TEXTO I:

TEXTO II:
Batendo uma asa só, o Anjinho deu uma voejada em torno de um dos homens que chegava para o trabalho. Aquele deveria ser o chefe, e foi a ele que Laurinha se dirigiu. Levantou o nariz e foi logo bronqueando:
— Por que vocês derrubaram todas estas árvores? Por que vocês derrubaram a minha árvore?
— A sua árvore? — espantou-se o homem.
— Que eu saiba, todas estas árvores pertencem à fábrica de papel onde eu trabalho. Estas árvores foram derrubadas para fazer papel!
Papel? A menina ficou um pouco envergonhada, com medo de fazer papel de idiota:
— Papel? O papel é feito de eucalipto?
— Você não sabia? Quando você vai para a escola, quase tudo o que você leva é produto de alguma árvore. Os livros, os cadernos, os lápis, e até a borracha, que é feita da resina de uma árvore...
— Não me importam as outras árvores! — interrompeu Laurinha.
— Só me importa o que vão fazer com o meucalipto!
— Meucalipto?! — estranhou o homem.
— O certo é eucalipto!
— Isso eu sei — disse a menina apontando para o tronco onde estava gravado o coração a canivete.
— Mas este tronco é de uma árvore muito especial. Este é o meucalipto.
O homem olhou para o coração, depois para a menina, e entendeu tudo:
— O seu nome começa com A ou com L?
— Eu me chamo Laurinha...
— Sabe, Laurinha? O seucalipto não vai desaparecer. Vai ser transformado. Você quer saber como?
— Claro que quero!
— Então venha comigo. Vamos levar essas toras para a fábrica de papel, que fica aqui perto. Lá, você vai descobrir tudo.
Meia hora depois, Laurinha estava a bordo de um caminhão que levava uma grande carga de toras de eucalipto. Entre elas, estava o seucalipto.
E o Anjinho? Bem, o Anjinho estava sentado em cima da pilha, tomando conta do tronco que tinha começado toda aquela história. O caminhão entrou no pátio de uma grande fábrica, onde se via um maquinário enorme que ocupava uma grande área. Com o Anjinho sempre voejando em volta, Laurinha desembarcou e ficou espiando as toras serem descarregadas do caminhão, agarradas por uma máquina que tinha grandes garras, como uma mão metálica.
O motorista foi até um homem de óculos e falou-lhe alguma coisa, apontando para a menina. O homem de óculos deu uma gargalhada e veio na direção de Laurinha.
— Meu nome é Aurélio. Sou o gerente desta fábrica de papel. Você é a menina que tem um eucalipto de estimação?
— Eu tinha... — respondeu a menina.
— Mas vocês cortaram o meucalipto. Agora eu já sei porque as florestas estão desaparecendo. Fábricas como a sua estão acabando com as florestas!
O gerente Aurélio interrompeu a acusação da menina:
— Espere aí! Não estamos acabando com nenhuma floresta. Para cada eucalipto que derrubamos, plantamos mais dois. Quanto mais árvores são cortadas para fazer papel, mais a floresta cresce!
— Quer dizer que vocês criam florestas?
— Isso mesmo. Veja: há homens que matam baleias e que estão levando esses fantásticos mamíferos marinhos à extinção, porque eles não criam baleias para substituir as que eles matam. Mas ninguém diz que os bois ou as galinhas estão em vias de extinção, não é? E a Humanidade usa muito mais bois e galinhas para comer do que baleias. E sabe por que os bois e as galinhas não estão em extinção? Porque os homens criam bois e galinhas! O mesmo que a nossa fábrica de papel faz com as árvores!
Bandeira, Pedro, 1942- O mistério da fábrica de livros / Pedro Bandeira ; ilustrações Roberto Negreiros. — 33. ed. — São Paulo : Hamburg, 1994.
Releia atentamente a fala de Laurinha: “Mas este tronco é de uma árvore muito especial. Este é o meucalipto.”. O uso da palavra “meu” junto à palavra “eucalipto” traz um sentido de: