O dia 19 de abril é marcado pela Batalha dos Guararapes, que foi consagrada como o dia do Exército Brasileiro. Confira neste texto a batalha que deu origem à força terrestre e os desdobramentos do conflito que resultou na expulsão dos holandeses do norte do Brasil.
O século XVI foi marcado pela hegemonia espanhola nas relações internacionais na América. A força econômica do império Hispano-Americano, fornecedor de prata e de inúmeras riquezas, era acompanhada de um considerável aparato militar – tendo à frente a “Invencível Armada” – e de sólidas relações diplomáticas. A começar pelo Papado, simpático à defesa da religião católica professada pelo Império Castelhano.
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Antecedentes da Batalha de Guararapes
O poderio espanhol na Europa devia-se também ao fato de o rei da Espanha ser igualmente o imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Isso lhe dava influência na região dos Estados Germânicos e controle sobre os Países Baixos.
Ao final do século XVI, os problemas dinásticos portugueses dariam à Espanha o controle de toda a península ibérica.
União Ibérica
A posse do reino de Portugal pela Espanha, chamada de União Ibérica (1580-1640), foi acompanhada de uma prerrogativa legal: a manutenção da integridade territorial do reino português por meio do Juramento de Tomar. Assim, não ocorreu uma união verdadeira entre os dois países, mas, sim uma apropriação do trono português por Filipe II, rei da Espanha, que passou a ser conhecido também como Filipe I de Portugal.
Na prática, porém, o Juramento de Tomar teve validade restrita, já que o controle de todas as áreas era realizado pela Corte Castelhana e a dita autonomia portuguesa nunca chegou a existir.
Atritos entre a Espanha e a Holanda
Paralelamente ao processo de formação da União Ibérica, os holandeses iniciaram seus esforços para promover a sua independência em relação ao Império Espanhol.
O esforço de Filipe II em impor o culto católico à região holandesa, marcada pela tolerância religiosa e por uma considerável presença de protestantes e judeus, contribuiu para a declaração de independência dos Países Baixos em 1581.
Era o início de décadas de conflitos, que apenas seriam encerrados com os acordos no final da Guerra dos Trinta Anos, em 1648. Foi quando a Espanha reconheceu definitivamente a separação da região. No entanto, antes disso, muitos foram os conflitos bélicos e diplomáticos envolvendo a Espanha e a região da Holanda. Entre as graves questões, inclui-se a influência holandesa no comércio colonial das Américas.
Companhia das Índias Orientais e a Companhia das Índias Ocidentais
Marcados por desenvolverem um mercantilismo pouco produtivo, os holandeses se empenharam no comércio de produtos de várias regiões do globo que, ao serem comercializados, garantiam a riqueza da região.
Com a independência dos Países Baixos decretada no final do século XVI, os espanhóis iniciaram um claro boicote ao comércio holandês, prejudicando substancialmente a economia da Holanda.
A solução para essa situação foi a fundação de companhias comerciais que iriam empreender esforços para tomar as áreas até então controladas pela Espanha. Como exemplo, em 1602, os holandeses fundaram a Companhia das Índias Orientais, responsável pela invasão das áreas asiáticas e africanas controladas pelos castelhanos.
O sucesso da empreitada estimulou a criação da Companhia das Índias Ocidentais, em 1621, que seria responsável pela invasão do nordeste açucareiro brasileiro, área também controlada pela Espanha em virtude da União Ibérica.
O boicote espanhol à comercialização do açúcar produzido na América Portuguesa já havia provocado muitos prejuízos aos holandeses desde o início da União Ibérica.
Caberia à Companhia das Índias Ocidentais, portanto, organizar a ocupação do Brasil para retomar o lucrativo comércio do açúcar e recuperar investimentos anteriormente realizados na região.
O Brasil holandês
Foram duas as tentativas de ocupação do Brasil colonial por parte dos holandeses. A primeira ocorreu em 1624, quando estes tentaram ocupar a capital Salvador com 26 navios e aproximadamente três mil homens, chefiados pelo comandante Jacob Willekens.
Apesar dos esforços empreendidos pelos flamengos, a expedição não conseguiu sucesso, sendo os holandeses rechaçados no ano seguinte, após sucessivas batalhas. Mesmo com o fracasso, eles continuaram atacando possessões ibéricas na América por cinco anos, chegando a saquear importantes navios carregados de prata oriunda das regiões coloniais.
Curiosamente, a Companhia das Índias Ocidentais foi considerada a primeira empresa de capital aberto da História, utilizando a venda de ações para os interessados em patrocinar a invasão das áreas de domínio espanhol.
