Texto 1.
“Uma alimentação saudável deve ser: acessível física e financeiramente, saborosa, variada, colorida, harmoniosa e segura”, segundo o Ministério Público do Estado, instituição pública autônoma que informa, em seu Manual clínico de alimentação e nutrição: alimentos seguros, sem agrotóxicos, não oferecem riscos à saúde por qualquer tipo de contaminação físico-química, biológica ou genética.
O artigo de Tarcisio Miguel Teixeira, recém-publicado na Revista de Direito Sanitário, analisa a questão da atual da presença de agrotóxicos nos alimentos, a falta de informação a respeito dos produtos aplicados para sua produção, além de estabelecer a relação diretamente proporcional entre saúde e alimentação saudável, ressaltando o direito essencial da informação a respeito da qualidade do que estamos servindo à mesa.
Segundo o autor, o modelo monocultural de agricultura, hoje, é a produção de alimentos com agrotóxicos “para controlar plantas que competem com micro-organismos e insetos”, o que acaba estimulando a ação de plantas invasoras, doenças e pragas e aumentando a necessidade do uso de pesticidas. Mas o que mata o mal das plantações, adoece e também pode matar o ser humano, provocando alergias perigosas e intoxicações graves. Teixeira mostra que se o Ministério Público alerta o consumidor, o governo aprova projetos de lei que liberam o uso de substâncias tóxicas nas lavouras brasileiras, abafando as ações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), cujo objetivo final é a defesa do consumidor, no sentido de garantir a qualidade dos produtos que a população consome.
O autor aborda “a baixa preocupação de grupos de consumidores em relação à contaminação dos alimentos com agrotóxicos”, na referência ao trabalho de pesquisadores sobre o tema, e comenta os resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), de 2012, criado pela Anvisa.
De acordo com o estudo, avaliaram-se os principais alimentos consumidos pelos brasileiros quanto à toxidade, “com resultados do uso de agrotóxicos não recomendados para a respectiva cultura e uso de produto permitido, acima do limite máximo: o abacaxi, com 41%, a cenoura (33%), o morango (59%) e o pepino (42%)”. Observa-se, pelos resultados obtidos nas pesquisas, que há uma contaminação crônica dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros – o veneno está servido. A lei garante os direitos à alimentação adequada, à saúde e à informação da qualidade dos alimentos. A Constituição Federal de 1988, no art. 4º, prevê a segurança alimentar e nutricional, abrangendo: “promoção da saúde, da nutrição e da alimentação da população; a garantia da qualidade biológica, sanitária, nutricional e tecnológica dos alimentos, estimulando práticas alimentares e estilos de vida saudáveis que respeitem a diversidade étnica e racial”. Apesar de os produtos orgânicos se constituírem uma boa alternativa, os altos preços dos mesmos impossibilita a adoção dessa escolha pela grande maioria da população, observa o autor.
Por que as informações sobre agrotóxicos não estão disponíveis aos consumidores? Duas respostas se destacam: falta de regulamentação para que os comerciantes e produtores disponibilizem essas informações, e intenção de preservar interesses econômicos. Existe alguma luz no fim do túnel? Para Teixeira, há um projeto de lei brasileiro para obrigar produtores e comerciantes a fornecerem informações sobre o assunto, não dispensando a atitude de investigação constante dos consumidores. Aumentar a produção de orgânicos é uma medida a ser adotada pelo Executivo, e o Ministério Público precisa assumir o papel de fiscal jurídico da produção agrícola do país, pois, na visão do autor, “agricultura é também fonte de vida, de história e de biodiversidade – uma biodiversidade formada a partir da natureza e da atuação histórica do homem, trazendo em cada ‘cultura vegetal’ a ‘cultura humana'”.
