Questão
Provão de Bolsas ITA/IME
2020
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
Que-sala-aula-cabe915195e251e
Que sala de aula cabe em uma tela?

De repente, a escola física evaporou e a tecnologia, que deveria ser evitada por crianças e adolescentes, torna- se o único elo possível entre alunos e professores. Há dificuldades, mas há aprendizados maiores que o curricular

Isabelle Moreira Lima 

03 de Maio de 2020

Com a ordem de isolamento social dada em 17 de março por governadores de todas as regiões do Brasil, a escola tal qual conhecemos – com lousa, cadeiras e pessoas de carne e osso – evaporou. Até então figurantes nesse ambiente, as telas, aquelas mesmas que segundo especialistas deveriam ser usadas com parcimônia por crianças e adolescentes, ganharam protagonismo ao tornar-se o único canal possível para a continuidade do ano letivo. Mas que sala de aula é essa que cabe dentro de uma tela?

A resposta mais comum ouvida por Gama de professores e diretores foi dada com certo incômodo: a sala que cabe é a “possível”, não a ideal.

Com mais de um mês de funcionamento à distância, a rede privada já tem um balanço relativamente claro: o mais eficaz quando o foco é passar o conteúdo do semestre tem sido uma mescla de aulas síncronas (feitas em tempo real) e assíncronas (gravadas) com atividades propostas. Mas a frieza do meio digital é um problema sem solução.
Além da transferência de conhecimento, a escola é também um lugar de aprendizagem social, algo que fica comprometido quando o contato escolar se resume ao uso de um aplicativo. “A escola é o espaço das crianças viverem com diversidade, estabelecerem vínculos sociais, terem contato com outros modelos de adultos, terem a convivência com iguais, na mesma faixa etária, e aprenderem a resolver problemas e desafios. A tela é complementar, mas nada substitui a sala de aula presencial, o contato humano, a possibilidade dessas crianças desenvolverem empatia e alteridade”, afirma Cleuza Vilas Boas, diretora pedagógica da Móbile, que vai da educação infantil ao ensino médio, na zona sul de São Paulo.

A tela é complementar, mas nada substitui a sala de aula presencial, o contato humano, a possibilidade de desenvolver empatia e alteridade

Nem as escolas com mais experiência na área digital estão totalmente confortáveis com a transição forçada. O Dante Alighieri, tradicional escola particular de São Paulo, transpôs a grade do fundamental II (do 6º ao 9º ano, antigas 5ª a 8ª série) ao ensino médio (antigo 2° grau) para as aulas online ao vivo. A escola tinha uma experiência anterior de ensino remoto, quando fechou as portas por 13 dias em 2009 pela pandemia de H1N1, assim como algumas outras no Brasil. “Algumas coisas você transpõe para o ambiente digital, outras, não dá. A tecnologia tem suas idiossincrasias. Quando há clareza de objetivos, ela tende a trabalhar a favor. Essa nova sala de aula gera aprendizagem e reflexões do que tínhamos e poderemos ter no futuro. Mas ainda sou cética, acredito mais nas pessoas, o peopleware, que em hardware”, afirma a diretora Valdenice Minatel de Cerqueira.

Na educação infantil, estruturada em torno de brincadeiras e interação, o desafio é grande. Especialmente porque a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças de até dois anos de idade não sejam expostos a telas e que os de até cinco tenham contato por menos de uma hora por dia. Com a impossibilidade física, como manter a chama da escola acesa?

Muita coisa não funciona também para os pais. É consenso entre as escolas que aqueles que se envolvem mais com as atividades propostas têm os filhos mais adaptados ao novo tempo. Acontece que com obrigações de trabalho remoto e sem rede de apoio por perto, poucos são aqueles que conseguem dar conta de mais uma tarefa. Nas reuniões de pais, as reclamações se repetem como mantras: há os que acham que a escola está mandando atividades demais e que, portanto, não conseguem ajudar e acompanhar os filhos; e os que acham que o volume é insuficiente, e que culpam a escola pela ociosidade dos filhos.

Do lado dos professores, além da dificuldade em se reinventar, a distância física impõe limitações de percepção e emocionais. “Eu sabia muito bem como ler a sala de aula e avaliar o que estava acontecendo com o meu grupo. Só que todos os sinais que eu lia eram físicos, estavam nos corpos dos alunos, na postura, na organização espacial deles, no olhar, nos sons”, afirma a professora de português Manuela Prado, do Santa Cruz, que encontrou nas videoconferências seu momento mais valioso destes tempos de quarentena — conta que chega a chorar depois das aulas.

Na rede pública, a limitação do acesso à internet ainda é um problema para muitos alunos. Com a realização do Enem intacta, saída encontrada pela Secretaria de Educação do Governo do Estado de São Paulo foi usar dois canais de TV aberta com teleaulas e um aplicativo, o Centro de Mídias, que não depende do pacote de dados de um celular, para a interação entre alunos e professores. Além disso, há atividades dirigidas pelo app e em apostilas.

Para professores e coordenadores, além da importância de manter o vínculo com os alunos e a escola como ponto de referência de justiça e igualdade (afinal, muitos vivem em situação de risco), a maior preocupação é a padronização dos conteúdos, algo que, se não feito, pode aumentar ainda mais o fosso da desigualdade entre os alunos.

Se professores e pensadores se voltarem a entender a necessidade desse tipo de aprendizado, pode sair coisa muito boa

(Disponível em < https://gamarevista.com.br/semana/filhos-e-telas/ensino-a-distancia-a-sala-de-aula-que-cabe-na-tela/> Acesso em 14 dez. 2020)

O texto de modo geral entende a escola como um espaço de
A
possiblidades, ainda que não seja uma sala de aula ideal, pois enfrenta limitações tecnológicas. 
B
criação de vínculos, ainda que padronize conteúdos, o que aumenta a desigualdade entre alunos. 
C
frieza, ainda sem solução já que o modelo de sala de aula presencial dificulta os contatos humanos.
D
criatividade, já que após a pandemia as escolas devem manter um misto de aulas ao vivo ou não. 
E
aprendizagem social, onde se convive com a diversidade e a aprende a desenvolver a empatia.