(PROPOSTA DE REDAÇÃO)
Saúde mental e a juventude: por que é preciso falar sobre isso?
Por Flávia Bedicks, Maria Luiza Kellermann
Patricinha. Fraca. Mimimi. Não sabe brincar, não desce para o play. Esses foram alguns dos comentários que circularam nas redes sociais quando Simone Biles, a querida ginasta americana, anunciou que não continuaria na competição olímpica para cuidar de sua saúde mental.
Se Biles tivesse torcido o tornozelo ou quebrado a perna, certamente sairia da competição como Neymar saiu da Copa em 2014, quando lesionou a costela: compreendido e amparado, não só pela equipe de médicos e técnicos, como também pela torcida brasileira. No entanto, o fato da lesão de Biles ser imperceptível a olho nu, fez com que muitos questionassem sua legitimidade.
Para alguns, Biles simplesmente fracassou. Para outros, Biles levantou uma bandeira que, há muito é criticada ou mal-interpretada, mas que se faz cada vez mais urgente: saúde mental.
Mas afinal, o que é saúde mental?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, saúde mental é “um estado de bem- estar em que uma pessoa nota suas habilidades, e é capaz de executá-las frente aos estresses normais da vida, de trabalhar de forma produtiva e de contribuir com sua comunidade. A saúde mental é fundamental para a nossa habilidade coletiva e individual de pensar, sentir, interagir um com os outros, e aproveitar a vida.”
Saúde mental tem a ver com autoconhecimento, autocuidado, equilíbrio, bem-estar. Tem a ver com limites, resiliência, saber (e poder!) dizer não. A saúde mental também tem a ver com preservar a integridade do corpo e mente para sobreviver, alcançar objetivos, conquistar sonhos e cumprir propósito – uma busca constante para as juventudes, e uma palavra da moda para Millennials e Geração Z!
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Saúde mental tem a ver com desigualdades
Quando falamos de saúde mental das juventudes brasileiras é preciso compreender que há marcadores sociais, políticos e econômicos que atravessam e desigualam as possibilidades de manutenção dessa saúde. Principalmente em uma conjuntura de pandemia, onde as juventudes de baixa renda, além de sofrerem com o isolamento social, são fortemente impactadas por outros problemas sociais como ausência de renda familiar, desocupação ou informalidade, desamparo, negligência e muitas vezes violência doméstica.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua, o Brasil possui mais de 30% da sua juventude sem oportunidade de estudo ou trabalho. E dentre aqueles que possuem a oportunidade escolar, um a cada cinco estudantes sofre violência sexual, conforme Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar.
Segundo dados da Pesquisa Juventudes e a Pandemia, realizada pelo Conselho Nacional da Juventude, desde 2020 há uma tendência de aumento de jovens que não estão trabalhando, sendo que 30% deles dizem estar nessa situação de trabalho como resultado da pandemia.
Nesse cenário, a busca por complementação de renda também cresceu, ao mesmo tempo em que houve a extinção do auxílio emergencial. Por isso, aumentou para 38% a proporção de jovens que buscou complementar sua renda por necessidade em 2021 comparado aos 23% em 2020. Entre os jovens pretos esse índice é maior: 47%.
Podendo ser o trabalho um fator protetivo frente a promoção da saúde mental, a falta de oportunidades no mercado de trabalho para essa juventude traz malefícios para a saúde psicológica desses jovens, que, em muitas casos, encontram na informalidade o único caminho. Com isso, características presentes no mercado de trabalho informal como baixos salários, incerteza sobre a situação do trabalho, ausência de benefícios sociais e de proteção da legislação trabalhista comprometem ainda mais a saúde mental dessa juventude.
No mercado formal, a juventude também pede ajuda!
Uma pesquisa realizada pela MindShare Partners, em 2019, reportou que 50% dos Millennials e 75% dos jovens da Geração Z já deixaram uma posição de trabalho por conta de sua saúde mental, tanto de maneira voluntária como involuntária.
Dados da Deloitte revelaram que, desde o início da pandemia, apesar de 48% dos Millennials e Gen Zs se sentirem mais estressados, a maioria dos seus superiores não sabem deste sentimento. A cada dez jovens, seis admitiram que não falaram sobre sua ansiedade ou aumento de estresse com seus gestores diretos.
A necessidade por sobrevivência (renda), a falta de apoio ou compreensão entre gerações, o estigma que permeia o tema, e o tabu que ainda é falar sobre saúde mental (ou a falta dela) faz com que muitos jovens cheguem ao limite, sofrendo com crises de ansiedade, uso excessivo de redes sociais, ou sofrendo com a síndrome de burnout.
