Questão
Simulado ITA
2023
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
na-mateCarlos-sossegue1549efcd559
não se mate

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

Carlos Drummond de Andrade. Antologia Poética. Edição do Kindle.

O poeta faz uso de um recurso poético inusitado na literatura – porém comum dentro de sua produção especificamente – para dar o tom do poema e da confusão interna em que se encontra. Esse recurso é 
A
a fragmentação da linguagem, menos comum no movimento modernista brasileiro.
B
a construção de versos brancos e livres, sem preocupar-se com o tamanho das estrofes.
C
a mistura de sensações, trazendo tanto referências visuais, quando sonoras e olfativas. 
D
o uso de segunda pessoa do singular, como se tivesse um interlocutor imaginário.
E
a conversa do eu lírico do poema com ele próprio, o que fica evidente pelo vocativo “Carlos”.