A SUMAÚMA
No início era escuro e frio. Não havia dia. Era sempre noite.
Uma imensa árvore – a sumaúma –, de tronco muito alto e com os galhos cobertos de folhas, cobria tudo, não deixando entrar a luz.
Dois irmãos da aldeia Ticuna, o menino Ipi e a menina Tetchi, decidiram investigar o assunto. Pensaram muito em qual seria a melhor atitude a tomar, até que tiveram a ideia de atirar uma semente de açaí na sumaúma, para ver se ela atravessava a copa da árvore.
A semente passou pela árvore, abrindo uma fresta na folhagem. Através dela, os irmãos conseguiram ver que um bicho-preguiça prendia os galhos da sumaúma no céu. Então, pegaram o cesto cheio de sementes de açaí que tinham levado e atiraram uma semente atrás da outra na tentativa de soltar os galhos e abrir espaço para deixar entrar a luz.
As sementes de açaí foram parar no céu e se transformaram em estrelas, mas a luz não entrou pelas folhas da árvore. A escuridão continuava.
Ipi e Tetchi tiveram outra ideia para ver se conseguiam a luz: convocaram todos os animais da floresta para derrubar os galhos da árvore.
Primeiro, reuniram as aves: a arara-vermelha, o cardeal, a arara-azul, o pia-pouco, o mutumcavalo, o papagaio e a ararajuba. Depois, chamaram o macaco e o sapo. Em seguida, foi a vez da capivara, da cutia e do maior bicho de todos: a anta. E, por fim, foram atrás dos animais mais temidos:a ariranha, a jiboia e a onça. Até o jacaré foi ajudar
As aves e os animais menores escalaram a árvore para balançar os galhos. Os bichos mais pesados ficaram no chão para sacudi-la. Todos tentaram diversas vezes, mas nada conseguiram. Nenhum galho se mexeu
O pica-pau ficou um tempão bicando o tronco da sumaúma, mas isso também não adiantou nada.
Ipi e Tetchi se despediram dos bichos e voltaram para a aldeia. Lá, propuseram uma competição: o índio que conseguisse atirar formigas-de-fogo nos olhos do bicho-preguiça se casaria com a irmã mais velha deles, Aucana, que era muito bonita.
Os rapazes mais altos e mais fortes da aldeia tentaram subir na árvore, mas nenhum deles conseguiu chegar ao topo, onde estava o bicho
Então, apareceu Taine, um índio miúdo. Ninguém imaginava que ele conseguisse escalar aquele tronco tão alto. Mas Taine foi subindo, subindo, subindo, passou do meio do caminho, de onde os outros tinham voltado, e continuou, sempre em frente, até chegar ao topo. Lá no alto, jogou as formigas-de-fogo nos olhos do bicho-preguiça. Ele ficou tão desesperado que soltou os galhos da árvore para se livrar das formigas.
Os galhos baixaram e a luz apareceu, iluminando tudo: a mata, os rios, a aldeia. Todos puderam enxergar as plantas e as frutas que havia na floresta.
Para comemorar o feito do pequeno índio, realizou-se uma grande festa, e Taine pôde se casar com a bela Aucana.
Inspirada em "A samaumeira que escurecia o mundo", coletada por professores ticunas no Livro das árvores. Silvana Salerno. Qual é o seu norte?. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2012.
Assinale a opção que traz palavras cuja regra de acentuação foi alterada pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1990: