Texto I
Quanto mais útil uma resposta de IA parece, mais chance de estar errada
Nem tudo que reluz é ouro. Cientistas descobriram que, para IAs de busca, a precisão de uma informação está inversamente proporcional à utilidade dela.
Por Leo Caparroz 28 abr 2023, 19h03
É melhor não sair acreditando em tudo que vê na internet. As respostas aparentemente úteis fornecidas por buscadores baseados em inteligência artificial têm boa chance de estarem incorretas.
Depois que a Microsoft fez uma parceria com a OpenAI, eles anunciaram que o buscador do Bing passaria a integrar características baseadas no ChatGPT. O Google também entrou na disputa quando lançou sua própria versão da ferramenta, o Bard.
Ambas se propõem a gerar os textos que você requisita e até a responder suas dúvidas – por isso estão sendo integradas em buscadores. Em vez de lhe fornecer uma lista com links de sites, como atualmente, essas IAs já te dariam uma resposta para a sua pergunta.
Só que nem tudo é perfeito. Tanto o ChatGPT quanto o Bard já foram flagrados cometendo gafes nas respostas; e, pior, defendendo-as como se fossem verdadeiras. No seu vídeo de apresentação, por exemplo, o Bard erra ao afirmar que o Telescópio Espacial James Webb tirou a primeira foto de um exoplaneta, sendo que, na verdade, esse crédito é do VLT (Very Large Telescope), do Observatório Europeu do Sul.
Para investigar a procedência dessas ferramentas, um grupo de pesquisadores fez 1.450 perguntas populares, retiradas de conjuntos de dados existentes, para o Bing Chat e outras ferramentas semelhantes, como You.com, NeevaAI e Perplexity.ai – o próprio ChatGPT e Bard ficaram de fora.
De acordo com as análises, apenas 52% das respostas eram apoiadas por citações. Contudo, 25% delas não estavam em concordância com a frase à que se referia. Segundo os pesquisadores, isso significa que o resto ou não tem citações ou está objetivamente errado.
A pesquisa não parou por aí. Os cientistas também pediram às pessoas que avaliassem, em uma escala de um a cinco, a fluidez das respostas e o quão úteis elas pareciam ser. Eles atestaram que, quanto mais correta uma resposta parecia, menos ela realmente era. Mais especificamente, para cada aumento de 0,1 nas avaliações, a precisão diminuiu 10,6% – as respostas que pareciam mais adequadas eram justamente as piores.
“Muitos desses sites têm isenções de responsabilidade sobre como essas declarações geradas podem não ser precisas, mas, de modo geral, muitos de nós não prestamos atenção a essas isenções”, adverte Nelson Liu, um dos envolvidos no estudo. “É um pouco preocupante para mim a rapidez com que esses sistemas estão sendo lançados nas ferramentas de pesquisa.”
(Disponível em < https://super.abril.com.br/tecnologia/quanto-mais-util-uma-resposta-de-ia-parece-mais-chance-de-estar-errada/> Acesso em 24 mar. 2023)
Texto II
Tecnologia
Para começar, ele nos olha na cara. Não é como a máquina de escrever, que a gente olha de cima, com superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho. Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer. A máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo que seja a tapa. Com o computador é diferente.
Você faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo dele, senão ele não aceita. Simplesmente ignora você. Mas se apenas ignorasse ainda seria suportável. Ele responde. Repreende. Corrige. Uma tela vazia, muda, nenhuma reação aos nossos comandos digitais, tudo bem. Quer dizer, você se sente como aquele cara que cantou a secretária eletrônica. É um vexame privado. Mas quando você o manda fazer alguma coisa, mas manda errado, ele diz "Errado". Não diz "Burro", mas está implícito.
É pior, muito pior. Às vezes, quando a gente erra, ele faz "bip", Assim, para todo mundo ouvir. Comecei a usar o computador na redação do jornal e volta e meia errava. E lá vinha ele: "Bip!" "Olha aqui, pessoal: ele errou." "O burro errou!".
Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe. Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer. Que ele só desenvolverá todo o seu potencial quando outro igual a ele o estiver programando. A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria "bip" em público.
Dito isto, é preciso dizer também que quem provou pela primeira vez suas letrinhas dificilmente voltará à máquina de escrever sem a sensação de que está desembarcando de uma Mercedes e voltando à carroça. Está certo, jamais teremos com ele a mesma confortável cumplicidade que tínhamos com a velha máquina. É outro tipo de relacionamento, mais formal e exigente.
Mas é fascinante. Agora compreendo o entusiasmo de gente como Millôr Fernandes e Fernando Sabino, que dividem a sua vida profissional em antes dele e depois dele. Sinto falta do papel e da fiel Bic, sempre pronta a inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora, e que nele foi substituída por um botão, que, além de mais rápido, jamais nos sujará os dedos, mas acho que estou sucumbindo. Sei que nunca seremos íntimos, mesmo porque ele não ia querer se rebaixar a ser meu amigo, mas retiro tudo o que pensei sobre ele. Claro que você pode concluir que eu só estou querendo agradá-lo, precavidamente, mas juro que é sincero.
Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina. Sabendo que ela aguentaria sem reclamar, como sempre, a pobrezinha.
VERISSIMO, Luis Fernando. Pai não entende nada. Porto Alegre: L&PM, 1990. p. 58-60.
Texto III
Admirável Chip Novo
Pitty
Pane no sistema, alguém me desconfigurou
Aonde estão meus olhos de robô?
Eu não sabia, eu não tinha percebido
Eu sempre achei que era vivo
Parafuso e fluido em lugar de articulação
Até achava que aqui batia um coração
Nada é orgânico, é tudo programado
E eu achando que tinha me libertado
Mas lá vêm eles novamente
Eu sei o que vão fazer
Reinstalar o sistema
Pense, fale, compre, beba
Leia, vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga
Tenha, more, gaste, viva
Pense, fale, compre, beba
Leia, vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga
Não, senhor, sim, senhor
Não, senhor, sim, senhor
(Disponível em < https://www.letras.mus.br/pitty/admiravel-chip-novo//> Acesso em 24 mar. 2023)
Tendo em vista os textos apresentados, escreva uma redação dissertativa-argumentativa ou expositiva, sobre o tema:
Pode a tecnologia ser a resposta para as maiores indagações humanas?