A partir da leitura do texto a seguir, responda ao que se pede na questão que se refere a ele.
Texto 1
O estado de coisas quando me interessei por saber do que os cérebros são feitos e como o cérebro humano em especial se comparava a outros era simples: ele não se comparava. Porque, com aquela lista comprida e ainda crescente de singularidades, nós éramos especiais.
Eu, com minha formação de bióloga, não entendia por que tantos dos meus colegas neurocientistas aceitavam sem questionar essa afirmação de singularidade humana, e até a endossavam e propagavam. Desde Darwin, nos empenhamos para entender as regras que se aplicam a todos os seres vivos, as restrições que são comuns a toda matéria viva. Acabamos por compreender que, por trás da diversidade de todos os mamíferos, existe uma constituição genética básica e hereditária que a restringe: quem sai aos seus degenera só um pouquinho. Mas se essas restrições evolutivas também se aplicam aos humanos, como é que o cérebro do Homo sapiens, e só ele, poderia ser ao mesmo tempo tão semelhante a outros nas regras evolutivas a que ele obedece e, no entanto, tão diferente — a ponto de nos dotar da habilidade de refletir sobre nossas origens materiais e metafísicas, o mundo e o universo, enquanto os outros animais literalmente cuidam da própria vida e só?
Na primeira década do século XXI, parecia ainda mais necessário que características de tamanho relativo, custo energético e constituição genética extraordinários do cérebro humano explicassem as nossas notáveis habilidades cognitivas, pois o pouco trabalho feito no século anterior para comparar a matéria cerebral humana com a de outras espécies não indicava nada de especial. Por razões técnicas, durante décadas a comparação de tecidos cerebrais de espécies diferentes limitou-se a estimar densidades de neurônios em seções de tecido, isto é, a medir quantos neurônios eram visíveis ao microscópio em uma seção de certas dimensões. Um punhado de cientistas — entre eles Donald Tower e Herbert Haug — examinou a densidade de neurônios no córtex cerebral de diversas espécies de mamíferos e não encontrou nenhuma coisa que destacasse os humanos. Em termos de anatomia, nossa matéria cerebral parecia não ser feita com nada diferente da matéria cerebral daqueles outros animais.
Suzana Herculano-Houzel. A vantagem humana: como nosso cérebro se tornou superpoderoso. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
O texto de A vantagem humana tem, como principal objetivo,