Questão
Provão de Bolsas FN/EAM
2021
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Texto I

A paixão pelo futebol no Brasil vem esgarçando os limites da língua portuguesa há aproximadamente um século. Como qualquer outra língua, o português é vivo, dinâmico, aberto ao que o povo inventa na rotina de seus afazeres e lazeres. Com um diferencial: a espontaneidade brasileira, talentosa em driblar convenções, acaba desencadeando um vocabulário futebolístico rico e bem-humorado, utilizado até mesmo pelos “esquisitões” que odeiam o esporte − a vingança dos fanáticos contra as exceções! Assim é possível ouvir a cada esquina frases do tipo: fulano “pisou na bola”, ou sicrano “joga nas onze”. A rua torna-se o melhor dicionário desse léxico matreiro, inventado por jogadores, locutores e comentaristas esportivos, pouco a pouco absorvido pela língua geral. Ao ser dicionarizada, a gíria do futebol ganha status de verbete, e comemora-se: a lexicografia dobra-se à força do jargão e sela sua vitória no cotidiano linguístico brasileiro.

Ao atingir pelo menos cinco anos de uso contínuo, uma palavra alcança, enfim, um dos “olimpos” dos vocábulos: o dicionário Aurélio. O Houaiss tem critério similar, embora não estipule um tempo exato. São tantas as expressões já incorporadas que por vezes a origem futebolística é esquecida no dia a dia.

O próprio verbo “driblar”, usado no início deste texto, é um exemplo: no Aurélio é descrito como ato de “ultrapassar o adversário, ludibriando-o por meio de movimentos corporais”. Embora signifique o movimento específico do jogador com a bola, o seu uso na linguagem corrente extrapola as margens do campo, sugerindo uma forma de subverter determinada situação − o que, aliás, cabe bem na tradição de uma certa “malandragem” brasileira e diz muito da intimidade do cidadão com a sua língua.

Como atesta Ivan Cavalcanti Proença em Futebol e Palavra, “o jogador brasileiro é o que fala e fala o que é” − e isso acontece “através de um clima (e de uma força mesmo) intensamente poético: é a poesia do futebol, arte”.

Essa poesia urdida na tradição oral e enriquecida literariamente por autores como Nelson Rodrigues possui uma só raiz: a paixão − seja do jogador, do torcedor ou do comentarista esportivo.

“Sempre que deixamos a emoção tomar conta da linguagem, surgem vocábulos e expressões extremamente criativos e ricos para nossa língua. O brasileiro, particularmente, é um povo que expressa sua emoção de uma maneira muito espontânea, fato que se reflete também na linguagem, mais especificamente, no léxico”, explica Simone Nejaim Ribeiro, professora de língua portuguesa da Universidade Estácio de Sá. Simone concorda com outros estudiosos do tema, para
quem o vocabulário do futebol é uma “linguagem especial”. Assim, alguns vocábulos que poderiam, de início, soar como “desvios linguísticos” deixam a margem para serem canonizados. É a razão sucumbindo à paixão.

Mas quem, afinal, formula todo esse jargão? “As expressões são uma criação dos jogadores e da imprensa. Romário criou, por exemplo, a expressão ‘peixe’ para chamar algum companheiro, mas foram os jornalistas esportivos que, influenciados pela Liga Profissional de Basquete (NBA), inventaram o termo ‘assistência’, para o jogador que dá o passe para outro marcar o gol, diz Antonio Nascimento, editor de Esporte do jornal O Globo.

na ponta da língua. Revista Língua Portuguesa, 2006.

A palavra “formula”, encontrada no último parágrafo, é uma homógrafa de “fórmula”. Em qual alternativa a seguir a palavra só existe quando acentuada, diferente do caso apresentado?
A
Solícito
B
Polícia
C
Árbitro
D
Irá
E
História