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Discursiva
(PROPOSTA DE REDAÇÃO)

Linguagem inclusiva e linguagem neutra: entenda a diferença!

Publicado em 9 de março de 2021

A linguagem inclusiva ou não sexista é aquela que busca comunicar sem excluir ou invisibilizar nenhum grupo e sem alterar o idioma como o conhecemos. Essa linguagem propõe que as pessoas se expressem de forma que ninguém se sinta excluído utilizando palavras que já existem na língua. Um exemplo é algo que escutamos bastante hoje em dia de pessoas que começam seus discursos ou apresentações dizendo “Boa noite a todos e todas”. O objetivo aí é abranger tanto homens como mulheres na conversa.

A linguagem neutra ou não binária, embora tenha o mesmo propósito de incluir a todas as pessoas, apresenta propostas para alterar o idioma e aqui entram por exemplo as novas grafias de palavras como as que mencionamos no início desse texto: amigxs, tod@s, todes. Os maiores defensores dessas mudanças são ativistas do movimento feminista e LGBTQIA+, que veem na nossa língua uma ferramenta a mais para perpetuar desigualdades.

Uma das pessoas nessa luta é o ativista Pri Bertucci, que se considera uma pessoa trans não binária há pelo menos 15 anos. Em seu processo para encontrar seu lugar no mundo e se sentir aceito, ele fundou o instituto SSEX BBOX que há 10 anos trabalha realizando campanhas, eventos e consultorias para promover equidade social e fomentar a diversidade. Uma das ações que o instituto lidera no Brasil é incentivar a comunicação inclusiva de várias formas, como através da criação de um manual de linguagem inclusiva em parceria com a HBO. Em entrevista para o Politize!, Pri conta que sua motivação em trabalhar nesses projetos nasceu de sua trajetória e das dificuldades que enfrentou para se sentir parte da sociedade.

“Quando eu tentava explicar meu gênero para minha família e amigos, ninguém entendia nada. Tive que criar essa linguagem para me explicar, pra dizer quem eu era e como queria ser chamado. Pra eu me sentir visto e respeitado”, relata ele. 

A comunicação inclusiva e o padrão da língua portuguesa 

O português, assim como o espanhol e outros idiomas provenientes do latim, possui fortes marcadores de gênero. Isso quer dizer que mudamos a forma como escrevemos ou falamos algumas palavras do nosso idioma de acordo com o gênero em questão. Isso acontece com os substantivos, adjetivos, artigos e pronomes: falamos meninas e meninos, bonitas e bonitos, eles e elas, e por aí vai. Assim, temos palavras consideradas masculinas e femininas, porém quando queremos falar de forma genérica ou no plural, é o gênero masculino que se considera o correto para representar o todo. Logo, se estamos falando de um grupo composto de meninos, meninas ou mesmo crianças de outros gêneros, o correto segundo a norma da língua é usar “eles” ou “todos” para se referir ao coletivo.

O uso do masculino quando queremos falar de forma genérica é uma regra que foi determinada nos anos 60, por um linguista chamado Joaquim Mattoso Câmara Jr. Nessa matéria do Nexo, a jornalista fala sobre como esse profissional definiu o que até hoje é conhecido como a norma culta da língua portuguesa. Em entrevista ao Politize!, a doutora em linguística Ana Pessotto contou que desde 2016 tem pesquisado sobre a comunicação inclusiva graças ao interesse de suas alunas, que queriam aprender mais sobre a marcação de gênero e o masculino generalizante.

“Foi uma grande descoberta pra mim, como pesquisadora, porque percebi o quanto a linguística formal brasileira estava defasada no que diz respeito ao estudo e descrição da marcação de gênero, pautada ainda no trabalho do Mattoso Câmara que, apesar de genial, é da década 70, quando o trabalho experimental em linguística não era tão difundido como hoje e, principalmente, o debate sobre linguagem inclusiva, se existia, não tinha essa visibilidade toda”, conta a pesquisadora. 

Segundo ativistas da comunicação inclusiva, a forma como falamos, escrevemos e nos comunicamos reproduz nossos valores e crenças. Então, muitos dos estereótipos que conhecemos são validados e perpetuados de forma quase inconsciente. O que afirma esses ativistas é que embora a língua em si não seja sexista, nossa realidade é, logo a forma como nos expressamos reproduz essas desigualdades. Uma frase como “eles são os melhores trabalhadores que temos” não reflete de forma correta a diversidade que o grupo de trabalhadores pode apresentar. Como podemos saber se há mulheres, pessoas não-binárias ou que se identificam de outra forma neste grupo? Será que essas pessoas se sentem representadas por essa generalização? Esses são alguns dos questionamentos que apresentam.

(Disponível em <https://www.politize.com.br/linguagem-inclusiva-e-linguagem-neutra-entenda/> Acesso em 22 fev. 2021)

Texto I

Quais são os argumentos a favor da comunicação inclusiva?

Aqueles que defendem o uso da linguagem neutra e inclusiva acreditam que isso colabora para:

• Denunciar o machismo e a intolerância de gênero;

• Visibilizar e identificar todos os gêneros, inclusive aqueles que se identificam com gêneros neutros;

• Valorizar, respeitar e acolher a diversidade;

• Não privilegiar algumas pessoas em detrimento de outras;

• Gerar reflexão sobre a desigualdade de gênero em outros âmbitos para além da linguagem

Quais são os argumentos contra essas mudanças?

