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2022
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Sem tempo para romance

Em meio a uma queda significativa no número de leitores, especialistas e coordenadores da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil avaliam um crescente desinteresse em relação aos autores brasileiros e à narrativa longa

O Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores nos últimos cinco anos. Como medida de comparação, é como se toda a população da Nova Zelândia, em meia década, nunca mais optasse por abrir um livro. Esse talvez seja um dos recortes que mais chamam a atenção na 5ª edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, apresentada no início de setembro pelo Instituto Pró-Livro e pelo Itaú Cultural.

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Entender essa queda, avaliam os especialistas em literatura, exige uma atenção às pistas. O principal motivo, dado por 47% dos entrevistados, é que não se lê mais por falta de tempo; em segundo, 9% disseram que dão preferência a outras atividades.

“Em meio à reprovação pessoal e social de não estar na escola, os respondentes podem ter se salvaguardado, criando um dado positivo sobre si mesmos, no inconsciente”, pondera José Carlos Fernandes, jornalista e professor do curso de Comunicação Social na Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Ler a pesquisa é mais entender ‘o que o entrevistado quis dizer com o que disse’ do que ‘o que disse’ de fato. Nesse sentido, diria que a pesquisa tem de ser lida em parceria com outros estudos, que ajudem a entendê-la. E não ser lida como absoluta, mas como estímulo para investigar nuances regionais.”

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Autores brasileiros

Quando leu a pesquisa, alguns dados chamaram a atenção de João Luís Ceccantini, professor de Literatura Brasileira da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O mais chocante: praticamente não havia autores brasileiros entre os 50 mais mencionados no gênero de literatura infantil, juvenil e young adult.

“Lygia Bojunga, Marina Colasanti e Ziraldo, entre mais de 50 autores, simplesmente não aparecem na pesquisa”, lamenta. “Há um descompasso na mediação para que esses livros cheguem até esses leitores. Será que é só na escola ou há falta de políticas públicas e, ao mesmo tempo, não se investe na formação de mediadores? Há um clichê que se diz por aí que ‘os jovens não leem’. A atual pesquisa reforça que, se há alguém que lê hoje, são os jovens. Eles leem muitos livros que são pensados para eles, mas é duro que a maioria é títulos estrangeiros; nos títulos nacionais, apesar de haver boas ofertas, quase não aparecem menções.”

Ceccantini avalia com pessimismo o atual momento, principalmente para os novos autores brasileiros. Para ele, o momento propõe múltiplos canais de divulgação, porém poucos receptores. “Nunca antes tivemos tantas possibilidades, facilidades e diversidade para um jovem autor trazer seu livro a público. Mas está se tornando uma coisa de ‘entendidos’, de nicho... uma ação entre amigos. O risco de termos obras médias para boas de ficarem esquecidas e nunca serem lidas por ninguém é bem grande”, reflete.

Cultura de abandono

O imediatismo de um mundo totalmente imerso nas redes sociais trouxe consequências negativas, avaliam os entrevistados, para um gênero em específico: o romance. Se dispor a ler por horas, dias e meses uma obra parece pouco recompensatório se comparado à duração de uma série de TV, por exemplo.

A leitura do gênero, na pesquisa, cai de 32% na faixa de 25 a 29 anos para 20% entre os 50 e 59 anos e desaba a 13% para leitores com 70 anos ou mais. “Você não vê um livro do Rubem Fonseca ou um romance nacional entre as obras mais lembradas”, lamenta Ceccantini. “Há a pulverização de autores, obras e não vemos um reflexo de um esforço coordenado da nação para a literatura chegar a algum lugar.”

A leitura fragmentada por parte do brasileiro — como da Bíblia, uma das obras mais lembradas na Pesquisa —também cria uma cultura de abandono parcial ou total de um livro com mais frequência, avalia José Carlos Fernandes. “A velocidade, os meios eletrônicos e as próprias práticas escolares reforçam a leitura de partes em vez do todo”, avalia José Carlos Fernandes. “Mais do que lamentar, é preciso lidar com isso e projetar esse fato nos programas de leitura. Por exemplo, cresce a compra de audiobook, há a febre dos podcasts.” 

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“Para nós foi difícil separar e dizer ‘bom, vamos considerar isso literatura?’. É possível que alguém que tenha lido uma poesia do Manoel de Barros nas redes fique tão entusiasmado que, tomara, vá atrás de ler outras. Mas é um fenômeno difícil de avaliar”, conta.

BRUNO RAPHAEL MÜLLER é jornalista. Vive em Curitiba (PR) e já trabalhou para a Revista Rolling Stone Brasil, Gazeta do Povo e RPC.

Assinale a opção em que a modificação de posição do adjetivo para depois do substantivo geraria modificação de leitura.
A
Para ele, o momento propõe múltiplos canais de divulgação, porém poucos receptores.
B
Ceccantini avalia com pessimismo o atual momento, principalmente para os novos autores brasileiros.
C
Eles leem muitos livros que são pensados para eles, mas é duro que a maioria é títulos estrangeiros; nos títulos nacionais, apesar de haver boas ofertas, quase não aparecem menções.
D
A atual pesquisa reforça que, se há alguém que lê hoje, são os jovens.
E
Em meio a uma queda significativa no número de leitores, especialistas e coordenadores da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil avaliam um crescente desinteresse em relação aos autores brasileiros e à narrativa longa.