base original unificadora do Movimento Renascentista. Vejamos as características do Humanismo e as do Renascimento.

Renascimento

Leonardo da Vinci (1452-1519) foi um dos personagens mais importantes do Renascimento. 

Destacou-se como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. Um verdadeiro homem renascentista! 

É, ainda, conhecido como o precursor da aviação e da balística. 

Ele foi descrito como o arquétipo do homem do Renascimento, alguém cuja curiosidade insaciável era igualada apenas pela sua capacidade de invenção. 

Essa obra ao lado é um estudo matemático de uma descoberta de um arquiteto romano chamado Marcus Vitruvius Pollio (I a.C) que havia se perdido com o tempo. 

Humanismo

O Humanismo surgiu nas Universidades Medievais. Nelas, os estudiosos se dedicavam à análise dos textos da Antiguidade Clássica. O objetivo inicial desses intelectuais era devolver a “pureza original” às traduções dos séculos anteriores que, segundo eles, estavam pautadas em interpretações subordinadas à doutrina cristã. 

Além disso, consideravam que as traduções feitas ao longo do tempo deturparam as ideias originais dos autores clássicos. Assim, redescobriram autores como Platão, Aristóteles e Cícero. Com isso, colocaram em circulação novas interpretações e ideias sobre diferentes assuntos.

Os humanistas também se dedicaram ao estudo das línguas e, por isso, recuperaram textos em grego, em latim, entre outras. Essa dedicação acabou por levar os humanistas aos estudos das instituições políticas e dos métodos de estudos da antiguidade. Dessa forma, o humanismo foi se expandindo e influenciou diversos setores da intelectualidade. 

O traço que melhor caracteriza o princípio humanista, como falamos, foi a ideia greco-romana de exaltação do homem e de seus atributos naturais: a razão e a liberdade. Por essa perspectiva, o homem é criador e criatura do mundo em que vive. Sem romper com a Igreja, exaltava o individualismo, tendo o homem como o centro e ponto de partida da observação e investigação sobre o mundo. 

Por exemplo, o humanista italiano Giovanni Pico della Mirandola (1463-1494), estudioso de Platão, afirmava que Deus criou o homem dotado de liberdade para construir a si mesmo. 

Isso levou ao desenvolvimento do antropocentrismo e do racionalismo, – duas características fundamentais do humanismo e que influenciaram o conjunto do Movimento Renascentista nos séculos subsequentes.Vejamos suas características principais:

  • O antropocentrismo é a concepção do homem como centro e ponto de partida para o pensamento e a observação do mundo. Por isso, enaltece-se a liberdade e a capacidade inventiva e reflexiva dos indivíduos. Esta concepção se opõe ao chamado Teocentrismo, que tinha Deus como centro da organização da vida medieval e, portanto, a exaltação girava em torno da vontade divina. Tendo essa concepção como princípio, desenvolveram-se novas: o individualismo e o racionalismo.
  • O racionalismo era uma decorrência da ideia do antropocentrismo. É a valorização da racionalidade como o grande atributo do ser humano. A busca de um método lógico para conhecer a realidade e descobrir as leis que regem os fenômenos. “O que posso conhecer?” e “Como posso conhecer?” eram as perguntas que os renascentistas faziam. Daí decorre o empirismo, o qual afirma que o conhecimento do mundo provém da experiência prática. Em decorrência da busca pelo conhecimento por esse meio, desenvolveu-se o método científico (método experimental, observação e análise crítica) que se expressou no aparecimento de importantes teorias, como a do heliocentrismo.
  • O heliocentrismo é uma teoria astronômica que coloca o Sol no centro do Universo. Essa teoria superou a teoria clássica de Ptolomeu – a geocêntrica, defendida oportunamente pela Igreja Católica. Foi desenvolvida por Nicolau Copérnico, reafirmada por Giordano Bruno, Galileu Galilei e Johannes Kepler.

