TEXTO I
Meu cachorro, meu tesouro
As loucuras que só o dono de um cão é capaz de cometer
1 Existem dois tipos de ser humano: o que ama os cães e o que não suporta
2 um latido. Desconfio por princípio da segunda categoria. Quem é incapaz de se
3 comover diante do olhar meloso e chantagista de minha cadela “Violante”, por
4 exemplo, deve ter um coração de pedra. Violante é policial capa preta e ganha a
5 ração de cada dia latindo quando alguém se aproxima do portão. Foi treinada. Que
6 eu saiba, morder, só mordeu uma vez. Minhas próprias mãos, para ser exato.
7 Mostrei um pãozinho e ergui bem alto, querendo ver se ela alcançava. Pulou feito
8 um canguru e, quando cravou os dentes no pão, quase levou meus dedos. É bem
9 menos elegante que meu outro cão, um husky siberiano, com um olho castanho e
10 outro azul. Quando ofereço pãezinhos, ele espera o seu com paciência e come de
11 patas cruzadas. Quem ama cães é capaz de loucuras. Um casal de amigos tinha um
12 sítio em Cotia, onde viviam seus dois amados pastores alemães. Eram umas feras,
13 que sempre assustavam as visitas. Eu mesmo vivi instantes de pavor num dia em
14 que esqueceram a porta da sala aberta. Como mãe cega, a dona da casa murmurava:
15 - Não são umas gracinhas?
16 Venderam o sítio. Fizeram uma combinação com os caseiros. Eles cuidariam
17 dos bichos por uma quantia mensal. Contribuíram para que comprassem um
18 terreno. Forneceram tijolos para a casa. Toda semana, iam visitar os pastores
19 alemães. O ex-caseiro coçava a cabeça:
20 - Faltou dinheiro para as telhas. Outro dia, choveu nos cachorros.
21 Quando fizeram as contas, marido e mulher descobriram que seria mais
22 barato instalar os pastores alemães em um flat. Andam doidos, tentando achar
23 pouso para os cães. Separar-se, impossível. Conheço uma médica colombiana que
24 vive em São Paulo há anos. Contou-me felicíssima:
25 - Foi inaugurada uma estrada que une o Brasil à Colômbia. Se um dia precisar,
26 posso levar meus cachorros de carro até Bogotá.
27 Possui dois são-bernardos. Assustei-me. Teria coragem de se meter no meio
28 da Floresta Amazônica?
29 - Por meus cachorros, sou capaz de tudo.
30 É mesmo. O marido reclamou:
31 - Se ela tivesse de escolher entre mim e os cães, acho que eu perderia a
32 parada.
33 A médica sorriu educadamente. Calou-se. Mais uma frase e a conversa
34 terminaria em divórcio.
35 Duas amigas abrigaram um vira-lata parente de beagle em seu apartamento.
36 O malhadinho já roeu todos os móveis, comeu livros, quase foi eletrocutado pelo
37 fio da televisão. Devasta mais que um ciclone. O síndico exigiu a retirada da
38 criatura. Estão à beira de uma guerra judicial. Ouvi uma delas se lamentando com
39 o chefe:
40 - Estou quase louca por causa desse cachorro.
41 - Dê para alguém – opinou o diretor, insensível.
42 Ela o encarou como se ele fosse um monstro. Quem não ama cães é incapaz
43 de compreender. Cada vez que abre a porta do apartamento, e o safado late e abana
44 o rabinho, ela descobre o que é felicidade. Diante disso, que importam os móveis
45 e os problemas com o condomínio?
CARRASCO, Walcyr. Histórias para a sala de aula – Crônicas do cotidiano. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2015.
Podemos compreender que “o uso do sinônimo como substituto de uma palavra anteriormente presente mantém a continuidade do tema do texto ou do tópico do parágrafo, exatamente porque possibilita a formação de uma cadeia, de um fio em sequência”, como também “a substituição de uma palavra por outra tem repercussões no caráter informativo e na força persuasiva do texto, pois pode elevar o grau de interesse do interlocutor pela forma como as coisas são ditas”. (ANTUNES, Irandé, 2005, p. 100).
Levando em consideração a citação acima, assinale a alternativa em que são listadas as palavras que foram utilizadas como sinônimos de “cachorro” no texto I.