O classicismo, como movimento literário, surgiu durante o período áureo da Renascença na Itália. Para saber mais sobre esse movimento literário, confira esse artigo que o Estratégia Militares preparou para você!
Antes do classicismo, houve algumas manifestações literárias na Idade Média. Não se pode falar de uma vasta produção, pois o que há de registro dessa época são fragmentos de textos, poemas alternados pelo tempo, batizados naquele período como cantigas, pois eram feitas para serem recitadas com o acompanhamento de um instrumento musical.
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Contexto histórico e cultural do classicismo
É importante ressaltar a necessidade de se ter cautela com a forma que a era clássica é tratada, especialmente com expressões clichês, como aquela que a considera o “século das trevas”.
Segundo essa ideia, o Renascimento seria, portanto, um tempo de luz, análogo a outro tempo luminoso, a Antiguidade Clássica. Entre ambos, entretanto, estariam os “tempos obscuros” da Idade Média.
Importa indagar-se se é tão obscura assim uma época onde construíram-se tão fantásticas catedrais e se o Renascimento no século XVI seria possível, tal como ocorreu, se os textos antigos, como Heráclito, Virgílio, Platão, Aristóteles e Cícero, não tivessem sido recopiados tal como durante a Idade Média.
Trovadorismo
A poesia medieval, que nasce com os trovadores do século XII, exalta o amor infeliz. O trovador lamenta a rejeição de uma bela dama. E esse amor pressupõe um ritual, a vassalagem amorosa, ou seja, o cavaleiro-trovador jura fidelidade a essa dama, colocando-se a serviço dela.
Perceba no poema abaixo que existe uma compreensão do amor como paixão, tão valorizada séculos depois no Romantismo, como neste exemplo do poeta provençal Arnaut Daniel (1180-1210):
Surdo e cego às demais, eu vivo aqui, somente Para ouvir sua voz e olhar seu olhar. Dela não falo bem para ser lisonjeiro, Que à fala falta cor e som se descolora Sem conseguir louvar o que a paixão avista: Montes, vales dos rios, nada me satisfaz, Pois nela a perfeição de tudo se perfez CAMPOS, Augusto de. Verso, reverso, controverso. São Paulo: Perspectiva, 1978. p. 55.
À simples leitura desses versos, constata-se sua riqueza formal. É evidente, porém, que pouca gente, nessa época, pôde usufruir dessa riqueza, porque a Igreja Católica controlava quase toda a produção cultural.
Contudo, o “quase” não é apenas um detalhe e sempre alguma coisa escapa à “visão teocêntrica do mundo”. Por exemplo, o próprio fato do poeta, na época, ser chamado de “trovador”, que significa aquele que encontra, acha, inventa, é persuasivo.
A literatura oral, que então circulava nas cortes, não tinha a rigidez moral dos textos dos mosteiros, mas obedecia a certas regras reunidas no chamado Código do amor cortês.
A dama pertencia, geralmente, à nobreza para que o trovador pudesse estabelecer com ela uma relação de vassalagem (serviço). Ela era a dona (a que domina) e ele, seu servidor. Uma relação vertical em termos sociais. O amor não correspondido foi chamado coita de amor. Daí vem o adjetivo “coitado”.
Na cantiga de amor lusitana, o sujeito poético é sempre masculino e dirige sua louvação a uma dama. Na cantiga de amigo, o eu lírico fala da saudade que sente do amigo (namorado) ausente, embora seja um homem (trovador) quem cria a voz poética feminina.
Quanto às cantigas satíricas – que criticam nobres e damas – dividem-se em:
- cantigas de escárnio, nas quais o trovador zomba de alguém por meio de palavras ambíguas (duplo sentido); e
- cantigas de maldizer, em que o trovador ataca diretamente o desafeto.
Humanismo e a transição da Idade Média para o Renascimento
O chamado Humanismo é um período situado entre os séculos XIV e XV que faz a transição entre a era Medieval e o Renascimento, do qual o Classicismo é a expressão artística. O nome Humanismo já mostra sua característica principal: o deslocamento do foco de valorização do poder divino para a aventura humana no mundo.
O teocentrismo e a religiosidade, marcantes na Idade Média, entram em declínio. O homem começa a se descobrir senhor de sua própria existência e a cultivar valores mais materiais. Isso em razão:
- do surgimento da burguesia, que enfraqueceu o poder dos senhores feudais;
- do aumento das relações comerciais, responsável pela concentração de riquezas na classe emergente;
- da expansão de fronteiras por meio das navegações ultramarinas; e
- do predomínio do poder econômico sobre o status da nobreza.
Esse novo contexto socioeconômico fez nascer o movimento cultural denominado Humanismo.
É na Itália que surge A divina comédia, de Dante Alighieri (1265-1321). É a obra-prima da literatura ocidental, súmula da visão católica, mas que também apresenta fortes traços do Humanismo.
A divina comédia representa o ponto mais alto, mas também o esgotamento da visão de mundo medieval. Basta dizer que essa obra narra a viagem de Dante pelo inferno, purgatório e paraíso, três destinos das almas segundo a mitologia católica.
Acontece que Dante, nas passagens pelo inferno e purgatório, é guiado pelo poeta romano Virgílio, autor de Eneida, que será revalorizado no Classicismo.
Em A divina comédia, os escritores gregos, como Homero e Aristóteles, não estão no inferno e sim no limbo, lugar que acolhe as almas que não conheceram a Deus, mas foram corretas e honestas.
A literatura praticada no Humanismo volta-se mais para o prazer dos cortesãos, deixando um pouco de lado a dor das perdas e da saudade. Diversificam-se também os gêneros.
Um exemplo disso, são as crônicas de Fernão Lopes, escritas a partir de 1434, que reconstituem os principais acontecimentos dos reinados de D. Pedro I, D. Fernando e D. João. O importante aqui é a atenção dada à participação popular na história dos reis.
Sirva de exemplo esta passagem sobre a visita de D. João à cidade de Porto:
"As janelas das casas eram ocupadas com formosas donas e mulheres doutra condição (não nobres), com grande desejo de o (Rei) ver, assim guarnidas (enfeitadas) de tais corregimentos (adornos), que fealdade e mau parecer não ousaram aquele dia entrar na cidade. E em certos lugares havia bandos de mulheres que cantavam muitas cantigas, e cordas armadas para tramparem homens que o bem fazer sabiam, quando El-rei ali chegasse". LOPES, Fernão. Quadros da crônica de D. João I. Direção de Rodrigues Lapa. Belo Horizonte: Itatiaia, 1960. p.83.
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