TEXTO 4
George
(...)
1 Adotei George (uma dogue alemã com labrador, com pit bull, com galgo, com
2 ridgback, tudo junto e misturado – chamemos de Brooklyn de pelo curto) porque achei
3 que seria divertido. Ela acabou sendo uma complicação na minha vida a maior parte do
4 tempo.
5 George sobe nas visitas, come os brinquedos do meu filho (e vez por outra tenta
6 comer o próprio), tem obsessão por esquilos, atira-se em cima de skatistas e de judeus
7 ortodoxos, tem o dom de passar por entre as lentes das câmeras e o que está sendo
8 fotografado, encosta o traseiro na pessoa menos interessada nisso, desenterra o que acabou
9 de ser plantado, arranha o que acabou de ser comprado, lambe o que está prestes a ser
10 servido e às vezes se alivia no lado errado da porta da frente. A cabeça dela está
11 servido e às vezes se alivia no lado errado da porta da frente. A cabeça dela está
12 Nossos muitos esforços – para nos comunicarmos, para descobrirmos e
13 acomodarmos os desejos um do outro, ou simplesmente para coexistirmos – forçam-me a
14 interagir com algo, ou melhor, com um outro ser totalmente diferente. George só é capaz
15 de reagir a um punhado de palavras, mas nosso relacionamento se dá quase que
16 inteiramente fora do mundo das palavras. Ela parece ter pensamentos e emoções, desejos
17 e medos. Às vezes acho que posso compreendê-los; com mais frequência, não. Ela é um
18 mistério para mim. Devo ser um para ela também.
(...)
FOER, J. S. Minha vida de cão. In: CHAO, S. (Org.). Antologia Pan-Americana: 48 contos contemporâneos do nosso continente. Rio de Janeiro: Record, 2010.
Considerando a organização discursiva do primeiro e do segundo parágrafo do Texto 4, pode-se afirmar corretamente que