O ÚLTIMO COMPUTADOR
Um dia, todos os computadores do mundo estarão ligados num único e definitivo sistema, e o centro do sistema será na cidade de Duluth, nos Estados Unidos. Toda memória e toda informação da humanidade estarão no Último Computador. As pessoas não precisarão ter relógios individuais, calculadoras portáteis, livros₅ etc. Tudo o que quiserem fazer - compras, contas, reservas - e tudo o que desejarem saber estará ao alcance de um dedo. Todos os lares do mundo terão terminais do Último Computador. Haverá telas e botões do Último Computador em todos os lugares freqüentados pelo homem, desde o mictório ao espaço. E um dia, um garoto perguntará ao seu pai:
- Pai, quanto é dois mais dois?
- Não pergunte a mim, pergunte a Ele.
O garoto apertará o botão e, num milésimo de segundo, a resposta aparecerá na tela mais próxima. E, então, o garoto perguntará:
-Como é que eu sei que isso está certo?
-Ora, ele nunca erra.
-Mas se desta vez errou?
-Não errou. Conte nos dedos.
-Contar nos dedos?
-Uma coisa que os antigos faziam. Meu avô me contou.
Levante dois dedos, depois mais dois... Olhe ai. Um, dois, três, quatro. Dois mais dois quatro O Computador está certo.
-Bacana. Mas, pai: e 366 mais 17? Não dá para contar nos dedos. Jamais vamos saber se a resposta do Computador está certa ou não.
-É...
- E se for mentira do Computador?
-Meu filho, uma mentira que não pode ser desmentida é a verdade.
Quer dizer, estaremos irremediavelmente dominados pela técnica, mas sempre sobrará a filosofia.
Luis Fernando Veríssimo
“ - Não pergunte a mim, pergunte a Ele” , (linha 11). O pronome com a inicial maiuscula refere-se: