Questão
Simulado EPCAR
2022
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Texto I

Turbante, dreadlocks, cocar, desenhos tradicionais. Símbolos culturais e estéticos que, se por um lado ajudam a compor o imaginário de nação miscigenada, também carregam seu valor simbólico de resistência dentro da comunidade na qual estão inseridos. No palco dos sincretismos, diversos atores e culturas se misturam, não sem provocar polêmica e discussões que muitas vezes não arranham mais que a superfície da questão.

Enquadra-se aí o debate sobre “apropriação cultural”, tema que vem dividindo opiniões desde que sites e jornais repercutiram o caso de uma garota branca que teria sido repreendida por duas mulheres negras porque usava um turbante.

A educadora e pesquisadora de dinâmicas raciais Suzane Jardim afirma que, toda vez que emerge, essa discussão é erroneamente deslocada para o âmbito do “purismo cultural”, na qual apenas os responsáveis pela criação de um determinado elemento teriam autorização de utilizá-lo.

Longe disso, o que está em jogo segunda ela é a forma como se dá a interação entre grupos historicamente marginalizados e seus antagonistas –relação que seria marcada por “preconceito, exclusão, etnocentrismo, poder e capitalismo”.

“Vemos a diferença sistêmica entre os que usam esses elementos como adorno e os que usam por princípio, religião ou resgate de uma identidade”, diz Jardim. “Quando falam em cultura, os negros se referem muito mais a resistência e racismo do que à origem dos elementos, propriamente”.

Pesquisadora e ex-Secretária Adjunta da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres de São Paulo, Juliana Borges afirma que “dizer que apropriação cultural se resume a usar ou não turbante, comer ou não sushi” é, na melhor das hipóteses, uma grande desonestidade intelectual, além de escancarar a face racista “ainda tão presente na sociedade brasileira”.

A discussão, primordialmente, tem a ver com questões estruturais e estruturantes da sociedade brasileira, segundo Borges, e passa pelo esvaziamento histórico e cultural de etnias sequestradas do continente africano para serem escravizadas por aqui.

Nesse contexto, símbolos como o turbante podem ser encarados como elos entre um povo e sua ancestralidade, suas origens perdidas. A crítica seria menos ao uso individual em si e mais a uma estrutura social que escrutina tradições de um povo enquanto aplaude as mesmas quando praticadas por outros.

A questão da “proibição do uso”, segundo Suzane Jardim, não encontra vulto material algum fora da internet. “O que existe são manifestações de incômodo que podem se manifestar contra um indivíduo –pois sabemos que há uma diferença no tratamento –, e isso acaba por se voltar contra o próprio negro, fortalecendo a imagem estereotipada de que são raivosos, vitimistas ou injustos com a população branca repleta de boas intenções”, afirma.

(Disponível em <https://revistacult.uol.com.br/home/identidade-e-apropriacao-cultural/> Acesso em 22 mar. 2021)


TEXTO IV

Para entender o que ‘apropriação cultura’ significa precisamos, antes, compreender o significado de ‘apropriação’ e ‘cultura’ de forma individual.

Podemos definir ‘cultura’ como sendo o conjunto de práticas, símbolos e valores que um grupo específico compartilha entre si. Por exemplo, as ocas são um símbolo importante para a cultura indígena, pois é parte essencial da constituição histórica do grupo da qual ela pertence.

Já ‘apropriação’ é o ato de tomar para si determinado elemento sem o consentimento do proprietário. Mas, então, o que seria a ‘apropriação cultural’? 

Basicamente, é a ação de adotar elementos de uma cultura da qual você não faz parte. Além disso, para que a gente não fique na superfície da questão, precisamos lembrar que esta apropriação envolve uma relação de poder. Uma cultura, historicamente suprimida e minorizada, tem seus elementos roubados e seus sentidos apagados pela cultura que sempre a dominou.

O doutor em Ciências Sociais, antropólogo e autor do livro “Apropriação Cultural”, Rodney William, define este conceito da seguinte forma:

É uma estratégia de dominação que visa apagar a potência de grupos histórica e sistematicamente inferiorizados, esvaziando de significados todas as suas produções, como forma de promover seu genocídio simbólico.

Portanto, a apropriação desses símbolos colabora para a manutenção do racismo estrutural em nossa sociedade e para a continuidade de diversos estereótipos sobre determinadas culturas. 

(Disponível em <https://www.politize.com.br/apropriacao-cultural/> Acesso em 22 mar. 2021)

O texto I e o texto IV conversam completamente quanto ao tema e podem ser analisados, em contraste, como
A
complementares, uma vez que os dois mostram como a apropriação cultural são vistos por aqueles que se sentem apropriados.
B
opostos, uma vez que o primeiro aponta para a apropriação como um problema, enquanto o segundo aponta para a necessidade de acontecer.
C
iguais, uma vez que os dois apontam para a apropriação cultural como um problema tanto individual quanto coletivo.
D
opostos, dado que o primeiro defende não haver problemas com a apropriação cultural, enquanto o segundo aponta-o como problema.