TEXTO 2
“INCLINO-ME a pensar…”, disse eu.
“É o que eu deveria estar fazendo”, atalhou Holmes, impaciente.
Tenho-me na conta do mais paciente dos mortais, mas admito que fiquei irritado com a interrupção sardônica.
“Francamente, Holmes”, disse eu, muito sério, “às vezes você é um pouco irritante.”
Ele estava absorto demais em seus pensamentos para dar uma resposta imediata à minha censura. A cabeça apoiada na mão, o desjejum intocado diante de si, olhava para o pedaço de papel que acabara de tirar de um envelope. Depois pegou o próprio envelope, ergueu-o para aproximá-lo da luz e estudou minuciosamente tanto o exterior quanto a aba.
“É a letra de Porlock”, disse, pensativo. “Não tenho quase nenhuma dúvida de que é a letra de Porlock, embora só a tenha visto duas vezes. O ἐ grego encimado pelo peculiar floreio é característico. Mas se é de Porlock, deve ser uma coisa de importância capital.”
Ele se dirigia mais a si mesmo do que a mim, mas o interesse que essas palavras despertaram prevaleceu sobre a minha irritação.
“Mas afinal quem é Porlock?” perguntei.
“Porlock, Watson, é um nom-de-plume, mero sinal de identificação, mas por trás dele existe uma personalidade escorregadia e ambígua. Numa carta anterior, ele me deixou claro que esse não é o seu nome, desafiando-me a descobri-lo algum dia entre os milhões de habitantes desta grande cidade. Porlock é importante não por si mesmo, mas pelo grande nome com que está em contato. Imagine o peixe-piloto com o tubarão, o chacal com o leão – qualquer coisa insignificante em companhia do terrível. Não só terrível, Watson, como sinistro – sinistro no mais alto grau. É por isso que ele entra em meu campo de interesse. Já me ouviu falar do professor Moriarty?”
DOYLE, Arthur Conan. O vale do medo. São Paulo: Zahar (Clássicos), 2018.
O trecho “ ‘INCLINO-ME a pensar…’, disse eu.”, que abre o texto em questão, poderia ser reescrito, com mesma significação e manutenção da sintaxe em