Questão
Colégio Brigadeiro Newton Braga - CBNB - 6º ano
2022
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TEXTO I

O bife-lá-da-esquina

  • (Lygia Bojunga Nunes)

Quando Tuca saía da escola, ele ia direto ajudar um amigo a lavar carro.

Quer dizer, não era bem um amigo, era mais um patrão.

Ou melhor, não era bem um patrão, era mais um sócio. Quer dizer, não era bem um sócio… Um Momentinho vamos começar outra vez: quando o Tuca saía da escola, ele ia direto ajudar um cara a lavar carro. O cara era faxineiro de um edifício lá na Rua São Clemente. Ganhava salário mínimo. Então, pro dinheiro não ficar assim tão mínimo, ele lavava os carros dos moradores do edifício e ganhava em dobro.

Um dia, o Tuca passou por ali procurando um biscate, já que emprego ele não encontrava mesmo. Conversa vai, conversa vem, o faxineiro perguntou se o Tuca não queria fazer sociedade naquele negócio de lavar carro.

- Sociedade como?

-Você pega aí um ou outro carro pra lavar e eu te dou 10% de tudo que eu ganho.

O Tuca achou ótimo. E naquele dia mesmo começou a trabalhar.

Mas aí foi acontecendo o seguinte: mal o Tuca chegava, o faxineiro ia pro botequim da esquina tomar umas e outras; quando voltava, se ajeitava num escurinho da garagem; logo depois estava roncando.

E o Tuca ficava lavando sozinho tudo que é carro que tinha pra lavar. 

Um dia o Tuca achou que estava trabalhando sozinho demais e que então a tal matemática dos 10% não estava bem certa: reclamou.

O faxineiro não gostou:

-Escuta aqui, meu irmão, tem pelo menos 100 moleques que passam todo dia aí na rua querendo pegar esse emprego que eu te dei.

Então você já viu: tô te fazendo um bruto dum favor. Não precisa ficar toda vida me agradecendo. — Fechou a cara. — Mas também não quero reclamação. Não tá contente, pode dar o fora. E já. Tá?

Os trocados que o Tuca recebia lá na garagem bem que ajudavam pra ir levando comida pra casa.

Então, o que que era melhor, quer dizer, pior: continuar de matemática esquisita ou perder o biscate? E o Tuca continuou lavando carro.

Às vezes o porteiro do edifício chamava o faxineiro. O Tuca respondia do jeito que tinha sido ensinado:

-Tá lavando um carro lá fora: vou chamar. E dava uma corrida até o botequim pra avisar.

O faxineiro virava a cachaça num gole e saía correndo. O Tuca vinha atrás. Mas sem pressa nenhuma. Só pra poder passar bem devagar pelo restaurante lá da esquina. Que beleza! Se chamava “O Paraíso dos Bifes”. Da calçada a gente via tudo lá dentro pela parede de vidro. Mas não se ouvia nada, de tão bem fechado que era, de tão ar condicionado por dentro. E gente comendo, e garçom pra cá e pra lá, e tão gostoso de olhar: assim: feito quando a gente olha pra um aquário. Quem diz que o Tuca resistia? Parava, e toca a olhar.

Tinha mesa junto do vidro. E sempre, sempre! Os fregueses estavam comendo bife. A companhia do bife mudava muito:

Com arroz

Com salada

Com aspargos

Com ovo em cima…

A cor do bife mudava um pouco:

Ao ponto

Mal passado

Bem passado

Mas o que nunca mudava era o jeito fundo que o garfo e a faca entravam no bife. Quanto mais o Tuca olhava, mais impressionado ele ficava com aquele jeito fundo do talher ir se enterrando; que carne tão macia era aquela, meu deus? Tão impressionado, que um dia ele foi chegando mais pra perto, acabou achatando o nariz no vidro. Um garçom foi lá pra dizer que o freguês estava perdendo o apetite de tanto que o Tuca olhava pro bife. Então, daí pra frente, o Tuca passava devagar e olhava disfarçado. E só depois de passar muitas vezes é que ele prestou atenção na placa pequena, que tinha do lado da porta: era a lista dos bifes da casa: nome, companhia e preço de cada bife. O Tuca era mesmo fraco em matemática: então ele acabou ficando ali um tempão querendo calcular quantos carros ele ia ter que lavar para um dia comer um bife daqueles.

(...)

Lá na cozinha do Rodrigo, o Tuca tinha se esquecido da vida. Só fazia era olhar pros bifes que a cozinheira temperava (o dedo dela também se enterrava na carne de um jeito tão fácil, tão fundo!).

-Tá dormindo em pé, cara? — E o Rodrigo puxou o Tuca. Foram pra sala.

BOJUNGA, Lygia. Tchau. 19. ed. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2014.

TEXTO II



TEXTO III

CONHEÇA A HISTÓRIA DA CAMPANHA NATAL SEM FOME

“Quem tem fome, tem pressa”. Você provavelmente já ouviu essa frase. Ela é de autoria do sociólogo Herbert de Souza, mais conhecido como Betinho. Ele morreu há mais de 20 anos, mas deixou um legado muito importante para a sociedade. Em 1993, ele fundou a ONG Ação da Cidadania e um ano depois lançou a campanha Natal sem Fome.

Embora a ONG só tenha surgido no início dos anos 90, aqui no Recife, desde 1987, o religioso Dom Hélder Câmara desempenhava um projeto com ideias muito semelhantes às de Betinho. O coordenador e um dos fundadores da ação da cidadania no Recife, Anselmo Monteiro, recorda a ligação entre essas duas importantes figuras na defesa dos direitos humanos.

