Questão
Simulado EPCAR
2023
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Texto I

DO COMPLEXO DE VIRA-LATAS AO ORGULHO “DE SER BRASILEIRO”

Poucos meses após a Copa do Mundo de 1950, Getúlio Vargas voltou ao poder. Desta vez através do voto, já que venceu as eleições presidenciais para suceder Dutra. Ao longo de um mandato turbulento e sentindo-se pressionado por setores políticos, militares e empresariais, se suicidou no dia 24 de agosto de 1954 e seu mandato foi completado pelo vice Café Filho. Em 1955 Juscelino Kubitschek seria eleito presidente com o lema “cinquenta anos em cinco”, prometendo um ambicioso plano de governo que modernizaria o Brasil e aumentaria a autoestima social do povo.

A derrota em 1950 também criou algumas superstições entre os brasileiros. Uma delas era evitar que goleiros negros defendessem a meta da seleção, pois não aguentariam a pressão. O negro Barbosa foi um dos crucificados pelo maracanazo e como pertencia a um grupo historicamente discriminado acabou transferindo esta culpa para os demais arqueiros negros. Outra crendice foi trocar a cor da camisa da seleção, já que o branco dava azar. Após um concurso para a escolha do novo uniforme em 1953 nasceu a mítica camisa amarela com golas verdes.

Apelidada de canarinho, a camisa amarela disputou sua primeira Copa do Mundo em 1954, na Suíça. Porém, quis o destino que a seleção brasileira encarasse nas quartas de final o então melhor time do mundo da época: a Hungria de Ferenc Puskas. Foi um jogo disputado e os húngaros levaram a melhor por 4 a 2. Após a partida aconteceu uma briga homérica nos vestiários envolvendo jogadores, jornalistas, árbitros e dirigentes. A confusão entrou para a história com o nome de “Batalha de Berna”. No regresso do time ao Brasil, novamente pairou no ar uma sensação de inferioridade. Esse constante sentimento de inferioridade acabou sendo definido como “complexo de vira-latas” pelo jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues em sua coluna na revista Manchete Esportiva no dia 31 de maio de 1958:

Por complexo de vira-latas entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo no futebol. [...] Eu vos digo: - o problema do escrete não é mais futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo. Através desta expressão, Nelson Rodrigues criticava o fato de o brasileiro ser excessivamente negativo e de nunca acreditar em si mesmo. O texto foi escrito uma semana antes do início da Copa do Mundo, mas apesar do tom crítico, tinha fé na seleção brasileira e acreditava que o time poderia ser campeão mundial na Suécia, mesmo com o fantasma do maracanazo ainda presente no imaginário popular. A expressão “complexo de vira-latas” foi tão marcante que é citada até os dias de hoje. Ao mesmo tempo em que o brasileiro nutria um sentimento de inferioridade perante o mundo, havia uma sensação de esperança no ar. O país passava por um momento de euforia graças a abertura da economia para o capital externo e o crescimento econômico proposto pelo ambicioso Plano de Metas do governo de JK, que tinha na expansão industrial seu alicerce de crescimento. O entusiasmo pela modernidade refletia-se também na construção da nova capital federal, a longínqua Brasília, incrustada no meio do território nacional e dotada de uma arquitetura modernista idealizada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Era também época da Bossa Nova, que conquistava jovens e o mundo com canções de Tom Jobim, Vinícius de Moraes e companhia sendo sucesso em paradas internacionais.

Faltava apenas a glória no futebol para completar esse sentimento de brasilidade. Atento aos acontecimentos e ciente de que o futebol brasileiro poderia enfim sagrar-se campeão do mundo em 1958, JK sabia que a conquista da Taça Jules Rimet poderia ser mais um fator positivo para o país e consequentemente para seu governo. Talvez o seu grande trunfo. Assim, ele buscou aproximar-se da modalidade e de seus ídolos: [...] mesmo antes da Copa, estando sempre presente à tribuna de honra do Maracanã em jogos internacionais, imagem posteriormente reforçada pelas fotos tiradas ao pé do rádio, durante a Copa de 1958, e nos convites feitos ao pai de Garrincha, à noiva do jogador Vavá e à esposa de Didi pra ouvirem, em sua companhia, no Palácio do Catete, as transmissões dos jogos do Brasil.

O título mundial, que viria a se confirmar em 1958, ajudou o presidente em termos de popularidade. Afinal para muitos a aura de euforia de seu governo só começou de fato após a conquista da Copa do Mundo.

(Guilherme Silva e Luiz Gonzaga. O processo de transformação do futebol como elemento da identidade nacional brasileira. O negro no futebol brasileiro. FuLiA/UFMG)

Assinale, a seguir, a alternativa em que há trecho com conectivo implícito.
A
“Após um concurso para a escolha do novo uniforme em 1953 nasceu a mítica camisa amarela com golas verdes.”
B
“O negro Barbosa foi um dos crucificados pelo maracanazo e como pertencia a um grupo historicamente discriminado acabou transferindo esta culpa para os demais arqueiros negros.”
C
“A derrota em 1950 também criou algumas superstições entre os brasileiros. Uma delas era evitar que goleiros negros defendessem a meta da seleção, pois não aguentariam a pressão.”
D
“Em 1955 Juscelino Kubitschek seria eleito presidente com o lema ‘cinquenta anos em cinco’, prometendo um ambicioso plano de governo que modernizaria o Brasil e aumentaria a autoestima social do povo.”