Segundo alguns historiadores, foram encontradas ações da Companhia até no reino português. Com todos esses recursos e riquezas provenientes dos saques, os holandeses invadiram a próspera capitania de Pernambuco, em 1630. A opção pela região se justificava pelo rico comércio de açúcar, com destaque para as cidades de Olinda e Recife.
Apesar dos grandes esforços empreendidos pelas forças de resistência, os holandeses conseguiram assumir o controle do território. A pacificação da região só se consolidou plenamente em 1635, contando, para isso, com o auxílio de líderes locais, como o mulato Calabar, que se dispuseram a apoiar o projeto dominador holandes no nordeste açucareiro.
Por que Calabar foi considerado um traidor?
Por mudar de lado, Francisco Fernandes Calabar ficou conhecido na História como um grande traidor. Os portugueses, inclusive, enxergavam-no como um contrabandista. Embora não tenha sido o único, o seu comportamento contribuiu significativamente para a vitória holandesa.
Vários argumentos relacionados a motivações econômicas, ideológicas, religiosas e patrióticas têm sido apontados para ampliar a compreensão de sua mudança de lado.
Diante disso, é importante ressaltar, primeiro, que Calabar era contra a escravidão e, segundo, que os holandeses prometiam liberdade aos índios e negros que lutassem ao seu lado. Fatos que ajudam, portanto, a explicar a “traição” de Calabar.
Administração de Maurício de Nassau no Brasil
Fixados na porção mais rica da colônia portuguesa na América, caberia aos holandeses fortalecer as atividades produtivas com o intuito de cumprir o objetivo da ocupação da região. Para essa função, foi nomeado o conde Maurício de Nassau, que passou a administrar a área de domínio holandês a partir de 1637.
O controle político exercido por Nassau na região se notabilizou pela harmonia com os produtores açucareiros e a relativa tolerância empreendida na administração da região. Por meio de empréstimos aos senhores de engenho, a atividade canavieira foi retomada.
O abastecimento da região com os escravos negros foi garantido, já que as principais praças africanas fornecedoras de cativos também haviam sido invadidas pelos holandeses.
Nassau instituiu um processo de modernização de Recife, pavimentando ruas, construindo pontes, diques e canais. A construção de teatros, do zoológico, do observatório astronômico, bem como as obras de embelezamento arquitetônico transformaram Recife em uma das principais cidades da América Portuguesa.
Além das obras de arte, assinadas por Frans Post e Albert Eckhout, os registros científicos, feitos por naturalistas como Georg Marcgraf, possibilitaram aos historiadores melhor compreensão do universo açucareiro do Século XVII.
No âmbito político, foram criadas as Câmaras dos Escabinos, órgão municipal que contava com a participação dos grandes senhores de engenho.
Tamanhas foram as transformações na cidade de Recife, que ela chegou a ser denominada Mauritzstadt, ou seja, cidade Maurícia, em homenagem ao realizador das reformas.
Maurício de Nassau também estabeleceu a liberdade de culto, favorecendo a vinda de judeus e protestantes para a área colonial. A restrição religiosa desagradou os jesuítas, defensores ferrenhos da Igreja Católica e incompatíveis com o clima de tolerância proposto pelo governo de Nassau.
Insurreição Pernambucana
Enquanto Nassau buscava exercer seu governo no nordeste açucareiro, importantes transformações ocorreram na Europa. Em 1640, a União Ibérica chegava ao fim, devido à restauração do trono português com a ascensão da dinastia de Bragança.
A resistência espanhola em aceitar a separação exigiu que o reino luso promovesse acordos diplomáticos para confirmar a ascensão da nova dinastia. Os portugueses conseguiram o apoio dos holandeses, mas o preço a ser pago foi a assinatura da trégua dos 10 anos, que permitiu o controle da região nordestina pelos flamengos.
Esse novo cenário garantiu uma exploração do território sem os gastos excessivos empreendidos por Nassau, que foi afastado do controle da região em 1644. Apesar de anos mais harmoniosos favorecidos pelo governante holandês, a resistência ao domínio dos flamengos nunca desapareceu.
Após o afastamento de Nassau, a Companhia das Índias Ocidentais optou por endurecer sua administração na região, resgatando os empréstimos concedidos e aumentando o controle sobre a população. Foram adotadas práticas de feição mercantilista, sendo estes os fatores que desencadearam diversos focos de resistência por parte dos nordestinos.
