TEXTO IV
Caramuru: poema épico
Canto I
De um varão em mil casos agitado,
que as praias discorrendo do Ocidente,
descobriu o Recôncavo afamado
da capital brasílica potente:
do Filho do Trovão denominado,
que o peito domar soube à fera gente;
o valor cantarei na adversa sorte,
pois só conheço herói quem nela é forte.
Santo Esplendor, que do grão-Padre manas
ao seio intacto de uma Virgem bela;
se da enchente de luzes Soberanas
tudo dispensas pela Mãe Donzela;
rompendo as sombras de ilusões humanas,
tu do grão caso! a pura luz revela
faze que em ti comece, e em ti conclua
esta grande Obra, que por fim foi tua.
E vós, Príncipe excelso, do Céu dado
para base imortal do Luso Trono;
vós, que do Áureo Brasil no Principado
da Real sucessão sois alto abono:
Enquanto o Império tendes descansado
sobre o seio da paz com doce sono,
não queirais de dignar-vos no meu metro
de pôr os olhos, e admiti-lo ao cetro.
Nele vereis Nações desconhecidas,
que em meio dos Sertões a Fé não doma;
e que puderam ser-vos convertidas
Maior Império, que houve em Grécia, ou Roma:
Gentes vereis, e Terras escondidas,
onde se um raio da verdade assoma,
amansando-as, tereis na turba imensa
outro Reino maior que a Europa extensa.
[...]
DE SANTA RITA DURÃO, J. Caramuru: poema épico. Canto I. Disponível em: https://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/caramuru-poemaepico--0/html/ffce7bbe-82b1-11df-acc7-002185ce6064_2.html. Acesso em: 11 abr. 2024. (Fragmento).