O poema abaixo consta do livro Paisagem com figuras, de João Cabral de Melo Neto, publicado em 1955.
Cemitério Pernambucano
Nesta terra ninguém jaz,
pois também não jaz um rio
noutro rio, nem o mar
é cemitério de rios.
Nenhum dos mortos daqui
vem vestido de caixão.
Portanto, eles não se enterram,
são derramados no chão.
Vêm em redes de varandas
abertas ao sol e à chuva.
Trazem suas próprias moscas.
O chão lhes vai como luva.
Mortos ao ar-livre, que eram,
hoje à terra-livre estão.
São tão da terra que a terra
nem sente sua intrusão.
Este texto mostra com clareza duas das marcas mais recorrentes da obra de João Cabral, que são: