Questão
Simulado EsPCEx
2021
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Discursiva
Texto I

O que é a 'cultura de cancelamento'

Mariana Sanches

Da BBC News Brasil em Washington O movimento hoje conhecido como "cultura do cancelamento" começou, há alguns anos, como uma forma de chamar a atenção para causas como justiça social e preservação ambiental. Seria uma maneira de amplificar a voz de grupos oprimidos e forçar ações políticas de marcas ou figuras públicas.

Funciona assim: um usuário de mídias sociais, como Twitter e Facebook, presencia um ato que considera errado, registra em vídeo ou foto e posta em sua conta, com o cuidado de marcar a empresa empregadora do denunciado e autoridades públicas ou outros influenciadores digitais que possam amplificar o alcance da mensagem. É comum que, em questão de horas, o post tenha sido replicado milhares de vezes.

A cascata de menções a uma empresa costuma precipitar atitudes sumárias para estancar o desgaste de imagem, sem que a pessoa sob ataque possa necessariamente se defender amplamente. O cancelamento é diferente da trollagem típica de internet, eventualmente com insultos coordenados, frequente em disputas de opinião entre usuários das redes. O "cancelamento" é um ataque à reputação que ameaça o emprego e os meios de subsistência atuais e futuros do cancelado. Extremamente frequente nos Estados Unidos, ela hoje abate personalidade, mas também anônimos.

"Você pode ser cancelado por algo que você disse em meio a uma multidão de completos estranhos se um deles tiver feito um vídeo, ou por uma piada que soou mal nas mídias sociais ou por algo que você disse ou fez há muito tempo atrás e sobre o qual há algum registro na internet. E você não precisa ser proeminente, famoso ou político para ser publicamente envergonhado e permanentemente marcado: tudo o que você precisa fazer é ter um dia particularmente ruim e as consequências podem durar enquanto o Google existir", definiu o colunista do The New York Times Ross Douthat em uma coluna sobre cancelamento há alguns dias.

O fenômeno acontece também no Brasil, mas frequentemente tem como alvo famosos. Um exemplo recente de cancelamento foi o da blogueira Gabriela Pugliesi. Depois de postar imagens de uma festa que deu em sua casa, em abril, em meio a uma quarentena por conta da epidemia de coronavírus, uma multidão online passou a cobrar as marcas que a patrocinavam para que rescindissem os contratos de publicidade com ela. Pugliesi perdeu pelo menos cinco contratos e seu prejuízo teria superado os R$ 2 milhões.

(Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/geral-53537542> Acesso em 09 set. 2020)

Texto II

Cultura do cancelamento promove intolerância ao buscar justiça

Por Flavia Coltri

O sociólogo Marco Antônio de Almeida explica que esse comportamento deriva de causas bastante justas e bem intencionadas, mas caminhou para a intolerância, estimulando ataques virtuais.

Cultura do cancelamento é um termo bastante recente, conhecido e discutido principalmente entre os mais jovens nas redes sociais. A expressão é utilizada para denominar um comportamento que em sua essência busca por justiça social, mas acaba realizando uma espécie de linchamento virtual dos indivíduos que agem ou dão declarações politicamente incorretas.

O professor e sociólogo Marco Antônio de Almeida, do Departamento de Educação, Informação e Comunicação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, explica que esse comportamento deriva de causas bastante justas e bem-intencionadas, mas caminhou para a intolerância. “A cultura do cancelamento deriva do politicamente correto, que demanda uma maior percepção e sensibilidade nas questões relacionadas a classes sociais, gênero, etnias, entre outros. É uma causa muito justa, porém que acabou partindo para uma política de tolerância zero aos erros, que levam a pedidos de demissões e corte de financiamentos, cancelando o indivíduo da vida pública.”

O professor Marco Antonio Almeida diz que apesar das boas intenções por trás do cancelamento virtual, o comportamento prejudica o debate democrático O professor Marco Antonio de Almeida diz que apesar das boas intenções por trás do cancelamento virtual, o comportamento prejudica o debate democrático – Montagem: Energepic.com/Pexels O comportamento tende a ser mais associado aos adolescentes e aos jovens adultos. E ocorre, principalmente, pela maior presença dessa faixa etária nas redes sociais. “Nas redes sociais as questões relacionadas ao cancelamento tendem a ter um peso muito grande, que acabam por envolver com bastante força os jovens, que são mais sensíveis a esse tipo de influência, já que passam muito mais tempo nas redes do que as pessoas mais velhas.” Almeida diz que apesar das boas intenções por trás do cancelamento virtual, o comportamento prejudica o debate democrático. “A cultura do cancelamento é uma cultura equivocada, na medida em que ela não permite justamente o livre debate de ideias e a circulação de opiniões distintas, algo saudável para a democracia.”

