Há 30 anos, o homem realizou um feito na engenharia aeroespacial: a construção do Antonov AN-225 “Mriya”, o maior avião cargueiro do mundo, que foi destruído em fevereiro de 2022. Confira nesse artigo que o Estratégia Militares preparou para você sobre a história e as consequências da destruição do “sonho” ucraniano.
O Antonov An-225 foi a aeronave a jato mais pesada e mais longa operada pelo homem. Foi construído durante a década de 1980 para servir a um propósito específico dentro do programa espacial da URSS, mas passou a desempenhar um papel de nicho, transportando cargas mais pesadas e indivisíveis.
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O avião mais pesado do mundo
Existem várias maneiras de medir qual a maior aeronave do mundo. Por volume de passageiros, é o Airbus A380, enquanto que por volume de fuselagem, é o Airbus Beluga XL.
No entanto, o Antonov An-225 encabeça a lista em mais de uma área. Foi a aeronave mais pesada já construída e podia transportar o maior peso de carga útil. O avião, sem carga, pesava cerca de 285 toneladas e podia transportar uma carga útil de até 250 toneladas, decolando com cerca de 535 toneladas.
O Antonov An-225 também foi o mais longo, com 84 metros de comprimento, superando o novo Boeing 777-9X por quase oito metros, além de possuir a maior envergadura – distância entre as extremidades das asas – entre as atuais aeronaves em operação. Se isso não for suficiente, o An-225 possuía 32 rodas.
O An-225 contava com seis motores, que demoravam cerca de quatro minutos para serem acionados e, quando voava, seu consumo era de 20 toneladas por hora de querosene de aviação. Além disso, seus tanques tinham capacidade para 330 toneladas de combustível.
Construído para um propósito específico
O Antonov An-225, também conhecido como ‘Mriya’, que significa ‘sonho’, foi construído pela URSS na década de 1980, no território que hoje pertence à Ucrânia.
Utilização do An-225 no programa espacial soviético
Na época, a URSS estava desenvolvendo um veículo espacial reutilizável conhecido como Buran – semelhante ao ônibus espacial dos Estados Unidos. A construção da espaçonave Buran começou em 1980, e ela voou apenas uma vez em 1988. Seu lançamento foi feito com um foguete de uso único chamado ‘Energia’.
Assim como o ônibus espacial americano, o Buran precisou ser transferido do canteiro de obras para sua área de lançamento. O An-225 foi projetado e construído para esta finalidade, onde poderia transportar a espaçonave Buran em cima de sua fuselagem, com o espaço interno do “Mriya” usado para partes do foguete.
Os EUA usaram uma solução semelhante, mas nada igual ao “Mriya” soviético. A NASA tinha duas aeronaves Shuttle Carrier, desenvolvidas a partir do Boeing 747. Ambas já estavam em serviço com companhias aéreas e sofreram extensas modificações.
Entrada em serviço pela Antonov Airlines
A espaçonave Buran voou apenas uma vez em um lançamento não tripulado, retornando à base com sucesso, mas os lançamentos futuros planejados nunca ocorreram. O colapso da URSS levou à suspensão do programa espacial. O Buran foi armazenado no Cazaquistão, porém foi destruído quando o telhado de um hangar desabou em 2002.
O An-225 sofreu um declínio semelhante. Após o uso para o primeiro voo de Buran, fez aparições no Paris Air Show em 1989 e no Farnborough Air Show em 1990 – ambas são apresentações aeronáuticas que ocorrem todos os anos na França e nos EUA. Foi armazenado em 1994, com os seis motores removidos e reutilizados nas aeronaves An-124, a variante menor do An-225.
No final da década de 1990, a ucraniana Antonov Airlines viu potencial em reativá-la no serviço cargueiro, a fim de transportar cargas maiores do que o An-124.
Os motores foram reinstalados e o piso da cabine e a rampa do nariz foram reforçados – já que o projeto original era para transportar carga útil externa. Após a restauração, voltou a voar em fevereiro de 2001.
Quantos Antonov An-225 existem no mundo?
Dois An-225 foram originalmente encomendados, mas apenas uma aeronave, com registro CCCP-82060, posteriormente alterada para UR-82060, foi concluída. A segunda estava em construção quando o projeto Buran terminou e nunca foi concluída.
Qual é o valor do avião Antonov An-225?
A ucraniana Antonov Airlines também assumiu a propriedade da segunda aeronave. O trabalho recomeçou em 2009 e alcançou entre 60 e 70% de conclusão, mas por falta de dinheiro e dificuldade para fabricar as peças necessárias não terminou a construção.
Em 2016, houve interesse sobre uma potencial venda para a Airspace Industry Corporation of China, empresa chinesa, mas a negociação não foi concluída e o projeto abandonado.