(Jornal da USP, Direito à informação sobre agrotóxicos em alimentos é essencial, 22/05/2017. Disponível em: Acesso em 20/11/2020)
Dietas que se popularizam, comumente visam emagrecer. O sobrepeso e a obesidade, claramente perceptíveis desde as últimas décadas do século passado, tornaram-se problema de saúde pública. Por conta disso, de tempos em tempos geram-se novas maneiras de perder peso. Em moda e bastante difundida nos Estados Unidos, a atual Low Carb é uma das herdeiras da dieta do Dr. Atkins (anos 1960), de elevado consumo de carnes e gorduras animais. De fato, estudos revelam que a digestão de proteínas aumenta o consumo de energia do organismo e leva à perda de calorias. Uma segunda dieta em voga é a alcalina. Consiste em 60% de frutas, legumes, verduras, raízes, grãos, nozes de qualquer tipo, água, chá verde ou de gengibre. E 40% de alimentos ácidos como carnes, ovos e pães sem açúcar, de preferência com grãos. A promessa é evitar câncer e doenças cardiovasculares, estimular o crescimento, favorecer a perda de peso, atuar contra a osteoporose, absorver melhor a vitamina D (que nada tem a ver com vitamina; é próxima de um grupo de hormônios derivados do colesterol). Não há evidências sobre os efeitos da dieta alcalina, embora a proporção de frutas e vegetais beneficie a saúde em geral — facilita a digestão, diminui efeitos da hipertensão e, a depender das escolhas dos alimentos, ajuda a emagrecer.
A dieta baseia-se na crença errônea de que é melhor diminuir a acidez e aumentar a alcalinidade do organismo. Mas é a maravilhosa homeostase, mecanismo regulador das funções do corpo, que mantém o necessário pH de 7.35 e 7.45 (proporção ácido/alcalina). Mudanças nesse equilíbrio, sim, indicam distúrbios.
Pergunta-se por que tanto apego a modas alimentares. Uma das razões possíveis é a sensação de autossuficiência, o poder de escolher e determinar a própria conduta sem a obrigação de prestar contas. Preferir alguma dieta alternativa à orientação do clínico ou nutrólogo evita prognósticos desagradáveis e um tratamento que exige força de vontade, esforço extra com exercícios orientados, às vezes um grupo de apoio psicoterapêutico. Mudança de comportamento alimentar demanda tempo, convicção, persistência e otimismo. Além de custar dinheiro. Tudo chato. É possível que dietas alternativas como a low carb funcionem por um período limitado, sem prejudicar a seguidora ou seguidor. Para a nutróloga Mônica Inez Elias Jorge, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, isso ocorre porque depois de algum tempo a pessoa costuma desistir. “Fica monótono. Comer é prazer, é sociabilidade e afeto. Almoçar com colegas ou sair com amigos e pedir sempre a mesma coisa, enquanto outros escolhem pratos diversos, é um pouco frustrante. E pessoas muito radicais, seja qual for a dieta, correm o risco de se isolar. De outro lado, devido ao trabalho fora de casa tornou-se hábito comer em restaurantes ou lanchonetes e talvez se percam receitas familiares. É uma pena desaparecerem tradições e memória afetiva”.
Dietas, tipos de alimentação e preferências alimentares significam custos. Comer bem exige dinheiro. Em bairros afastados, a nutróloga Ana Claro Duran detectou desertos alimentares — ausência de feiras livres e sacolões onde se compra variedade e, a depender do horário ou dia da semana, com mais economia. A população mais pobre só encontra bares e pequenos empórios locais, com oferta de comida enlatada, biscoitos e bebidas açucaradas, o que contribui para a desigualdade em saúde. Mesmo quando há minimercados de grandes franquias, normalmente limitam-se a carnes embaladas e poucas hortaliças e frutas. Tudo é caro, meio envelhecido e pouco variado. (Adaptado de PATARRA, Judith. Entre crendices e dietas: o cidadão na balança. Observatório da imprensa, 1/12/2018, edição 1017.
Disponível em: < http://observatoriodaimprensa.com.br/jornalismo-e-saude/entre-crendices-e-dietas-o-cidadao-balanca/> Acesso em 20/11/2019)
Assinale a opção que expressa o que há de comum entre os Textos 1 e 2
I. Em ambos os textos há uma preocupação com a alimentação, no texto I, a partir dos processos de produção; no texto 2, a partir das escolhas das pessoas.
II. Os dois textos abordam a problemática da alimentação saudável, cada um a seu modo, mas em ambos tangenciando as questões de mercado envolvidas.
III. Enquanto no texto 1, os consumidores não se preocupam com a qualidade da alimentação, no texto 2, os consumidores se preocupam excessivamente com o que comem.
Está(ão) correta(s) a(s) afirmação(ões)