(Disponível em <https://jornal.usp.br/atualidades/cultura-do-cancelamento-promove-intolerancia-ao-buscar-justica> Acesso em 09 set. 2020)

TEXTO III

Num país em que o entendimento sobre direitos humanos é baixo, há certo grau de instabilidade política e uma crescente desconfiança nas instituições, cresce um sentimento de que a justiça possa ser alcançada com as próprias mãos. Ainda que em nosso estudo, feito a partir de posts públicos no Twitter, a maioria das pessoas se diga contrária ao cancelamento, ele ocorre diariamente, afetando a vida e a reputação de pessoas e empresas. No estudo, nos surpreendeu constatar que 79% das pessoas se dizem contrárias à cultura do cancelamento. Consideram que errar é algo comum, e que um diálogo é mais efetivo do que a submissão ao julgamento e humilhação inerentes à prática do cancelamento. Uma minoria estridente (11% dos usuários) defende a cultura do cancelamento. Para eles, quem tem acesso à internet possui insumos suficientes para se inteirar dos debates e aprofundar seu conhecimento por conta própria. Se erra, portanto, o ônus é individual. Outros 10% acreditam que o cancelamento é uma postura condenável, mas entendem que é "merecida" quando os erros são difíceis de defender.

(Disponível em: <https://economia.uol.com.br/colunas/2020/05/25/a-cultura-do-cancelamento-um-dos-perigos-das-redessociais-para-as-marcas.htm/> Acesso em 09 set. 2020)

TEXTO IV

Como educar as crianças para cultura do cancelamento

A cultura do cancelamento é um termo que vem se multiplicando na internet. As pessoas são 'canceladas' como forma de justiça social. Minha atenção neste artigo é refletir sobre como estamos lidando com esse tema com as crianças. Será que existe cultura do cancelamento na educação infantil? Faço essa reflexão e deixo o artigo aberto para comentários para aprofundarmos no tema. Na escola o termo mais comum ainda é o bullying. Mas será que as crianças já podem cancelar outras crianças durante uma rotina no colégio? O amiguinho utilizou determinada palavra, então vamos cancelá-lo. Acredito que funciona sem esse termo, claro. Mas mais como panelinhas, bullying e etc. 'Os que argumentam a favor dessa cultura de cancelamento, dizem que o movimento faz com que a manifestação das figuras públicas nas redes de mídia seja mais responsável. Os que argumentam contra dizem que a dose do remédio pode ser muito alta e ser mais tóxica do que curativa. Com crianças, o cuidado precisa ser ainda maior. Afinal estamos falando de uma educação que está em formação', explicou em entrevista o psiquiatra Galiano Brazuna.

(Adaptado de: <https://www.ospaparazzi.com/pais-e-filhos/educacao/como-educar-as-criancas-para-cultura-do-cancelamento- 15320.html> Acesso em 09 set. 2020)

TEXTO V

Pandemia deve ser, no fim das contas, prejudicial ao meio ambiente

Do ponto de vista filosófico, a Cultura do Cancelamento é um comportamento em que as pessoas isolam ou excluem membros do próprio grupo, pois esses ousaram discordar da opinião majoritária. O filósofo Michel Foucault, em sua teoria chamada Microfísica do Poder, explica que o poder não está em um só lugar ou em uma só pessoa, mas sim está na rede composta de saberes e discursos. Ou seja, um grupo mantém-se coeso por causa do seu discurso.

Para Foucault, para controlar uma população ou um grupo é preciso controlar os micropoderes, ou seja, o cotidiano dos indivíduos, seus costumes, hábitos e maneiras de pensar. Esse controle, muitas vezes está relacionado com o ato de calar pessoas e impedir que elas emitam suas opiniões que vão contra a um discurso. Em qualquer grupo há o risco de cancelamento, seja na militância, na igreja, na esquerda e na direita, o que existe é o constante vigiar e punir. Contudo, discordar não é a mesma coisa que cancelar e é necessário ter maturidade suficiente para lidar com opiniões divergentes.

Cancelar alguém não é o mesmo que xingar ou perseguir, pois isso é considerado selvageria. Para os filósofos e especialistas, o cancelamento só é válido com discursos extremistas como, por exemplo, a defesa do nazismo ou da venda de órgãos humanos por pessoas pobres. A punição com o cancelamento pode fazer a pessoa repensar ou ao menos parar de disseminar certos absurdos para as demais pessoas.

(Disponível em: <https://www.greenmebrasil.com/viver/costume-e-sociedade/48091-cultura-do-cancelamento-exemplospsicologia-filosofia/> Acesso em 09 set. 2020)

Com base nos textos de apoio, nos texto da prova e em seus conhecimentos gerais, construa um texto dissertativo-argumentativo, em terceira pessoa, de 25 (vinte e cinco) a 30 (trinta) linhas, sobre o tema:

“A cultura do cancelamento e seus efeitos para além da internet”