Questão
Simulado EsPCEx
2021
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Os vazios do homem

Os vazios do homem não sentem ao nada
do vazio qualquer: do casaco vazio,
do da saca vazia (que não ficam de pé
quando vazios, ou o homem com vazios);
os vazios do homem sentem a um cheio
de uma coisa que inchasse já inchada;
ou ao que deve sentir, quando cheia,
uma saca: todavia não, qualquer saca.
Os vazios do homem, esse vazio cheio,
não sentem ao que uma saca de tijolos,
uma saca de rebites; nem têm o pulso
que bate numa de sementes, de ovos.

Os vazios do homem, ainda que sintam
a uma plenitude (gora mas presença)
contêm nadas, contêm apenas vazios:
o que a esponja, vazia quando plena;
incham do que a esponja, de ar vazio,
e dela copiam certamente a estrutura:
toda em grutas ou em gotas de vazio,
postas em cachos de bolha, de não-uva.
Esse cheio vazio sente ao que uma saca
mas cheia de esponjas cheias de vazio;
os vazios do homem ou o vazio inchado:
ou vazio que inchou por estar vazio.

MELO NETO, João Cabral de. A educação pela pedra e outros poemas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008 (p. 251)

Nesse poema, o escritor modernista João Cabral de Melo Neto revela que
A
mesmo um nada pode estar contido em um vazio, desde que ele represente comida para preencher o estômago.
B
os vazios do homem podem ser tanto físicos quanto metafóricos, mas, principalmente, personificados.
C
o vazio é um ser orgânico como uma esponja, bem como a comparação estabelecida com o cacho de uva.
D
o homem oitocentista está saturado de sua realidade social, o que ele acaba por transpor para o plano existencial.
E
os sacos vazios de uma obra de construção são o cimento necessário para que a construção espiritual do homem aconteça.