Saúde mental das juventudes para além do mercado de trabalho
Falar sobre saúde mental de jovens não engloba apenas os que trabalham. De maneira mais abrangente, a Pesquisa Juventudes e a Pandemia trazem um recorte do impacto da pandemia na situação emocional de todas as juventudes brasileiras. De acordo com o relatório, 61% dos jovens relataram ter ansiedade, 56% usou redes sociais de modo exagerado, e 51% relatou exaustão e/ou cansaço constante. Ainda, 9% das juventudes indicaram terem tido pensamento suicida e/ou cometido automutilação durante a pandemia.
Questionados sobre o porquê não buscavam ajuda, alguns jovens relataram dificuldades em custear o atendimento psicológico necessário, ou em acessar o sistema público de saúde.
O que podemos aprender com as novas gerações sobre saúde mental?
Na mesma medida em que as novas gerações estão mais propensas a apresentarem doenças mentais, a discussão sobre saúde mental que vem sendo levantada pela juventude é um importante passo para a desestigmatização do tema.
Diferente das gerações anteriores, onde possuir estabilidade era sinônimo de passar o máximo de tempo possível no escritório, as gerações mais novas, como os Millennials e a Z, consideram que ter estabilidade é ter saúde mental, sendo o caso de Biles uma consequência disso. O legado que a nova juventude deixa é de não tratar a saúde mental mais como um tabu mas como algo essencial para o sucesso tanto na vida pessoal quanto na profissional.
Segundo dados do relatório de Estresse na América: Geração Z, divulgado pela American Psychiatric Association, as gerações mais jovens são significativamente mais propensas a receber ou ter recebido tratamento ou terapia de um psicólogo ou outro profissional de saúde mental, com mais de um terço da Geração Z (37%) e dos Millennials (35%) relatando que receberam essa ajuda.
Com isso, a consciência sobre as questões de saúde mental e a normalização do tratamento de saúde mental nessas gerações cresceu, de modo que o que antes poderia ser ignorado e muitas vezes tratado como “mimimi” e frescura hoje é reconhecido como um problema e tratado como tal.
Um fator que contribui para essa maior conscientização sobre saúde mental da Geração Z e dos Millennials foram as mídias sociais e a internet, onde os jovens possuem uma maior conexão com outras pessoas com histórias parecidas, como a de Simone Biles, e um sentimento de apoio social por meio de conexões online, fazendo com que essas gerações falem mais abertamente sobre suas lutas de saúde mental em relação às anteriores.
A discussão sobre saúde mental aberta pelas novas juventudes e o caso de Simone Biles mostra como a conscientização e desestigmatização desse tema são necessidades emergentes – agravadas ainda mais em tempos de pandemia. O conhecimento de cada um sobre seus limites, a busca por ajuda profissional e a seriedade com que as doenças mentais devem ser tratadas – da mesma maneira que as doenças físicas e não mais como um “mimimi” – são alguns dos passos fundamentais para que a saúde mental da juventude seja cada vez menos posta em risco.
Referências:
Organização Mundial da Saúde – Saúde Mental
Ministério da Economia – Nota Técnica “Juventude e informalidade no Brasil: é possível reduzir as barreiras à entrada no mercado formal de trabalho?”
IBGE – Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua
IBGE – Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar
CONJUVE – Pesquisa Juventudes e a Pandemia
Mind Share Partners – Mental Health at Work 2019 Report
Deloitte – Millennials and Generation Z: making mental health at work a priority
APA – Stress in America Generation Z
Disponível em: <https://www.politize.com.br/saude-mental-e-a-juventude/ >. Acesso em 18/04/2022
Com base no texto de apoio, no texto da prova e em seus conhecimentos gerais, construa um texto dissertativo-argumentativo, em terceira pessoa, de 25 (vinte e cinco) a 30 (trinta) linhas, sobre o tema:
“A nova geração tem deixado o seu legado: a desestigmatização da saúde mental é urgente.”
OBSERVAÇÕES:
1. Aborde o tema sem se restringir a casos particulares ou específicos ou a uma determinada pessoa.
2. Formule uma opinião sobre o assunto e apresente argumentos que defendam seu ponto de vista, sem transcrever literalmente trechos dos textos de apoio.
3. Não se esqueça de atribuir um título ao texto.
4. A redação será considerada inválida (grau zero) nos seguintes casos:
– texto com qualquer marca que possa identificar o candidato;
– modalidade diferente da dissertativa;
– insuficiência vocabular, excesso de oralidade e/ou graves erros gramaticais;
– constituída de frases soltas, sem o emprego adequado de elementos coesivos;
– fuga do tema proposto;
– texto ilegível;
– em forma de poema ou outra que não em prosa;
– linguagem incompreensível ou vulgar;
– texto em branco ou com menos de 17 (dezessete) ou mais de 38 (trinta e oito) linhas; e
- uso de lápis ou caneta de tinta diferente da cor azul ou preta.
5. Se sua redação tiver entre 17 (dezessete) e 24 (vinte e quatro) linhas, inclusive, ou entre 31 (trinta e uma) e 38 (trinta e oito) linhas, também inclusive, sua nota será diminuída, mas não implicará grau zero.