Humanismo X Cristianismo

É importante ressaltar que o Humanismo não foi uma corrente anticristã e, tampouco, uma ruptura com os temas cristãos do medievo. O que aconteceu foi uma renovação no tratamento dessas questões, trazendo-as para o campo mais humanístico, baseado na observação empírica, na razão e na liberdade. A proposta era complementar fé e razão, sem perder de vista a perspectiva crítica capaz de explicar dogmas incompreensíveis.

Vemos, portanto, que há uma interpretação científica do mundo. O resultado disso nas artes, sejam plásticas ou arquitetônicas, foi o estudo sobre a perspectiva baseada nos princípios da matemática e geometria. 

Os historiadores da arte, como Gombrich , afirmam que mesmo os gregos e helenísticos, que conseguiram criar ilusões de profundidade, não conheciam o que se descobriu na renascença: leis matemáticas da perspectiva.

Esse conjunto de ideias e posturas racionalista e empirista se opunham à mentalidade da Idade Média – contemplativa e passiva diante das “verdades incontestáveis da Igreja”. 

Foi o pintor renascentista Filippo Brunelleschi (1377-1446) que provocou a revolução que deixou os florentinos italianos perplexos com uma imagem que desaparece no horizonte da imagem, ou seja, a perspectiva. 

Nesse contexto de reflexões filosóficas, científicas e políticas, em que o homem era considerado o centro das elaborações, gerou-se uma visão mais otimista da vida. Essa perspectiva se chocou com o clima de “fim do mundo apocalíptico” predominante no século XIV. 

Aquelas gerações, nas diversas terras da Europa, estavam acabando de sair das mazelas da Idade Média (fome, peste, guerras). A doutrina católica havia construído uma ideia de que todos eram pecadores e só havia salvação na vida eterna. Qualquer visão otimista da vida era um contrassenso para o período e praticamente uma ideia revolucionária em potencial. 

Pois bem, a moral humanista estabeleceu que os homens, apoiados na razão e na graça divina, poderiam construir um novo mundo, baseado na promoção do bem. Para tanto, seria preciso processos de autorreflexão e de autoconhecimento, ou seja, sair da passividade medieval. 

Por isso, um elemento importantíssimo para viabilizar esse autoconhecimento foi a luta pela preservação da liberdade individual, pois as amarras da vida (a servidão, a opressão dos governos e a doutrinação alienante) não permitiriam a busca racional do bem. 

Um dos pensadores que tentou construir uma visão de sociedade baseada nesses pressupostos morais foi o inglês Thomas Morus (1478-1535). Ele escreveu a obra Utopia (1516) em que elaborou uma sociedade ideal baseada na condenação dos governos autoritários (absolutos), dos privilégios e da busca incessante pelo dinheiro.

O movimento humanista também inspirou o pensamento político daquele período, pois pensadores como Nicolau Maquiavel (1469-1527) e Thomas Hobbes (1588-1679) nos ajudam a entender o processo de centralização do poder que caracteriza a formação das monarquias absolutistas e os Estados Nacionais.

O berço e a expansão do Renascimento Cultural 

Os historiadores afirmam que o berço do movimento renascentista foi a Itália. Foram os motivos para isso:

  • Predomínio das atividades comerciais nesta região;
  • Acentuada vida urbana;
  • Migração de estudiosos que viviam em Constantinopla para a Península Itálica, depois da tomada da capital Bizantina pelos turcos em 1453; e
  • Prática do mecenato (patrocínio) por parte dos ricos comerciantes, especialmente em Florença, Gênova e Veneza. 

Vamos ressaltar o mecenato pela importância que essa prática teve para a expansão e divulgação do renascimento cultural. Naquele contexto de transformações nos centros urbanos e comerciais, havia uma competição não apenas econômica, mas também de influência política e social. 

Por isso, os mercadores importantes, bem como bispos e até mesmo os nobres, patrocinavam a arte e a cultura para se tornarem figuras importantes na sociedade. Ter um retrato de si pintado era sinal de poder e status social. 

Para além de uma prática, o mecenato se constituiu como uma relação entre o mecenas e o artista. Ou seja, a prática era uma forma de ambos ganharem status na nova sociedade que se formava na Modernidade.

