TEXTO II
O Casamento da Emília
Durou uma semana o noivado de Emília. Todas as tardes, trazido à força por Pedrinho, aparecia o Marquês de Rabicó para visitar a noiva, e tinha de ficar meia hora na sala, contando casos e dizendo palavras de amor.
Mas apesar de noivo o Rabicó não perdia os seus instintos. Logo que entrava punha-se a farejar a sala, na sua eterna preocupação de descobrir o que comer. Além disso, não prestava a menor atenção à conversa. Não havia nascido para aquelas cerimônias.
Uma tarde, Pedrinho zangou-se e resolveu substituí-lo por um representante.
- Rabicó não vale a pena – disse ele aborrecido. – Não sabe brincar, não se comporta. O melhor é isto, querem ver? – e saiu.
Foi ao quintal e trouxe um vidro vazio de óleo de rícino que andava jogado por lá.
- Está aqui. De agora em diante o noivo será representado por este vidro azul, e o tal Marquês de Rabicó vai passear – concluiu pregando um pontapé no noivo.
Rabicó raspou-se gemendo três coins , e desde esse dia, enquanto fossava a terra no pomar atrás da tal minhoca de anel na barriga, quem noivava por ele, de cartola na cabeça, era o senhor Vidro Azul.
Emília comportava-se muito bem embora de vez em quando viesse com impertinências.
- Eu já disse a Narizinho: caso, mas com uma condição.
- Eu sei qual é! – adivinhou o senhor Vidro Azul. – Não quer morar na casa do Marquês, com certeza porque não se dá bem com o futuro sogro, os Visconde de Sabugosa.
- Isso não! Até gosto muito do senhor Visconde. O que não quero é sair daqui. Estou muito acostumada.
- O senhor Vidro Azul coçou o gargalo.
- Sim, mas…
- Não tem mas, nem meio mas! Quem manda neste casamento sou eu. O Marquês fica por lá e eu fico por cá – declarou Emília, toda espevitadinha e de nariz torcido.
O representante do noivo suspirou.
- Que pena! O Senhor Marquês já mandou construir um castelo tão bonito, de ouro e marfim, com um grande lago na frente…
Emília deu uma risada.
- Eu conheço os lagos do Marquês! São como aquele célebre “lago azul” que certa vez prometeu à Libelinha lá do Reino das Abelhas.
O senhor Vidro Azul atrapalhou-se. Viu que Emília não era nada tola e não se deixava enganar facilmente. Procurou remendar.
- Sim, um lago. Não digo um grande lago, mas um pequeno lago, um tanque…
- Uma lata d’água, diga logo! – completou Emília mordendo os beiços.
Narizinho interveio, repreensiva.
- Você está aqui para noivar, Emília, para dizer coisas bonitas e amáveis, e não para brigar com o representante do Marquês. Veja lá, hein?
Adaptado. Extraído de: Fábulas de Monteiro Lobato. Disponível em: byblosfera.blogspot.com/2015/01/o-casamento-da-emilia-historia-de.html
O texto fala que Pedrinho precisou substituir o noivo, Marquês de Rabicó, por um vidro azul. Tal substituição se deu porque