Marechal Mascarenhas de Moraes: a trajetória de um herói nacional

Marechal Mascarenhas de Moraes: a trajetória de um herói nacional

No coração da campanha militar brasileira na Segunda Guerra Mundial, emerge uma figura que personifica a coragem, a estratégia e a lealdade: o Marechal João Batista Mascarenhas de Moraes. Para saber mais sobre o comandante da Força Expedicionária Brasileira, confira esse artigo que o Estratégia Militares preparou para você!

Um dos ícones da nossa história militar, João Batista Mascarenhas de Moraes, nasceu em 13 de novembro de 1883, na cidade de São Gabriel, no Rio Grande do Sul. Ele trilhou um caminho exemplar na carreira militar, desde os dias como aluno na Escola Preparatória e de Tática no Rio Grande do Sul até alcançar a mais alta patente do Exército Brasileiro.

Origens 

Filho de Evaristo Mascarenhas de Moraes, um caixeiro viajante de Encruzilhada do Sul, e Maria Vieira de Moraes, o futuro marechal enfrentou desde cedo as dificuldades de uma infância humilde. Seu pai abriu um pequeno armazém na cidade de São Gabriel, onde ele cresceu com seus dois irmãos, Maria Joaquina e Enéas Mascarenhas de Moraes.

Aos 14 anos, Mascarenhas mudou-se para Porto Alegre, onde conciliou trabalho e estudos. Em 1899, ingressou na Escola Preparatória e Tática de Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. 

Entre seus colegas estavam figuras que também marcariam a história do Brasil, como Getúlio Vargas e Eurico Gaspar Dutra. Em 1902, concluiu o curso e foi aceito na renomada Escola Militar do Brasil, também conhecida como Escola da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro.

No conturbado ano de 1904, durante a Revolta da Vacina, Mascarenhas testemunhou o fechamento da Escola da Praia Vermelha. Apesar de não ter participado diretamente do movimento, o evento marcou profundamente o período de sua formação. 

A Revolta da Vacina e o fechamento da Escola Militar da Praia Vermelha

No turbulento ano de 1904, o Rio de Janeiro foi palco de um dos episódios mais marcantes de sua história. Sob a gestão do prefeito Pereira Passos e do sanitarista Oswaldo Cruz, a capital do país passava por um intenso processo de reforma urbana e saneamento. 

A população mais pobre foi expulsa do centro da cidade, deslocando-se para os morros, onde surgiram as primeiras favelas. Paralelamente, o governo instituiu a vacinação obrigatória contra a varíola, com o objetivo de erradicar a doença.  

A vacinação, no entanto, foi imposta de forma autoritária e violenta, sem esforços de esclarecimento ou diálogo com a população, que já vivia sob forte pressão social devido às mudanças urbanísticas. 

A desconfiança e a indignação cresceram, culminando em uma revolta popular. Por uma semana, o caos tomou conta da cidade. Várias barricadas foram erguidas, bondes incendiados e confrontos ocorreram entre os manifestantes e as forças do governo.  

Entre os alvos da rebelião estava a Escola Militar da Praia Vermelha, que foi fechada após os acontecimentos. A instituição tornou-se cenário de tensões e vários cadetes, alinhados com os insurretos, foram expulsos. 

Embora o jovem João Batista Mascarenhas de Moraes não tenha participado diretamente do movimento, sua formação militar foi interrompida temporariamente devido à crise.  

Revolta da Vacina, 1906

Trajetória militar de Mascarenhas de Moraes

Promovido a Alferes-aluno em 1905, Mascarenhas de Moraes iniciou sua trajetória no 1º Regimento de Artilharia de Campanha em São Gabriel, onde serviu até 1909.

Ao longo de sua carreira militar, Mascarenhas ascendeu do mais baixo posto militar a Marechal, o mais alto da hierarquia militar brasileira – e sempre conduzindo sua trajetória com dignidade, ética e respeito às instituições. 

Sua liderança durante a Segunda Guerra Mundial como comandante da Força Expedicionária Brasileira (FEB) consolidou seu nome na história militar nacional. À frente de soldados brasileiros nos campos nevados e montanhosos da Itália, o então General Mascarenhas conduziu a FEB em batalhas históricas, obtendo vitórias, em Monte Castelo, Castelnuovo, Montese e Fornovo.

Participação de Mascarenhas de Moraes na FEB

Durante a campanha da Itália na Segunda Guerra Mundial, o General Mascarenhas de Moraes, comandante da FEB, enfrentou desafios que iam além do campo de batalha. Relatos históricos revelam duas situações em que a integridade, o caráter e a liderança do general foram colocados à prova devido a intrigas internas e manobras que tentavam desestabilizar seu comando.

