Texto I



Quando a peste negra golpeou, no século XIV, as pessoas não tinham nem ideia do que a causava nem como curá-la. Até a época moderna, os seres humanos estavam acostumados a atribuir as doenças a deuses irados, a demônios perversos ou aos maus ares, e nem suspeitavam da existência de bactérias e vírus. Os indivíduos acreditavam em anjos e fadas, mas não eram capazes de imaginar que uma só gota de água pudesse conter toda uma frota de predadores letais. Por isso, quando a peste negra ou a varíola apareciam, o máximo que ocorria às autoridades era organizar rezas coletivas a diversos deuses e santos. E isso não servia de nada. Aliás, quando as pessoas se reuniam para as rezas coletivas, a infecção costumava ser propagar.
Durante o último século, cientistas, médicos e enfermeiros de todo o mundo reuniram e trocaram informações que lhes permitiram compreender o mecanismo de atuação das epidemias e os métodos para combatê-las. A teoria da evolução explicou como e por que doenças novas aparecem e as velhas se tornam mais virulentas. A genética permitiu que os cientistas examinassem o próprio manual de instruções dos agentes patogênicos. Enquanto na Idade Média nunca se descobriu o que causava a peste negra, os cientistas atuais não levaram mais de duas semanas para identificar o coronavírus, sequenciar seu genoma e desenvolver um exame confiável para identificar pessoas infectadas.
Quando os cientistas compreenderam o que causa as epidemias, foi muito mais fácil lutar contra elas. As vacinas, os antibióticos, mais higiene e infraestruturas médicas muito melhores permitiram que a humanidade virasse o jogo contra seus predadores invisíveis. Em 1967 houve 15 milhões de pessoas contagiadas por varíola, das quais dois milhões morreram. Na década posterior se desenvolveu uma campanha mundial de vacinação com tanto sucesso que, em 1979, a Organização Mundial da Saúde declarou que a humanidade tinha vencido e que a varíola estava completamente erradicada. Em 2019 não houve nem uma só pessoa infectada ou morta pela varíola.
O que a história nos ensina para a atual epidemia de coronavírus?
Em primeiro lugar, nos dá a entender que não podemos nos proteger fechando de forma permanente nossas fronteiras. Recordemos que as epidemias se propagavam com rapidez já na Idade Média, muito antes da era da globalização. Portanto, mesmo que situássemos nossas conexões internacionais à altura das da Inglaterra em 1348, isso não bastaria. Se quisermos um isolamento que nos proteja de verdade, não basta o da época medieval. Teríamos que voltar à Idade de Pedra. Somos capazes disso?
Segundo, a história indica que a autêntica proteção se obtém com o intercâmbio de informações científicas confiáveis e a solidariedade mundial. Quando um país sofre uma epidemia, deve estar disposto a compartilhar as informações sobre o surto com sinceridade e sem medo da catástrofe econômica, enquanto que outros países devem poder confiar nessas informações e ajudar a vítima ao invés de repudiá-la. Hoje, a China pode oferecer muitas lições importantes sobre o coronavírus, mas isso exige muita confiança e cooperação.
(Disponível em: https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-04-13/na-batalha-contra-o-coronavirus-a-humanidade-carece-de-lideres.html Acesso em 09 jun. 2020
Texto II
Mundo grande



(Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo)
Leia atentamente o trecho destacado e assinale a alternativa que apresenta apenas a(s) afirmação(ões) correta(s).
Quando a peste negra golpeou, no século XIV, as pessoas não tinham nem ideia do que a causava nem como curá-la. Até a época moderna, os seres humanos estavam acostumados a atribuir as doenças a deuses irados, a demônios perversos ou aos maus ares, e nem suspeitavam da existência de bactérias e vírus. Os indivíduos acreditavam em anjos e fadas, mas não eram capazes de imaginar que uma só gota de água pudesse conter toda uma frota de
predadores letais. Por isso, quando a peste negra ou a varíola apareciam, o máximo que ocorria às autoridades era organizar rezas coletivas a diversos deuses e santos. E isso não servia de nada. Aliás, quando as pessoas se reuniam para as rezas coletivas, a infecção costumava ser propagar.” (Texto 1)
I. O trecho descreve um mundo regido mais pelo misticismo do que pela ciência, o que fazia com que o combate à doenças fosse proibido.
II. O autor do texto faz um juízo de valor sobre o comportamento das pessoas, contrastando suas crenças com o que sabemos hoje sobre doenças.
III. A oração “quando as pessoas se reuniam para as rezas coletivas” apresenta aspecto temporal em relação à oração subsequente.