TEXTO I
O PARADOXO DO PROGRESSO
A população dos países mais ricos passa por uma crise existencial: a sensação de que no passado se vivia melhor. A história e as estatísticas, no entanto, mostram que a média dos moradores dos Estados Unidos e da Europa Ocidental nunca teve uma vida tão próspera. As pessoas vivem mais, têm mais acesso à educação e, descontados os desejos mais extravagantes, realizam como nunca os sonhos de consumo. Cinqüenta anos atrás, os objetivos de uma família americana eram a casa própria, o carro na garagem e pelo menos um dos filhos na universidade. Hoje, seu estilo de vida excede essas expectativas, graças a um aumento de 50% na renda da classe média nos últimos 25 anos. O que hoje é comum − uma frota de carros na garagem, assistência médica de primeira e férias no exterior − no início do século XX era privilégio de uns poucos milionários. Há muito mais: algumas doenças letais que nos anos 50 não poupavam nem sequer os muitos ricos, como a poliomielite, foram praticamente erradicadas. Apesar de todos esses avanços, os psicólogos identificam um fenômeno que tem sido chamado de “hipocondria social” ou “paradoxo do progresso”: a sensação crescente de que tudo o que se conquistou com as melhorias sociais é mera ilusão.
A idéia de que um bom padrão de vida não é garantia para a realização pessoal é antiga. Há mais de 2000 anos, o filósofo grego Aristóteles já afirmava que a felicidade se atinge pelo exercício da virtude, e não da posse. Uma pesquisa recente realizada pelo sociólogo holandês Ruut Veenhoven, da Universidade Erasmus de Roterdã, concluiu que com uma renda anual de 10 000 dólares o indivíduo tem o suficiente para uma vida confortável em qualquer país industrializado. A partir daí, como na propaganda de cartão de crédito, existem coisas − um sentido para a vida, uma paixão e amizades − que o dinheiro não pode comprar. A melancolia que contamina as sociedades ricas do século XXI é mais complexa do que a velha frase “Dinheiro não compra felicidade”.
A vida dos americanos melhorou...
• A expectativa de vida dos americanos aumentou de 47 para 77 anos nos últimos 100 anos.
• A renda das famílias de classe média cresceu 50% nos últimos 25 anos.
• Os americanos gastam 25 bilhões de dólares anuais apenas em equipamentos de recreação aquática (barcos, lanchas e jet skis).
• 70% da população têm casa própria, contra 20% no início do século XX.
• Uma em cada três famílias possui pelo menos três carros na garagem.
• O tamanho médio das casas é de 250 metros quadrados, o dobro da área das construídas há cinqüenta anos.
...mas muitos deles não notaram
• 54% dos americanos acreditam que os Estados Unidos estão no rumo errado.
• 25% experimentam pelo menos um episódio de depressão na vida.
• O porcentual de indivíduos que se consideram muito felizes caiu de 36% para 29% em trinta anos.
• Os Estados Unidos estão em 11º lugar no ranking internacional de felicidade da Universidade de Michigan, atrás de países complicados como Nigéria e México.
(Revista Veja, 14 de abril de 2004. Texto adaptado.)
TEXTO II
Dois e dois: quatro
Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade, pequena
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena
− sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.
(Ferreira Gullar)
Levando em conta a língua padrão escrita, assinale a frase totalmente correta.