A primeira situação ocorreu em outubro de 1943, durante a visita do então Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra, à 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE). 

Na ocasião, alguns oficiais tentaram convencer o ministro a substituir Mascarenhas, sugerindo que o comando da 1ª DIE fosse entregue ao General Zenóbio da Costa, enquanto Mascarenhas assumiria o comando geral da FEB. 

A proposta chegou até o comando norte-americano por intermédio do General Wooten, mas Mascarenhas só tomou conhecimento da trama por meio do General Mark Clark, comandante aliado na Itália. 

Surpreso, Mascarenhas expressou sua oposição à ideia, recebendo o apoio firme de Clark, que reafirmou sua confiança no líder brasileiro. O episódio fortaleceu os laços de confiança e respeito entre os comandantes brasileiro e norte-americano, essenciais para o sucesso das operações militares.

A segunda ocasião foi articulada no Brasil e consistia na implementação de um rodízio que determinava a substituição de oficiais brasileiros na Itália após seis meses de atuação. 

A medida, aprovada pelo Ministro da Guerra, foi planejada sem consultar Mascarenhas e seria executada pouco antes da Ofensiva da Primavera, colocando em risco toda a experiência adquirida pelos combatentes durante meses de instrução e combate

Ao tomar conhecimento da manobra, o general brasileiro recebeu uma ordem formal para executá-la, mas conseguiu adiá-la indefinidamente. 

Com o apoio do General Truscott, comandante do V Exército, e do General Crittenberger, do IV Corpo de Exército, Mascarenhas restringiu o uso de transporte aéreo para o rodízio apenas a casos que favorecessem o cumprimento da missão. Dessa forma, ele aproveitou a oportunidade para repatriar discretamente alguns oficiais por motivos de saúde ou inadequação.

Esses episódios reforçam o papel de Mascarenhas como um líder que priorizou a missão e os valores militares acima de interesses pessoais.

Legado militar de Mascarenhas de Moraes

Ele deixou como legado duas lições fundamentais, o líder deve fazer o que precisa ser feito, independentemente das dificuldades, e deve sempre se orientar pelo compromisso com a missão, mesmo diante de pressões internas ou externas.

Reconhecido como estrategista brilhante e líder equilibrado, Mascarenhas foi exaltado tanto por seus compatriotas quanto por líderes aliados. Sob sua liderança, a FEB não apenas conquistou vitórias táticas, mas também demonstrou valores éticos e humanitários que lhe renderam o reconhecimento internacional. 

O presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, destacou sua bravura, tendo acumulado 27 condecorações, sendo 11 nacionais e 16 internacionais.

Aposentado em 1951, com a honraria de Marechal vitalício, Mascarenhas continuou a ser celebrado por sua contribuição à pátria. Em 1959, sua terra natal, São Gabriel, celebrou o centenário de sua emancipação. Nesse dia, ele foi um dos maiores homenageados, mas foi representado por sua esposa devido a uma forte gripe que o impediu de comparecer. 

A cidade perpetuou sua memória com um monumento localizado na Praça Fernando Abbott, onde estão inscritas as batalhas que ele comandou.

Mascarenhas de Moraes faleceu em 17 de setembro de 1968, no Rio de Janeiro, aos 84 anos. Seu funeral causou grande comoção entre civis e militares. O jornal Correio da Manhã relatou que uma boina e uma braçadeira dos ex-combatentes da FEB foram depositadas sobre seu caixão, simbolizando o respeito e a gratidão dos que lutaram sob sua liderança. 

Embora a família tenha dispensado honras militares formais, salva de tiros, toques de silêncio e leituras póstumas marcaram seu sepultamento.

Seu nome batiza a 1ª Divisão de Exército, que carrega as tradições da FEB, e sua memória inspira gerações de militares e civis. O Marechal Mascarenhas de Moraes não apenas liderou homens em batalha, mas também deixou um exemplo de ética, profissionalismo e amor à pátria que transcende seu tempo.

A história consagra Mascarenhas de Moraes como um dos maiores líderes militares do Brasil, comparado ao Duque de Caxias por sua integridade, liderança e compromisso com a pátria. Seu legado como comandante, estrategista e exemplo de virtude é lembrado pelo Exército Brasileiro e permanece como símbolo de coragem, dignidade e serviço à nação.

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Referências

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