Essa união possibilita que milhares de pessoas possam ter o que para muitos é simples: um prato de comida. Neste final de ano, mais precisamente neste natal, a mensagem é intensificada: “quem tem fome, tem pressa”.

Como ajudar

Mais do que alimentar famílias no final do ano, a campanha Natal sem Fome visa principalmente chamar a atenção dos governantes e da sociedade para essa questão. Se você se interessou pelo assunto, e quer ajudar a Ong, é só acessar o site www.natalsemfome.org.br.

(radiojornal.ne10.uol.com.br/noticia/2019/12/02/conheca-a-historia-da-campanha-natal-sem-fome-180367)

TEXTO IV

PESQUISA REVELA QUE 19 MILHÕES PASSARAM FOME NO BRASIL NO FIM
DE 2020

Dados são de inquérito sobre insegurança alimentar na pandemia

Publicado em 06/04/2021 - 18:31 Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), indica que, nos últimos meses do ano passado, 19 milhões de brasileiros passaram fome e mais da metade dos domicílios no país enfrentou algum grau de insegurança alimentar.

A sondagem inédita estima que 55,2% dos lares brasileiros, ou o correspondente a 116,8 milhões de pessoas, conviveram com algum grau de insegurança alimentar no final de 2020 e 9% deles vivenciaram insegurança alimentar grave, isto é, passaram fome, nos três meses anteriores ao período de coleta, feita em dezembro de 2020, em 2.180 domicílios. De acordo com os pesquisadores, o número encontrado de 19 milhões de brasileiros que passaram fome na pandemia do novo coronavírus é o dobro do que foi registrado em 2009, com o retorno ao nível observado em 2004.

A pesquisa traz algumas indicações e sugestões de ações a serem tomadas pelas autoridades públicas. A mais óbvia, segundo disse hoje (6) à Agência Brasil o presidente da Rede Penssan, Renato Maluf, é que seja restituído o auxílio emergencial, “pelo menos com o mesmo valor do ano passado, ou seja, R$ 600”. Maluf disse acreditar que se a pesquisa fosse feita agora os dados poderiam ser piores. “É crucial que seja retomado o auxílio emergencial em um valor significativo”. Para Renato Maluf, o valor que está sendo dado esta semana não pode ser considerado uma política pública. Os valores variam de R$ 375 (para famílias chefiadas por mulheres) a R$ 150 (para quem mora sozinho).

(Disponível em: <<https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-04/pesquisa-revela-que-19-milhoes-passaram-fome-nobrasil-no-fim-de-2020 >>, acesso em 18/10/2021)

TEXTO V



(https://www.sonoticiaboa.com.br/2020/04/15/previsao-de-solidariedade/)

TEXTO VI

Seu Caneta, essa galinha é minha.

(Arzélio Alves Ferreira)

A vida estava um osso duro. Nada para comer. O fogão já fazia oito dias que não sabia o que era calor. A fome apertava, mas eu me virava. Comia goiabinha, araçá, azedinha, pitanga, gabiroba e cajuzinho do campo. Não gostava muito dos coquinhos porque dava muita sede, e os melhores estavam lá dentro do cemitério, no coqueiro plantado, no túmulo do Seu Richardi.

A mãe cozinhava, às vezes, mandioca que o pai trazia lá da chácara do Seu Arvino, mas não cozinhava. Era dura e rija. O jeito era pescar. Peixe a gente pegava, mas e o azeite para fritar? A mãe dava um jeito. Fazia peixe ensopado com água e água, isto é, água fria e água quente.

Gente, a fome mordia e doía. Tinha época que a mandioca nem cozinhava, o campo não dava
goiabinha, pitanga e nem lagarto verde.

Um dia o Camilo falou comigo e disse:

– Zelioar, você quer ir lá em casa?

Não pensei duas vezes, aliás, com a barriga vazia não se pensa nada.

Topei e fui, só lembrando da comida e já sentindo o cheiro da sopa que sua mãe, Dona Nair, fazia.

Chegando lá, quase morri quando me empanturrei com uma sopa de feijão com macarrão e coração de boi picadinho. Dona Nair oferecia e eu repetia. Comi tanto que até dispensei o pãozinho e não aguentava ver o Seu Sebastião, barbeiro dos bons, limpar seu bigode com o miolo do pão.

E lá em casa? Nada tinha. Era o fogão apagado, coberto de cinzas frias. De fome, a cadela Pitoca no quintal nem latia, só gemia

Uma tarde, quando em casa eu chegava, depois de perambular pelo campo à procura de frutas fiquei assustado, parecia festa. A mãe, resmungando, o fogo acendia e a panela de água enchia. Eu fiquei pasmado e não compreendia tudo aquilo que via. O pai assobiava numa euforia, carregando um saco de estopa de onde de dentro uma galinha saía. Mas pouco durou essa alegria, porque, lá em casa, Dona Maria Marcolina aparecia e com ela um cabo da polícia trazia e dizia:

– SEU CANETA, ESSA GALINHA É MINHA.

(Disponível em: <<https://piancoferreira.wordpress.com/2010/06/25/seu-caneta-essa-galinha-e-minha/>>, acesso em: 10/10/2021)

Sobre a totalidade dos textos da prova, é correto afirmar que:
A
Todos pertencem ao mesmo gênero textual.
B
Seus temas versam sobre fome e solidariedade.
C
Todos utilizam exclusivamente linguagem verbal no registro formal.
D
Apenas os textos mistos utilizam linguagem informal.