Questão
Academia da Força Aérea - AFA
2003
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TEXTO I

O PRAZER DE BISBILHOTAR

Na TV, internei ou na exibição de fotos reveladores, especialistas constatam: as pessoas gostam de espionar a intimidade alheia. Nunca a realidade fez tanto sucesso. O Brasil dos últimos meses viu uma explosão de audiência e repercussão dos reality show, programas que mostram o cotidiano das pessoas em detalhes prosaicos. Nas intrigas da Casa dos Artistas, do SBT, nas privações físicas de No limite, da Rede Globo, ou no embate psicológico de Big Brother Brasil, também, da Globo, o telespectador parece ter se viciado na observação das pessoas que não estão ali dramatizando, mas mostrando o que realmente são.

Esse fenômeno levantou uma discussão entre pesquisadores do comportamento humano: até que ponto somos todos voyeurs — pessoas que têm necessidade de observar a intimidade alheia? E até que ponto essa curiosidade é saudável? Há limites? Boas perguntas que poderiam ter sido feitas também em outras épocas. "Essa curiosidade é milenar", afirma o psicanalista Armando Colognese Jr., coordenador geral do departamento de psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, de São Paulo. "Só está se manifestando de uma forma diferente agora."

A palavra voyeur, que em francês significa algo como "olhador", entrou para o vocabulário médico no começo do século 20. Mas, o fenômeno é tão antigo como o homem — ou como outros pri matas que também gostam de espreitar os vizinhos, sobretudo em situações de intimidade.

(...)

Componente perverso

Há quem veja nos reality shows algo mais sério do que a tentativa de espantar a monotonia da própria vida. O psicólogo americano Philip Zimbardo, da Universidade Stanford, por exemplo, acredita que "programas como Survivor (inspirador de No limite) promovem os piores aspectos do comportamento humano."

Zimbardo, que participou da produção do reality show inglês Zoológico Humano, tem uma longa história nessa área. Em 1971, ficou famoso por confinar 24 estudantes voluntários, simulando uma penitenciária — vigiada por câmaras e microfones. O experimento foi interrompido no sexto dia para impedir os atos de brutalidade protagonizados pelos, até então, pacíficos alunos de psicologia. Presidente da Associação Americana de Psicologia, Zimbardo aprendeu a lição e hoje defende cautela no conteúdo dos reality shows.

A opinião é compartilhada pelo sociólogo Laurindo Leal Filho, presidente da ONG Tver, criada para discutir a responsabilidade social da televisão no Brasil. "É lamentável que a TV se aproveite de um componente perverso da personalidade humana para conseguir audiência", diz, referindo-se a programas como Casa dos Artistas e Big Brother. "Eles não estimulam o pensamento, não informam, nem sequer representam a realidade, pois quem está participando sabe muito bem que há câmeras e milhões de telespectadores observando."

(...)

Nem todos os especialistas são assim rigorosos. Na opinião do pesquisador americano Clay Calvert, da Universidade Estadual da Pensilvánia, por exemplo, esses programas são um entretenimento inofensivo. Autor do livro Voyeur Nation — um
estudo sobre o sucesso de programas como Survivor e Dateline (uma espécie de "Namoro na TV"), Calvert criou o termo "voyeurismo mediado para na violação de sua privacidade", afirma.

O psicanalista brasileiro Armando Colognese Jr. nesse acrescenta que o espectador também não está demonstrando comportamentos doentios ao sentir vontade de ver esses programas. “As pessoas assistem porque tem a necessidade de investigar a vida do outro para estabelecer um padrão de comparação", diz Colognese, u seja, não estão satisfeitas com suas vidas e procuram respostas da prova insatisfação buscando resposta para a questão: “O que ele tem que eu não tenho? “, diz o psicanalista. Para ele, isso é normal, mas frisa: desde que ver o programa não se torne fundamentar para o prazer da pessoa “.

(Paulo DAmaro. Revista Galileu)

Leia com atenção esta passagem transcrita do TEXTO I, assinalando, em seguida, a opção correta.

Esse fenômeno levantou uma discussão entre pesquisadores do comportamento humano: até que ponto somos todos voyeurs — pessoas que têm necessidade de observar a intimidade alheia?"
A
Nele se percebe uma silepse de número.
B
No período, o verbo "levantar" é impessoal e, quanto à predicação, transitivo direto.
C
Os trechos "até que ponto somos todos voyeurs" e "pessoas que têm necessidade de observar a intimidade alheia" funcionam, respectivamente, como apostos explicativos de "discussão" e "voyeurs".
D
O pronome relativo "que", destacado na frase introduz uma oração que restringe o significado do estrangeirismo voyeurs.