TEXTO I
A escola é (seria, se todos tivessem acesso à educação) o lugar em que vamos descobrindo quem nós somos. Desde a música que gostamos de escutar, o esporte que gostamos de jogar, o estilo que queremos vestir, os amigos que convivemos e, claro, quais áreas de conhecimento queremos nos aprofundar. Entramos na escola crianças, ainda descobrindo o mundo, e saímos de lá adolescentes, quase ou já na maioridade. Isso quer dizer que as experiências que vivemos lá são muito responsáveis por quem nós somos e seremos. O problema é que isso nem sempre é uma experiência positiva e geradora de boas lembranças.
Tenho que assumir que a minha experiência na escola não foi das piores, alguns dos meus privilégios garantiram que eu não fosse o principal alvo das tais “zoações” adolescentes que, geralmente, giram em torno dos pontos frágeis de cada um(a) e das opressões enraizadas na sociedade. Mas parar, hoje, pra analisar as nossas relações naquela época (que pra mim já faz uns anos mas sei que ainda acontece do mesmo jeito), me fez enxergar alguns fatos assustadores.
Durante a vida toda somos incentivadas à competição. Os aspectos dela podem ser diversos: o corpo, o desempenho na escola, a popularidade, os gostos e muitos outros... Na adolescência isso se intensifica, e a melhor forma de lidar com as diferenças ainda não é muito bem entendida. Não sabendo como lidar, não nos utilizamos da seriedade e responsabilidade necessárias. A “zoação” com o colega de classe, por qualquer motivo que seja, pode parecer uma brincadeira inofensiva pra quem faz, mas é, na verdade, uma forma que desenvolvemos de diminuir o outro pra que a gente se sinta melhor e superior, além de poder trazer consequências profundas a quem sofre com essas atitudes. Bom, se a escola é espaço de formação de crianças e adolescentes, qual deve ser o papel dela enquanto instituição nas relações entre as/os estudantes que a frequentam?
Professores e diretoria, antes de tudo, precisam tratar com seriedade esses casos (o que a gente vê que não acontece muito por aí). Em paralelo, muitas vezes, as agressões vêm justamente de quem deveria estar do nosso lado. Afinal, não é porque são professoras ou gestoras, que essas pessoas estão livres de reproduzir e exercer violências. Eu acredito que é importante entender a escola como espaço de formação acadêmica e também social. Saímos dela cidadãs e cidadãos para o mundo e a escola precisa exercer o seu papel de formadora de pessoas. O espaço da escola é espaço de convivência, é espaço de construir relações e isso precisa ser um aprendizado também. É dever da escola agir e apoiar estudantes oprimidos, ela deve ser um lugar seguro, de construção e desconstrução. Talvez, assim, saíssemos dela um pouco menos machucados e traumatizados, ou menos agressivos e intolerantes, o que, com certeza, reflete diretamente na vida da sociedade em que vivemos.
Sofrer bullying e opressão na escola não é brincadeira, não é pra ser deixado pra lá. A sua dor não é irrelevante. As relações que construímos nesse momento de nossas vidas nos marcam, muitas vezes, para o resto dela e, se for de forma negativa, pode nos causar muita dor e dificuldade mais pra frente. Tratar com seriedade e garantir a segurança das/dos estudantes dentro da escola é papel essencial de cada um que a ela constrói. Afinal, é nosso esse lugar.
(Adaptado de <http://www.revistacapitolina.com.br/bullying-nao-e-brincadeira/> Acesso em 24 set. 2020)
Segundo o texto,