A Insurreição Pernambucana (1645-1654) foi o principal movimento. Ela conseguiu, depois de muitos conflitos, expulsar os holandeses da rica região açucareira.
Primeira Batalha de Guararapes
Em 1648, os holandeses decidiram romper o cerco terrestre de Recife e conquistar o interior pernambucano, dominado pelos brasileiros. A única maneira deles chegarem à região do Cabo era por meio da Estrada da Batalha, que em um de seus trechos era estreitada pelos Montes Guararapes. Esse estreitamento era denominado de Boqueirão.
Devido a isso, os holandeses tinham o objetivo estratégico de ocupar os Montes Guararapes para garantir a passagem das tropas flamengas e impedir a de suprimentos e tropas brasileiras para reforço dos combatentes.
Ao perceberem as intenções dos holandeses, os brasileiros se anteciparam e, durante a noite, ocuparam os Montes Guararapes.
Quem liderou a Batalha dos Guararapes?
As tropas brasileiras eram comandadas por Francisco Barreto de Menezes e seus grupamentos eram lideradas por:
- Felipe Camarão – índio que liderou o flanco direito dos Montes Guararapes;
- Henrique Dias – escravo negro que liderou o flanco esquerdo dos Montes Guararapes;
- João Fernandes Vieira – militar branco e senhor de engenho que liderou as tropas no centro entre os montes;
- Antônio Dias Cardoso – militar branco que liderou a linha de frente das tropas; e
- André Vidal de Negreiros – militar que liderou as tropas reservas na retaguarda.
Antônio Dias Cardoso foi o lançador dos ataques às tropas holandesas, retardando-as e atraindo-as para o Boqueirão. Eles enganaram as tropas flamengas, fazendo-as acreditar que estavam lutando contra a principal tropa de resistência, também nomeados de Patriotas. Mas na verdade, estavam sendo levadas a uma emboscada.
Os holandeses foram surpreendidos e cercados com uma tropa dez vezes maior que a esperada. Desorganizadas, as tropas holandesas recuaram, tentando fugir da emboscada. No entanto, os que fugiram pelo flanco esquerdo ficaram atolados nas regiões alagadas, sendo totalmente destruídos pelos índios de Felipe Camarão.
Os que fugiram pelo flanco direito, conseguiram fazer com que as tropas lideradas por Henrique Dias recuassem até a região do atual Morro da Igreja e, mais tarde, até o Recife.
Ao término da Primeira Batalha de Guararapes, os holandeses haviam perdido 1.038 dos 4.500 militares, sendo que 515 foram mortos. Já os brasileiros perderam 480 dos 2.200, sendo 80 mortos, garantindo sua vitória.
O que aconteceu na segunda Batalha dos Guararapes?
Um ano depois, na mesma região dos Montes Guararapes, os holandeses se reorganizaram e partiram para uma revanche com uma tropa composta com mais de cinco mil experientes soldados.
Contudo, as tropas patriotas, compostas com cerca de 2.600 homens de infantaria e 50 cavaleiros, destruíram as forças holandesas no Boqueirão. Foram mortos 2.000 militares holandeses, incluindo seu melhor comandante, Van den Brinck, enquanto nas tropas brasileiras, morreram 47 combatentes e cerca de 200 ficaram feridos.
As tropas patriotas enclausuraram os holandeses em Recife, quando em 1654 ocorreu a rendição na Campina do Taborda.
As duas batalhas consagraram a região de Guararapes como o local de nascimento do Exército Brasileiro, visto que, segundo pesquisas historicas, foram nelass em que a palavra “Pátria” foi mencionada pela primeira vez, simbolizando a união de brancos, negros, índios, brasileiros e protugueses, contra um inimigo comum.
Quando foi a Batalha de Guararapes?
O dia 19 de abril é marcado como a data da Primeira Batalha de Guararapes, além de ser celebrado a criação do Exército Brasileiro.
Parque Histórico Nacional dos Guararapes
Atualmente, a região onde ocorreu as batalhas é preservada pelo Parque Histórico Nacional dos Guararapes (PHNG). Fica localizado no município de Jaboatão dos Guararapes (PE), na região metropolitana de Recife.
No local foi construída, em 1656, por ordem do General Francisco Barreto de Menezes, a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, tombada como patrimônio histórico do Brasil em 30 de outubro de 1961.
O parque foi criado em 1971 e, em 1996, foi revitalizado. Ele recebeu da 7ª Região Militar, juntamente com a 5ª Coordenação Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Plano Diretor do PHNG.
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