(PROPOSTA DE REDAÇÃO)
Envelhecer é para poucos
O Rio de Janeiro deu a largada na (mais que bem-vinda) imunização dos nonagenários em cerimônia, domingo passado, com três mulheres — a costureira Sebastiana Farnezi da Conceição, 98 anos, Dulcinéia Gomes Pedrada, 97, Neiva Gomes Brandão, 95, ambas dona de casa — e dois homens, o ator Orlando Drummond, 101, e o compositor Nelson Sargento, 96, baluarte da Estação Primeira de Mangueira, patrimônio do Brasil. O quinteto entrou para uma (ainda modesta) galeria de imagens de esperança da pandemia da Covid-19, que antes de completar um ano já abreviou a vida de quase 230 mil brasileiros. A diversidade contida na inauguração contrasta, contudo, com a predominância feminina e branca nas filas por doses em unidades de saúde das capitais fluminense, paulista e pernambucana. É só olhar.
A assimetria demográfica nos postos de vacinação é tão triste quanto fácil de compreender. No Brasil, envelhecer é luxo, não direito. Há grupos numerosos da população que não se tornam anciãos, em razão de barreiras socioeconômicas a que foram submetidos ao longo da existência — seu Nelson Sargento é revigorante exceção. Doutor em Saúde Pública pela USP e professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí, Alexandre da Silva evoca o conceito de envelhecimento ativo para explicar por que mulheres e, sobretudo, homens negros não alcançam idades mais avançadas. “Estamos falando de envelhecer com segurança, inclusive financeira; saúde; aprendizagem ao longo da vida; participação, não apenas no mercado de trabalho, mas na vida social. Há uma estrutura de iniquidades que abreviam a vida de pessoas negras. São poucos os que chegam aos 80, 90 anos”, observa.
José Eustáquio Alves, sociólogo, mestre em Economia e doutor em Demografia, estimou que, na cidade do Rio, quase dois terços (62,4%) da população de 60 anos ou mais se declaram brancos; pretos e pardos somam 36,9%. Na média geral, brancos são 51,2%, negros 47,9%. Na faixa de 70 a 79 anos, a distância é escancarada: proporção de 71,7% contra 27,8%, respectivamente; de 80 a 89, 74,5% a 25%. Ou seja, para quatro moradores do Rio com mais de 80 anos, três são brancos, apenas um é negro.
Idade, cor da pele, gênero, deficiência, endereço não deveriam ser variáveis determinantes para brasileiros envelhecerem bem. Mas são. Silva, que também é membro do grupo de trabalho Racismo e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), em artigo recente sobre população idosa negra e Covid-19, tratou das razões que atrapalham a longevidade de negros e negras. “Dados publicados em 2017 e 2019, a partir do estudo populacional Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE) com idosos e idosas do município de São Paulo, mostraram que a população negra sofre com as discriminações decorrentes do racismo e do etarismo, dificultando as condições de vida e de saúde”, escreveu. (...)
Na análise étnico-racial, também inviabilizam a longevidade e o bem-viver, más condições de habitação, qualidade da alimentação, acesso à saúde (prevenção e tratamento), escolaridade baixa, ocupação precária, informal e mal remunerada. Na pandemia, a vulnerabilidade de idosos negros aumentou em diferentes grupos sociais e profissionais, como cuidadoras e empregadas domésticas, população em situação de rua, pessoas privadas de liberdade, quilombolas, moradores de favelas e cortiços. E mais, completa Silva: “Por tudo isso, no caso da vacinação, pode haver pessoas negras que deveriam estar na fila, mas não estão porque não têm quem os leve, o que chamamos de insuficiência familiar”. É também conhecida como abandono, solidão. Vida digna na velhice é para poucos no Brasil.
(Disponível em: https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/envelhecer-e-para-poucos.html Acesso em 20 de maio de 2021)
Sabemos que o aumento da expectativa de vida do brasileiro significa um grande avanço em termos sociais e isso tem de ser comemorado. No entanto, o processo de envelhecimento está acompanhado de uma série de fatores, os quais precisam ser rigorosamente observados para que a dignidade dos cidadãos seja mantida também na melhor idade. Considerando esses aspectos e o texto lido, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre a relação entre envelhecimento e cidadania.
Em sua escrita, atente para as seguintes considerações:
1. privilegie a norma culta da língua portuguesa. Eventuais equívocos morfossintáticos, erros de regência, concordância, coesão e coerência, bem como desvios da grafia vigente e a não observância das regras de acentuação serão penalizados;
2. seu texto deverá ter entre 25 (vinte e cinco) a 30 (trinta) linhas escritas à tinta azul ou preta.