O historiador Peter Burke, no seu livro “A Fabricação do Rei: a construção da imagem pública de Luís XIV”, sistematizou três formas de mecenato: 

  • Sistema doméstico: uma pessoa rica mantém um artista em sua casa, garantindo dinheiro, moradia, alimentação e lazer em troca de serviços artísticos e literários;
  • Sistema sob encomenda: quando a relação entre o mecenas e o artista dura o tempo da produção de um trabalho encomendado; e
  • Sistema de mercado: quando um artista tenta vender no mercado um trabalho pronto. Era o menos comum e mal visto justamente por conta do caráter personificado das obras.

Humanismo se espalha pela Europa

As ideias humanistas se espalharam pela Europa por meio das rotas comerciais e dos diversos eventos produzidos por vários mecenas. 

Contudo, em 1456, a expansão ganhou grande e significativo impulso: era a criação da prensa de Gutenberg. O primeiro livro impresso foi a Bíblia – impressa em vernáculo alemão. Um feito de muita importância para a Reforma Protestante na Alemanha. 

Era um cenário muito significativo para a profusão dessa nova realidade renascentista. Façamos uma pequena reflexão:

Falamos até aqui que o humanismo forja uma nova mentalidade, racionalista e antropocêntrica, mas sem ruptura com os dilemas e questões eclesiásticas. Havia uma crítica e reinterpretações dos dogmas, mas não um afastamento do divino. 

Assim, a impressão da Bíblia já era em si a expressão do conhecimento técnico científico, já que a prensa foi fruto de uma invenção humana. Além disso, ela foi traduzida do latim para o alemão, o que garantiu a possibilidade da leitura por parte de muitas outras pessoas, que não apenas os membros da igreja. 

Dessa forma, era o homem chegando diretamente perto de Deus e do divino, por meio da sua própria leitura individual do texto sagrado, sem intermediações dos clérigos. Percebe como este cenário era mais humanista e antropocêntrico? 

O homem inventou uma máquina de imprimir livros, traduziu a Bíblia (o mais importante de todos naquele momento), a imprimiu e depois a distribuiu para muitas pessoas lerem. 

Isso era o cenário renascentista no dia a dia, em uma forma popular, para além das reflexões e contribuições individuais dos grandes pensadores. Abria-se a possibilidade de toda uma coletividade refletir. Por isso, não havia como as ideias não se desalojarem dos seus pedestais dogmáticos.  

Ameaças à nova mentalidade

A transição para essa nova mentalidade não foi um processo sem resistência, consensual e tranquilo. Afinal, as bases dessa nova forma de ver, sentir e viver questionavam os alicerces sobre os quais estavam assentados os velhos padrões de pensamento medieval ligados ao catolicismo.

A Igreja Católica se tornou conservadora, no sentido de aversão a mudanças e inovações, e, em conjunto com um setor da nobreza medieval, inicialmente lutou dura e violentamente contra as transformações em curso. No entanto, mais adiante, a Igreja precisou se adaptar ao novo momento histórico e precisou passar por mudanças.

Diante do perigo das ideias inovadoras, o papado reativou o Tribunal da Santa Inquisição e perseguiu vários pioneiros da ciência moderna, como, por exemplo: 

  • Nicolau Copérnico (1473-1543), católico e responsável pela elaboração da teoria heliocêntrica, considerado o “Pai da Astronomia”, foi condenado à morte pela Inquisição;
  • Giordano Bruno (1548-1600), seguidor da teoria heliocêntrica, defendia que o universo era infinito e ele estava inacabado, também foi condenado pela Inquisição e queimado vivo em praça pública; e
  • Galileu Galilei (1564-1642), aprofundou-se em estudos sobre movimento dos corpos, considerado Pai da Física Matemática forneceu base para as ideias posteriores de Isaac Newton, foi condenado à prisão perpétua (em casa).

Texto escrito com base nos conteúdos da Professora Alê Lopes

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