O segundo An-225 permanece inacabado e de acordo com comentários do CEO da Antonov Airlines, Oleksander Donets, em entrevista para a BBC News, provavelmente nunca será concluído. Segundo Donets, “a conclusão continua muito cara e é improvável que alguém recupere os custos com suas operações potenciais limitadas – apesar do aumento no tráfego de carga recentemente”.
“De acordo com estimativas feitas em 2012, quando nossas relações com a Rússia eram boas, os custos de construção atingiram quase US$ 460 milhões para as antigas especificações com as quais foi construído. Além disso, os atuais aeroportos não podem fornecer espaço de pouso para o Mriya. Por causa de suas dimensões e envergadura, não cabe nas pistas… Não vamos recuperar os custos.”, finalizou o CEO.
Qual é a capacidade de carga do Antonov An-225?
O An-225 foi trazido de volta ao serviço para uso em fretamentos de carga de grande porte, sendo, naturalmente, um nicho específico de mercado. Mas com a maior possibilidade de carga útil de qualquer cargueiro disponível, era algo pelo qual os clientes pagavam.
A aeronave restaurada recebeu seu certificado de tipo cargueiro em maio de 2001. Sendo operada pela Antonov Airlines já teve parcerias operacionais com a Air Foyle HeavyLift, com sede no Reino Unido e a operadora de carga russa Volga-Dnepr Airlines, que opera a maior frota comercial de aeronaves An-124 ainda em serviço.
O “Mriya” transportava muitas cargas pesadas e superdimensionadas, como geradores e equipamentos de construção, equipamentos militares e grandes cargas humanitárias. Se você está se perguntando sobre o custo de fretamento, a BBC News estimou em cerca de US$ 30.000 por hora em sua análise.
Quantas vezes o Antonov An-225 veio ao Brasil?
Em 14 de fevereiro de 2010, o An-225 decolou do Suriname e pousou no aeroporto de Guarulhos, trazendo três válvulas para a refinaria de Paulínia, da Petrobras.
Já em 2016, ele pousou no aeroporto de Viracopos, em Campinas e em Guarulhos. No primeiro aeroporto, ele foi carregado com um suporte, de cerca de 30 toneladas, para acomodar a carga que seria embarcada em Guarulhos. Em Cumbica, o “Mriya” foi carregado com um gerador elétrico, de 150 toneladas, que tinha destino à Santiago, no Chile.
Operações especiais do An-225
- Uma de suas primeiras missões foi transportar alimentos da Alemanha para uma base militar americana em Omã, em janeiro de 2002. Ele transportou 187,5 toneladas de refeições preparadas para as tropas;
- Em junho de 2004, voou com quatro máquinas de colocação de tubos de Praga a Tashkent, estabelecendo um recorde de carga útil de 247 toneladas. O custo de transporte da carga foi de mais de 2 milhões de DKK, aproximadamente € 266.000;
- Ele estabeleceu o recorde para o item de carga individual mais pesado em agosto de 2009, voando com um gerador de 189 toneladas para a Armênia, para implementação em uma usina de gás;
- Ele transportou a carga aérea mais longa de todos os tempos, duas pás de turbina eólica de 41,2 metros da China para a Dinamarca, em junho de 2010; e
- Várias missões médicas foram realizadas durante a pandemia de covid-19. Isso incluiu um recorde de volume de carga em 14 de abril de 2020, quando transportou 1.000 metros cúbicos de equipamentos da China para a Polônia. E duas semanas depois transportou 150 toneladas da China para a França.
Consequências da destruição do Antonov An-225
O An-225 era um avião estratégico para o mundo devido às suas características de transporte. Nos últimos anos, ele passou por uma longa e profunda reforma, de custos bilionários, para reparar e atualizar seus equipamentos.
As atuais aeronaves cargueiras não possuem a capacidade de transportar grandes quantidades de peso e volume como o “Mriya” tinha, o que deixa o mundo sem um meio de transporte rápido e estratégico em situações inesperadas.
Com a destruição do “Mriya”, o maior avião cargueiro do mundo é o Boeing 747-8F, que possui a capacidade de transportar 132.6 toneladas, além de ter cerca de 76 metros de comprimento e 68 de envergadura – distância entre as pontas das asas. Maior do que o B747-8F é o Airbus A380, porém este não possui versão cargueira.
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Referências
- https://antonov.com/en/history/an-225-mriya#:~:text=The%20AN%2D225%20made%20its,of%20the%20Energiya%20carrier%20rocket.
- https://www.stuff.co.nz/travel/news/127978789/video-confirms-the-worlds-largest-plane-has-been-destroyed
- https://www.bbc.com/future/article/20170503-the-worlds-biggest-plane-may-have-a-new-mission
- https://www.bbc.com/news/av/world-australia-36304300