Muitas pessoas defendem que usar essas palavras ou expressões torna a comunicação mais longa e repetitiva. Por exemplo, dizer “todos e todas” leva mais tempo que dizer simplesmente “todos”. Além disso, comentam que as mudanças de grafia com “x” ou “@” tornam a leitura difícil e muitas pessoas com deficiência visual que utilizam programas de leituras de texto se veem afetadas, pois esses softwares não conseguem ler palavras escritas assim.

Da mesma forma, a compreensão também poderia ficar comprometida com o uso de palavras com o sufixo “-e” ou os pronomes exemplificados anteriormente. Textos ou falas que usam essas palavras poderiam ser mais difíceis de entender ou confusos para alguém que não está acostumado.

Em definitiva, os argumentos contrários se baseiam no fato de que o gênero masculino é considerado neutro pela maioria dos órgãos responsáveis por regular os idiomas, como a Academia Brasileira de Letras e a Real Academia Espanhola, logo o masculino inclui a designação de todos os gêneros e nenhuma mudança seria necessária.

(Disponível em <https://www.politize.com.br/linguagem-inclusiva-e-linguagem-neutra-entenda/> Acesso em 22 mar. 2021)


Texto II

Já virou notícia. Ou seria notície? O colégio Liceu Franco-Brasileiro, no Rio, se posicionou em circular para pais e mães: apoia a adoção de estratégias de neutralização de gênero. Mas o que é gênero neutro, afinal? É não fazer distinção entre masculino e feminino na língua portuguesa com a intenção de evitar discriminação, sexismo. 

Dessa forma, aeromoço e aeromoça são substituídos por aeromoce, bombeiro e bombeira por bombeire, e os educadores podem dizer ou escrever “querides alunes”, em vez de generalizar o artigo e o substantivo usando o masculino “queridos alunos”.

Depois de incendiar as redes sociais, onde se espalharam reações que foram do elogio ou deboche à ameaça, o Franco explicou: esse apoio consiste em autorizar que professores e alunos usem a forma de tratamento que quiserem. Não, a escola não vai adotar essa linguagem em seus comunicados nem incluirá no conteúdo ensinado aos estudantes.

Mas a polêmica já estava instalada e foi parar até na Assembleia Legislativa do Rio, onde dois deputados correram para apresentar projeto de lei prevendo “medidas protetivas ao direito dos estudantes do estado do Rio ao aprendizado da Língua Portuguesa, de acordo com as normas cultas”.

Para o Professor Pasquale, estão comprando uma luta perdida:

— A língua, mais cedo ou mais tarde, vai se adaptar à realidade da igualdade, da identidade e da assunção, no sentido de assumir o que se é. É um fenômeno no qual o único timoneiro é o usuário na língua. Os tempos mudam, e as realidades mudam.

Segundo o colégio, o apoio ao gênero neutro é uma reação ao “machismo e ao sexismo no discurso e à inclusão de pessoas não identificadas com o sistema binário de gênero”.

(Disponível em <https://extra.globo.com/mulher/resenhando-mae-de-adolescente/e-fim-do-feminino-do-masculino-no-portugues-pergunte-opiniao-do-seu-filho-24741485.html> Acesso em 22 mar. 2021)


Texto III

A discussão sobre um gênero neutro na linguagem deriva do uso do gênero gramatical masculino para denotar homens e mulheres ("'todos' nessa sala de aula precisam entregar o trabalho") e do feminino específico ("[Clarice Lispector] é incluída pela crítica especializada entre os principais autores brasileiros do século 20"). Na gramática, o uso do masculino genérico é visto como "gênero não marcado", ou seja, usá-lo não dá a entender que todos os sujeitos sejam homens ou mulheres — ele é inespecífico. Por ser algo cotidiano, é difícil pensar nas implicações políticas de empregar o masculino genérico, mas o tema foi amplamente discutido por especialistas como uma forma de marcar a hierarquização de gêneros na sociedade, priorizando o homem e invisibilizando mulheres. O masculino genérico é chamado, inclusive, de "falso neutro". 

Entretanto, essa abordagem não é unânime no campo da Linguística. Para muitos estudiosos, a atribuição sexista ao masculino genéricoignora as origens latinas da língua portuguesa.

No latim havia três designações: feminina, masculina e neutra. As formas neutras de adjetivos e substantivos no latim acabaram sendo absorvidas ora por palavras de gênero masculino. A única marcação de gênero no português é o feminino. O neutro estaria, portanto, junto ao masculino.

(Disponível em < https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/10/07/linguagem-neutra-proposta-de-inclusao-esbarra-em-questoes-linguisticas.htm> Acesso em 22 mar. 2021)

Com base nos textos de apoio e em seus conhecimentos gerais, construa um texto dissertativo-argumentativo, em terceira pessoa, de 25 (vinte e cinco) a 30 (trinta) linhas, sobre o tema :

“Linguagem neutra e linguagem inclusiva”

OBSERVAÇÕES:

1. Aborde o tema sem se restringir a casos particulares ou específicos ou a uma determinada pessoa.

2. Formule uma opinião sobre o assunto e apresente argumentos que defendam seu ponto de vista, sem transcrever literalmente trechos dos textos de apoio.

3. Não se esqueça de atribuir um título ao texto.

4. A redação será considerada inválida (grau zero) nos seguintes casos:

–Texto com qualquer marca que possa identificar o candidato;

– Modalidade diferente da dissertativa;

– Insuficiência vocabular, excesso de oralidade e/ou graves erros gramaticais;

– Constituída de frases soltas, sem o emprego adequado de elementos coesivos;

– Fuga do tema proposto;

– Texto ilegível;

– Em forma de poema ou outra que não em prosa;

– Linguagem incompreensível ou vulgar;

– Texto em branco ou com menos de 17 (dezessete) ou mais de 38 (trinta e oito) linhas; e