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Provão de Bolsas FN/EAM
2022
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O medo de errar

Martha Medeiros

“A gente é a soma das nossas decisões.” É uma frase da qual sempre gostei, mas lembrei-me dela outro dia num local inusitado: dentro do super. Comprar maionese, band-aid e iogurte, por exemplo, hoje requer expertise. Tem maionese tradicional, light, premium, com leite, com ômega 3, com limão, com ovos “free range”. Band-aid, há de todos os formatos e tamanhos, nas versões: transparente, extratransparente, colorido, temático, flexível.

É o melhor dos mundos: aumentou a diversificação. E com ela, o medo de errar.

Assim como antes era mais fácil fazer compras, também era mais fácil viver. Para ser feliz, bastava estudar (magistério para as moças), fazer uma faculdade (Medicina, Engenharia ou Direito para os rapazes), casar (com o sexo oposto), ter filhos (no mínimo dois) e manter a família estruturada até o fim dos dias. Era a maionese tradicional.

Hoje, existem várias “marcas” de felicidade. (...) Fazer intercâmbio, abrir o próprio negócio, tentar um concurso público, entrar para a faculdade. Mas estudar o quê? Só de cursos técnicos, profissionalizantes e universitários, há centenas. Computação Gráfica ou Informática Biomédica? Editoração ou Ciências Moleculares? Moda, Geofísica ou Engenharia de Petróleo?

A vida padronizada podia ser menos estimulante, mas oferecia mais segurança, era fácil “acertar” e se sentir um adulto. Já a expansão de ofertas tornou tudo mais empolgante, só que incentivou a infantilização: sem saber ao certo o que é melhor para si, surgiu o medo de crescer.

Todos parecem ter 10 anos menos. Quem tem 17, age como se tivesse 7. Quem tem 28, parece ter 18. Quem tem 39, vive como se fosse 29. Quem tem 40, 50, 60, mesma coisa. Por um lado, é ótimo ter um espírito jovial e a aparência idem, mas até quando se pode adiar a maturidade?

Só nos tornamos verdadeiramente adultos quando perdemos o medo de errar. Não somos apenas a soma das nossas escolhas, mas também das nossas renúncias. Crescer é tomar decisões e, depois, conviver pacificamente com a dúvida. Como querem ter certeza absoluta, adolescentes prorrogam suas escolhas – errar lhes parece a morte.

Adultos sabem que nunca terão certeza absoluta de nada, e sabem também que só a morte física é definitiva. Já “morreram” diante de fracassos e frustrações, e voltaram pra vida. Ao entender que é normal morrer várias vezes numa única existência, perdemos o medo – e finalmente crescemos.

Zero Hora – 25/09/2011. http:www.avarandablogspot.com . Acesso: 04/07/2022(com adaptações)

O pronome relativo “a qual” foi empregado corretamente em “É uma frase da qual sempre gostei.”. Nesse período, o pronome foi utilizado de acordo com a norma padrão, sendo antecedido da preposição “de”. Quanto ao uso apropriado do pronome relativo, precedido ou não de preposição, está de acordo com a norma escrita padrão também a seguinte frase:
A
O médico a quem consultamos nos deu notícias esperançosas sobre o estado de saúde do nosso filho.
B
A pessoa, a cuja você se referiu, foi embora.
C
É importante olhar para um futuro do qual confiamos.
D
Este é o respeitável escritor quem falei no outro dia.
E
Confiei em uma proposta profissional que ele se referiu.